Comemorar aniversário é festejar a vida e receber convidados. E, para isso, nada melhor que ter uma sala de visitas que não só recepcione, acolha e seduza os que chegam, mas também os faça voltar. Pois Belo Horizonte, às vésperas de completar 118 anos, tem duas, ambas na Área Central: a feira de artesanato, fundada em 1969 na Praça da Liberdade e desde 1991 transferida para a Avenida Afonso Pena, e o Mercado Central, que funciona há 85 anos na Avenida Augusto de Lima, mas começou a operar na prática três anos antes da criação da capital mineira. E como boas salas de visitas, as duas atrações turísticas colhem não só os hóspedes, mas também moradores.
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Feira hippie passa a funcionar com novo leiaute a partir do próximo domingo Área que abriga o Mercado Central foi o primeiro campo gramado de Minas Gerais Mercado Central faz aniversário e tem domingo de festaÀs vésperas de mais um aniversário, BH festeja nas praças vocação para convivênciaParques de Belo Horizonte promovem convívio e harmonia com a naturezaProfessores divulgam fotos da Escola Municipal Bento Rodrigues antes de tragédiaE essa sintonia atravessa gerações. Que o digam Raquel da Conceição Monteiro dos Santos, de 31 anos, e sua mãe, Verônica Conceição Monteiro, de 65.
“Fui criada na feira de artesanato. Aprendi a fazer tudo com minha mãe”, diz Verônica. “A feira é tudo, estando boa ou ruim. E não só porque vendemos muito acarajé. Isto aqui é um ponto turístico, vem muita gente de fora, todo mundo se encontra.
A pedagoga Rafaelle de Oliveira Silva, de 30, afirma que tem uma relação de muito carinho com a Feira Hippie, porque em sua família é tradição comprar no local. Ela saiu de ônibus de Santa Luzia às 7h, para chegar à feira às 8h. “Há muito tempo não vinha, mas adoro comprar aqui. Há uma grande variedade de produtos de qualidade sendo expostos”, disse ela, que comprou bolsa, sapato, bijuterias e dois presentes para crianças. “Fico encantada mesmo é com as bonecas”, admite.
Maria Helena de Moro, de 70, que mora no Barreiro de Baixo, começou na feira vendendo chinelos de pano, que eram expostos no chão, ainda nos tempos da Praça da Liberdade. Hoje, vende também rasteirinhas, que ela mesma fabrica.
DIVERSIDADE Paixão que também está nas bancas e corredores do Mercado Central. É lá que o representante comercial Fernando Freitas, de 54, e sua mulher, a assistente social Simone Freitas, que moram no Bairro Coração Eucarístico, fazem compras na Queijaria do Noé. Fregueses habituais, eles visitam o mercado todos os domingos e já são conhecidos de muitas barracas, de onde costumam levar para casa biscoito, pimenta, linguiça, biscoitos e bacalhau. “Compramos sempre nos mesmos lugares. Todo mundo já nos conhece, a gente faz muitas piadas e brincadeiras”, afirma Fernando. Para o casal, o mercado é a cara de Minas Gerais e de Belo Horizonte, tanto pelos produtos que oferece como pelos tira-gostos.
A pedagoga Rosalina Mendes Gomes, de 52, e o marido, o contador João Gomes, de 54, vieram de Mato Grosso do Sul e moram em BH há um ano. De lá para cá, também frequentam o mercado aos domingos para comprar frutas e carnes. Os dois ouviram um amigo mineiro falar do local quando moravam em Santa Catarina e, ao chegar à capital mineira, fizeram questão de conhecer o espaço.
Dos picolés à presidência
José Agostinho Oliveira Quadros, de 65 anos, é presidente do Mercado Central, onde é conhecido como Nem. Dono da Loja do Nem, que vende utensílios domésticos além de, como ele próprio define, "todo tipo de bugigangas", ele tem no mercado a sua principal referência de vida. Quem o vê todo alinhado, atendendo os fregueses, não imagina que o local representa para ele. Um dos mais velhos de uma família extremamente pobre, composta por 22 filhos, Nem recebeu do pai, aos 12 anos, a determinação de que se mudasse para Belo Horizonte para ajudar em casa. Como o dinheiro só deu para pagar a passagem até o Bairro Vianópolis, em Betim, José Agostinho teve de percorrer o resto do trajeto a pé.
Aos 13 anos, conseguiu um emprego, mas trabalhava descalço, pois não tinha sapato. Depois, alugou uma lojinha, cresceu, virou conselheiro e, mais tarde, diretor. Hoje é o chefe do Mercado Central. “Todos acham que o mercado tem 85 anos, mas, na verdade, ele nasceu da fusão entre as feiras da Amostra e da Praça da Estação. Com a união das duas feiras, formou-se o Mercado Municipal, que, em 1964, foi leiloado para os comerciantes”, lembra..