O tenente Júlio Cesar Teixeira, comandante do 1º Pelotão da 3ª Companhia dos Bombeiros de Ouro Preto, diz que houve uma avaliação técnica e a conclusão das autoridades foi que não havia mais a necessidade de manter a estrutura montada de forma conjunta em Mariana. “A demanda agora está sendo menor, então não tem por que manter aquela estrutura, podemos liberar alguns recursos militares para retornar às atividades de rotina. A estrutura montada já tinha um mês, e ela tem a possibilidade de ir aumentando ou diminuindo conforme a demanda”, afirmou.
Até quarta-feira, 32 bombeiros de Ouro Preto, Ponte Nova e do Batalhão de Emergências Ambientais e Respostas a Desastres (Bemad) continuam as buscas esquadrinhando a lama entre o ponto de rompimento da Barragem do Fundão e as comunidades de Bento Rodrigues e Camargos. Na quarta-feira, quando vence o turno de atuação da atual equipe empenhada do Bemad, nova reunião vai definir os rumos dos trabalhos. O número de militares chegou a 115 no momento de maior intensidade das buscas, mas caiu para 42 com a liberação de alunos da academia, conforme o coronel Luiz Henrique Gualberto, comandante-geral dos bombeiros. Agora, está em 32.
O tenente Júlio Cesar admite que a chance de encontrar mais corpos diminuiu. “Neste momento, aumenta nosso nível de dificuldade em função da área buscada. Infelizmente, já está mais difícil encontrar alguém, tecnicamente falando”, afirma o militar. Atualmente, as buscas se baseiam muito em informações, que norteiam a posição dos militares e os trabalhos de escavação da lama. Fontes dos bombeiros ouvidas pela reportagem confirmam que a atual movimentação indica um início de desmobilização nas buscas, em face do longo tempo decorrido, da redução do número de vítimas ainda não encontradas e do grau de dificuldade cada vez maior para localização.
Oficialmente, o major Rubem da Cruz, assessor de comunicação dos Bombeiros, confirma o retorno de militares da capital mineira, mas nega que exista alguma movimentação para desmobilizar os trabalhos de busca por desaparecidos. “O que fizemos foi simplesmente mudar de Mariana para Ouro Preto. Até quarta-feira, o planejamento continua o mesmo da semana passada, por exemplo. Temos que ressaltar que as buscas continuam e que em nenhum momento a gente tratou da questão de interromper esse trabalho”, afirma o major.
O drama de uma irmã
O maior medo da aposentada Judite Souza Caetano, de 67 anos, é de que os bombeiros abandonem as buscas e o irmão dela nunca seja encontrado. O aposentado Antônio Prisco de Souza, de 65, vivia sozinho em uma casa no ponto mais destruído pela lama, em Bento Rodrigues. Ele é o único morador do distrito ainda não localizado. Os demais são trabalhadores a serviço da Samarco. “É muito triste. Pior do que perder tudo que a gente tinha é perder um irmão. Os bombeiros não podem sair de lá antes de achar todo mundo que está desaparecido. Tem que ter uma solução”, disse.
Judite afirma que seu maior desejo agora é fazer um enterro cristão para o irmão. “Preciso achar ele e desligar esse pensamento da minha cabeça. Vivo, eu sei que ele não está. Só quero achar o corpo, ter um pouco mais de alívio. Meu sofrimento nunca vai acabar, mas pelo menos vou saber de verdade o fim do meu irmão e acabar com essa angústia que me machuca ainda mais”, disse a aposentada, que está vivendo com outras pessoas da família na Pousada Rainha dos Anjos, em Mariana. Além de Antônio, ainda estão desaparecidos Ailton Martins dos Santos, de 55, Vando Maurílio dos Santos, de 37, e Edmirson José Pessoa, de 48. Os três eram funcionários terceirizados.