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Estado de Minas

Feiras de BH confirmam fama da cidade e recebem turistas e moradores

Feira de artesanato na Avenida Afonso Pena e Mercado Central acolhem público, fazendo a reputação de Belo Horizonte, prestes a comemorar mais um aniversário, se espalhar pelo país


postado em 07/12/2015 06:00 / atualizado em 07/12/2015 08:10

Vindos do Mato Grosso do Sul, Rosalina e o marido, João Gomes, encontram no mercado uma síntese dos mineiros(foto: Cristina Horta/EM/D.A Press)
Vindos do Mato Grosso do Sul, Rosalina e o marido, João Gomes, encontram no mercado uma síntese dos mineiros (foto: Cristina Horta/EM/D.A Press)
Comemorar aniversário é festejar a vida e receber convidados. E, para isso, nada melhor que ter uma sala de visitas que não só recepcione, acolha e seduza os que chegam, mas também os faça voltar. Pois Belo Horizonte, às vésperas de completar 118 anos, tem duas, ambas na Área Central: a feira de artesanato, fundada em 1969 na Praça da Liberdade e desde 1991 transferida para a Avenida Afonso Pena, e o Mercado Central, que funciona há 85 anos na Avenida Augusto de Lima, mas começou a operar na prática três anos antes da criação da capital mineira. E como boas salas de visitas, as duas atrações turísticas colhem não só os hóspedes, mas também moradores.

A Feira Hippie, como também é conhecida, tornou-se uma das maiores da América Latina, recebendo anualmente milhões de pessoas. O Mercado Central foi leiloado pelo município em 1964 e, arrematado por comerciantes, transformou-se no único que não está nas mãos do poder municipal. Mesmo particular, acaba de ser incluído oficialmente no roteiro turístico de BH. Mas os números e características superlativos nem são as mais importantes marcas dessas duas atrações, que acabaram se consolidando como locais de encontro que, a um só tempo, marcam a vida da cidade e das pessoas.

E essa sintonia atravessa gerações. Que o digam Raquel da Conceição Monteiro dos Santos, de 31 anos, e sua mãe, Verônica Conceição Monteiro, de 65. Elas são, respectivamente, neta e filha da baiana que levou o acarajé para a Feira Hippie, Inácia da Conceição Monteiro, já falecida. “Antes que a feira fosse regulamentada na Praça da Liberdade, minha avó vendia acarajé no tabuleiro, correndo dos fiscais”, conta Raquel. De lá para cá, a barraca de acarajé, que vende cerca de 500 unidades a cada domingo, se consolidou como atração do local.

“Fui criada na feira de artesanato. Aprendi a fazer tudo com minha mãe”, diz Verônica. “A feira é tudo, estando boa ou ruim. E não só porque vendemos muito acarajé. Isto aqui é um ponto turístico, vem muita gente de fora, todo mundo se encontra. Pessoas que a gente não vê há muitos anos de repente aparecem”, explica Raquel. Gente como a biomédica Rebeca de Paula Martins, de 24 anos, que foi comprar bijuterias, calçados, roupas e, de quebra, provar um acarajé. “É impressionante como o preço dos mesmos produtos é mais em conta aqui”, disse, depois de gastar R$ 150.

A pedagoga Rafaelle de Oliveira Silva, de 30, afirma que tem uma relação de muito carinho com a Feira Hippie, porque em sua família é tradição comprar no local. Ela saiu de ônibus de Santa Luzia às 7h, para chegar à feira às 8h. “Há muito tempo não vinha, mas adoro comprar aqui. Há uma grande variedade de produtos de qualidade sendo expostos”, disse ela, que comprou bolsa, sapato, bijuterias e dois presentes para crianças. “Fico encantada mesmo é com as bonecas”, admite.

Maria Helena de Moro, de 70, que mora no Barreiro de Baixo, começou na feira vendendo chinelos de pano, que eram expostos no chão, ainda nos tempos da Praça da Liberdade. Hoje, vende também rasteirinhas, que ela mesma fabrica. “Todo domingo a gente levanta às 4h para chegar aqui às 6h. Mas, para mim, a feira não é só trabalho, mas também lazer. Converso com minhas colegas, me distraio, amo isto aqui de paixão”, declara.

DIVERSIDADE Paixão que também está nas bancas e corredores do Mercado Central. É lá que o representante comercial Fernando Freitas, de 54, e sua mulher, a assistente social Simone Freitas, que moram no Bairro Coração Eucarístico, fazem compras na Queijaria do Noé. Fregueses habituais, eles visitam o mercado todos os domingos e já são conhecidos de muitas barracas, de onde costumam levar para casa biscoito, pimenta, linguiça, biscoitos e bacalhau. “Compramos sempre nos mesmos lugares. Todo mundo já nos conhece, a gente faz muitas piadas e brincadeiras”, afirma Fernando. Para o casal, o mercado é a cara de Minas Gerais e de Belo Horizonte, tanto pelos produtos que oferece como pelos tira-gostos.

A pedagoga Rosalina Mendes Gomes, de 52, e o marido, o contador João Gomes, de 54, vieram de Mato Grosso do Sul e moram em BH há um ano. De lá para cá, também frequentam o mercado aos domingos para comprar frutas e carnes. Os dois ouviram um amigo mineiro falar do local quando moravam em Santa Catarina e, ao chegar à capital mineira, fizeram questão de conhecer o espaço. “Morando fora do nosso estado natal, convivemos com muitos mineiros e a referência de todos eles é o Mercado Central. Um deles tem aqui o seu ponto de encontro com os amigos”, diz João. “Tivemos uma impressão muito boa desde a primeira vez que viemos. Aqui é possível encontrar uma variedade de produtos, frutas e legumes. Além do mais, somos sempre muito bem atendidos. O povo mineiro é muito cativante”, completa Rosalina, mais que à vontade na sala de visitas dos belo-horizontinos.

Dos picolés à presidência


José Agostinho Oliveira Quadros, de 65 anos, é presidente do Mercado Central, onde é conhecido como Nem. Dono da Loja do Nem, que vende utensílios domésticos além de, como ele próprio define, "todo tipo de bugigangas", ele tem no mercado a sua principal referência de vida. Quem o vê todo alinhado, atendendo os fregueses, não imagina que o local representa para ele. Um dos mais velhos de uma família extremamente pobre, composta por 22 filhos, Nem recebeu do pai, aos 12 anos, a determinação de que se mudasse para Belo Horizonte para ajudar em casa. Como o dinheiro só deu para pagar a passagem até o Bairro Vianópolis, em Betim, José Agostinho teve de percorrer o resto do trajeto a pé. “Cheguei e fui morador de rua por 90 dias. Foi então que conheci esse paraíso que é o mercado”, lembra. Nessa época, Nem já vendia picolé e chegou a ser expulso do local pelo fiscal, mas não desistiu. Voltou e passou a carregar caixotes de um lado para o outro.

Aos 13 anos, conseguiu um emprego, mas trabalhava descalço, pois não tinha sapato. Depois, alugou uma lojinha, cresceu, virou conselheiro e, mais tarde, diretor. Hoje é o chefe do Mercado Central. “Todos acham que o mercado tem 85 anos, mas, na verdade, ele nasceu da fusão entre as feiras da Amostra e da Praça da Estação. Com a união das duas feiras, formou-se o Mercado Municipal, que, em 1964, foi leiloado para os comerciantes”, lembra.


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