Mariana – Depois de a Polícia Civil anunciar que quatro corpos ainda sem identificação de vítimas da tragédia de Mariana foram oficialmente reconhecidos, elevando o número de mortos para 15 e reduzindo a contabilidade de desaparecidos para quatro, o Corpo de Bombeiros começa a dar indícios de redução do ritmo dos trabalhos de busca por corpos. Embora a corporação garanta que manterá a mobilização até que todos sejam encontrados ou que se esgotem as possibilidades, a estrutura de trabalho começou a mudar sexta-feira. O comando unificado em um posto avançado de Mariana foi transferido para o quartel em Ouro Preto e ficará a cargo da 3ª Companhia, sediada na cidade histórica, com retorno dos oficiais de alta patente para Belo Horizonte. As dificuldades para encontrar todas as pessoas vitimadas por rompimentos de barragem é comum em desastres do tipo, o que aumenta a angústia das famílias. Em acidente em Nova Lima, na Grande BH, em 2001, um dos cinco mortos nunca foi encontrado. Já no ano passado, dos três trabalhadores soterrados pelo rompimento de outra barragem em Itabirito, na Região Central, um só foi encontrado dois meses depois.
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O tenente Júlio Cesar admite que a chance de encontrar mais corpos diminuiu. “Neste momento, aumenta nosso nível de dificuldade em função da área buscada. Infelizmente, já está mais difícil encontrar alguém, tecnicamente falando”, afirma o militar. Atualmente, as buscas se baseiam muito em informações, que norteiam a posição dos militares e os trabalhos de escavação da lama. Fontes dos bombeiros ouvidas pela reportagem confirmam que a atual movimentação indica um início de desmobilização nas buscas, em face do longo tempo decorrido, da redução do número de vítimas ainda não encontradas e do grau de dificuldade cada vez maior para localização.
Oficialmente, o major Rubem da Cruz, assessor de comunicação dos Bombeiros, confirma o retorno de militares da capital mineira, mas nega que exista alguma movimentação para desmobilizar os trabalhos de busca por desaparecidos.
O drama de uma irmã
O maior medo da aposentada Judite Souza Caetano, de 67 anos, é de que os bombeiros abandonem as buscas e o irmão dela nunca seja encontrado. O aposentado Antônio Prisco de Souza, de 65, vivia sozinho em uma casa no ponto mais destruído pela lama, em Bento Rodrigues. Ele é o único morador do distrito ainda não localizado. Os demais são trabalhadores a serviço da Samarco. “É muito triste. Pior do que perder tudo que a gente tinha é perder um irmão.
Judite afirma que seu maior desejo agora é fazer um enterro cristão para o irmão. “Preciso achar ele e desligar esse pensamento da minha cabeça. Vivo, eu sei que ele não está. Só quero achar o corpo, ter um pouco mais de alívio. Meu sofrimento nunca vai acabar, mas pelo menos vou saber de verdade o fim do meu irmão e acabar com essa angústia que me machuca ainda mais”, disse a aposentada, que está vivendo com outras pessoas da família na Pousada Rainha dos Anjos, em Mariana. Além de Antônio, ainda estão desaparecidos Ailton Martins dos Santos, de 55, Vando Maurílio dos Santos, de 37, e Edmirson José Pessoa, de 48. Os três eram funcionários terceirizados..