Jornal Estado de Minas

Como será o amanhã?

Reparação dos estragos em Mariana e no Rio Doce pode durar uma década


Uma longa missão de recuperação, de alto custo, com ações que vão exigir sucessivos anos de comprometimento, público e privado. Essa foi uma das poucas certezas que ficaram depois das 16h20 de 5 de novembro, quando a Barragem do Fundão estourou, em Mariana, na Região Central de Minas. De lá até a foz do Rio Doce, no Espírito Santo, a enxurrada de 55 milhões de metros cúbicos de rejeitos de minério fez vítimas, causou prejuízos em escala ainda não estimada e deixou um imenso rastro de devastação. Passado um mês da tragédia, autoridades trabalham para cobrar da Samarco, proprietária da barragem, e de suas controladoras, as gigantes Vale e a anglo-australiana BHP, reparação dos estragos. Com a catástrofe ambiental ainda se expandindo, encontrar uma solução humanitária para as mais de 700 pessoas atingidas – muitas delas ainda vivendo em hotéis – é a medida mais urgente. A médio prazo, o desafio é evitar ainda mais devastação no Rio Doce. Mas chegar perto da recuperação de toda a bacia hidrográfica é tarefa bilionária, para pelo menos uma década.


Especialistas explicam ainda que a recuperação vai exigir diferentes medidas, a depender da localização do estrago. “Obviamente, nas áreas de montante (mais próximas da barragem), mais impactadas, onde os rejeitos passaram com volume e velocidade maiores, a recuperação será mais lenta.
Até porque os resíduos extrapolaram a calha dos rios Gualaxo do Norte e do Carmo, e ainda há muito sedimento nas margens”, explica o professor Paulo Cesar Rosman, do Departamento de Recursos Hídricos e Meio Ambiente da Universidade Federal do Rio de Janeiro, que tem estudos sobre a Bacia do Rio Doce. Nos trechos seguintes, no médio Rio Doce, onde há três usinas hidrelétricas que contiveram parte dos sedimentos, o prazo para restauração deve ser um pouco menor. Na foz, é possível que, passado o período chuvoso, em abril, a água retome os índices normais de turbidez e oxigenação, com a sedimentação da lama e de metais pesados, como chumbo, ferro, alumínio e manganês, afirma o professor. Esses elementos ainda estão acima dos limites toleráveis, segundo relatório do Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam), divulgado no último dia 30.


O início do desafio ambiental, segundo a presidente do Ibama, Marilene Ramos, é conter o resíduo de rejeitos que ficou na área da barragem estourada, além de reduzir o volume que sobrecarrega o reservatório de Santarém. A estrutura, também da Samarco, foi afetada pela lama no dia do rompimento. “O objetivo é evitar novos carreamentos, principalmente porque estamos em pleno período de chuva”, afirma. Segundo ela, a empresa se comprometeu a construir diques drenantes, em 90 dias, para essa finalidade.

Será preciso ainda remover e destinar adequadamente o rejeito que extravasou a calha dos cursos d’água em cerca de 70 quilômetros de áreas de preservação permanente, para regeneração da flora e melhoria da turbidez da água. Além disso, “é preciso manter o trabalho de proteção da ictiofauna e também das tartarugas marinhas e mamíferos aquáticos na área costeira”, lista Marilene.


O custo de R$ 20 bilhões para a recuperação da Bacia do Rio Doce foi estimado em ação civil pública ajuizada pela Advocacia-Geral da União (AGU), em conjunto com os estados de Minas Gerais e Espírito Santo. Segundo a presidente do Ibama, a restauração dos processos ecológicos, como crescimento de vegetação até a idade adulta e repovoamento da fauna, pode exigir 10 anos, “embora não seja possível prever quando o meio ambiente vai resgatar sua condição de normalidade.”

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