Todo cuidado é pouco para não danificar ainda mais o patrimônio sacro de Bento Rodrigues, Paracatu e outras localidades de Mariana, na Região Central, atingidas pela lama de minério de ferro que vazou da Barragem do Fundão, da mineradora Samarco. Conforme termo de ajustamento de conduta (TAC) firmado entre o Ministério Público de Minas Gerais e a empresa controlada pela Vale e BHP Billiton, todas as pessoas que estão trabalhando na área, com exceção dos arqueólogos, devem passar por um treinamento.
Leia Mais
Atingidos por lama da Samarco viram prisioneiros da tragédiaReparação dos estragos em Mariana e no Rio Doce pode durar uma décadaEstado de Minas trabalha para tragédia não cair no esquecimentoPrimeira catedral de Minas, em Mariana, será restauradaSem preservação, patrimônio cultural sofre com os efeitos da chuva em Minas Lama da Samarco também atingiu mina de ouro centenária e ruínas de fazenda colonial Totens com dados sobre imóveis, famílias e visitantes ilustres serão instalados em BHLama arrasta peças sacras de Bento Rodrigues por 120 quilômetrosProfessores divulgam fotos da Escola Municipal Bento Rodrigues antes de tragédiaPresidente da Samarco reclama de contas bloqueadas e fala em prazosBuscas por desaparecidos são reduzidas em MarianaA medida segue normas da instituição internacional de proteção dos bens culturais Escudo Azul (em inglês, Blue Shield), que, em seu setor, faz um trabalho semelhante ao da Cruz Vermelha Internacional em ajuda humanitária. Em Mariana, o TAC põe em prática o protocolo internacional de procedimentos para enfrentar desastres com prejuízos para o patrimônio histórico, que trata do resgate e proteção da herança cultural dos países.
Aos poucos, parte da história de Bento Rodrigues, o subdistrito soterrado e mais atingido há um mês, começa a emergir da lama. Na quinta-feira, quatro peças pertencentes à antiga Igreja de São Bento foram resgatadas pela equipe de arqueólogos que atua na área onde existiu o templo colonial, marco do antigo arraial fundado por um bandeirante. Segundo Souza Miranda, fazem parte do acervo duas almofadas da porta principal, o fragmento de um banco, possivelmente da sacristia, e o anjo de madeira de um altar.
CONFIANÇA O trabalho, com acompanhamento do Corpo de Bombeiros, é o primeiro resultado do TAC assinado segunda-feira. Pelo documento, a mineradora assume o compromisso de adotar medidas emergenciais para preservar o patrimônio cultural e sacro de Bento Rodrigues e das comunidades igualmente afetadas de Paracatu, também em Mariana, e Gesteira, em Barra Longa, na Zona da Mata. De acordo com o promotor, há ainda uma pia batismal enterrada no terreno, que deverá ser resgatada.
“Estamos confiantes em encontrar mais peças no meio da lama, pois essas foram localizadas apenas três dias após a assinatura do TAC”, disse o promotor.
TAPUMES "O que não for encontrado pelos arqueólogos terá que ser indenizado pela mineradora à sociedade mineira", avisa Souza Miranda, mantendo a esperança de que seja localizada a imagem de São Bento, padroeiro do vilarejo que tinha cerca de 600 moradores. Ele acrescenta que o termo de ajustamento de conduta inclui outras localidades, como Paracatu de Baixo, onde o patrimônio cultural foi danificado. “Todas as igrejas estão sendo cercadas de tapumes, com exceção de Gesteira, em Barra Longa, que está sem acesso”, afirma. Souza Miranda destaca que, antes do prazo de 30 dias dado à empresa para tomar providências, já estão sendo colhidos frutos.
Riqueza cultural resgatada em Mariana
Em 19 de novembro, duas semanas após a “maior tragédia para o patrimônio cultural do estado em toda a história”, como define o promotor de Justiça e titular da Coordenadoria das Promotorias de Justiça do Patrimônio Cultural e Turístico de Minas Gerais (CPPC), Marcos Paulo de Souza Miranda, o MP informou sobre o resgate, por medida de segurança, de 310 peças (imagens, cálices, instrumentos litúrgicos e outros objetos de fé) da Igreja de Nossa Senhora das Mercês (260 peças), na parte mais alta de Bento Rodrigues, da Matriz de Santo Antônio (39), no distrito de Paracatu de Baixo, e da Igreja de Nossa Senhora da Conceição (11 peças), no distrito de Gesteira, em Barra Longa, na Zona da Mata. Nesse trabalho, o MP tem a parceria do Centro de Conservação e Restauração de Bens Culturais Móveis da Escola de Belas Artes da Universidade Federal de Minas Gerais (Cecor/EBA/UFMG)..