Mariana – Moradores que perderam tudo no desastre de Mariana, na Região Central de Minas, estão tendo a chance de recuperar parte da memória de um passado que acreditavam estar totalmente enterrado pela lama. A pedido das vítimas, fotógrafos profissionais e donos de estúdio da cidade histórica estão conseguindo recuperar negativos antigos de fotografias e reconstituindo álbuns de casamentos, batizados e festas de 15 anos de antigos clientes dos subdistritos de Paracatu de Baixo e Bento Rodrigues.
Élcio Rocha, de 52 anos, que é fotógrafo desde os 15, já foi procurado por sete pessoas. Por sorte, os negativos de cinco delas haviam sido salvos de uma infiltração que danificou grande parte do arquivo, há seis anos. Todo o material está identificado por nomes e datas. Os álbuns de casamento serão refeitos e doados pelo fotógrafo, que decidiu não cobrar nada pelo trabalho. “Tudo que eu puder fazer para diminuir um pouco a dor dessas pessoas, vou fazer. Se esse tipo de recordação não tem preço para elas, para mim também não vai ter”, disse Élcio.
Na pressa de fugir da lama, o marido dela, o lavrador José Geraldo Marcelino, de 42, saiu correndo usando apenas uma bermuda, sem camisa. A filha do casal, Luciele Aparecida, só se preocupou em salvar a sua máquina fotográfica digital, com as últimas fotografias que havia feito do lugar. “O sonho dela sempre foi ser jornalista”, disse a mãe, demonstrando orgulho.
EMOÇÃO O casamento de Luciene foi registrado por dois fotógrafos na cidade, Élcio Rocha e Maria Clara Celestino Souza. A esperança dela é que os seus negativos ainda estejam com Élcio. Já Maria Clara abandonou a profissão há dois anos para abrir uma ótica. “Infelizmente, me desfiz de todo o material”, lamenta ela, que jogou fora 40 anos de histórias.
Élcio conta que desde 2005 começou a fazer apenas fotos digitais e que todo esse material está preservado. O fotógrafo, que é dono de um estúdio na Rua Direita, no Centro de Mariana, se emociona ao falar sobre a recuperação das fotos: “Recuperar uma parte da memória dessas pessoas é muito gratificante para mim. Estou muito feliz em saber que vou conseguir reconstruir para da história de vida dessas pessoas. Carro, casa, tudo isso que perderam eles conseguem adquirir de novo, mas memória a gente não imprime”.