As condições precárias das famílias atingidas pelo rompimento da Barragem do Fundão, em Mariana, na Região Central de Minas, impressionaram os inspetores do Alto Comissariado de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas ((ONU), que ontem se reuniram com representantes dos desabrigados e com diretores da Samarco. O grupo chegou à Mariana no começo da tarde e fez as reuniões a portas fechadas, sem a presença da imprensa, mas informou que vai divulgar um relatório preliminar sobre a situação das vítimas da maior tragédia ambiental da história brasileira, com críticas à situação que encontraram em Minas Gerais.
Segundo o promotor Guilherme Meneghim, que acompanhou as conversas dos inspetores da ONU com os moradores, “eles mais ouviram do que falaram. Ficaram impressionados com a quantidade de danos humanitários e com a ausência de amparo por parte da empresa, a falta de auxílio ao comércio, às crianças e adolescentes, e prometerem que vão fazer encaminhamento duro ao governo federal com relação a esses fatos”.
No relatório, a ser divulgado dia 16, em Brasília, os inspetores da ONU vão denunciar que até agora 185 famílias ainda aguardam em hotéis, entre os moradores atingidos pela onda de lama que escapou da Barragem do Fundão, arrasando quatro distritos e chegando até o mar no Espírito Santo. Também será dito que essas pessoas até hoje não sabem onde será construído o novo distrito, em que moldes se dará a construção nem se isso realmente irá acontecer. “Essa é a maior decepção, ver que estamos lutando praticamente sozinhos contra o poder econômico de grandes mineradoras. O governo federal passou por Mariana de helicóptero e sequer abraçou as vítimas”, reclamou o promotor de Mariana, que levou para a reunião a denúncia de que a Secretaria Nacional de Direitos Humanos até hoje não ofereceu ajuda concreta às vítimas.
“Hotel é lugar para a gente ficar um dia ou dois. Também não quero morar em Mariana, que é o lugar onde a gente vai para resolver as papeladas, pagar conta no banco e depois voltar para a roça. Sabe o que a gente quer mesmo, mesmo? A que gente quer é ter a certeza de que vamos construir de novo a nossa Bento”, disse o ex-morador da comunidade mais afetada pela lama Expedito Lucas da Silva, de 45 anos, quatro filhos.
Segundo Ulrik Halsten, um dos representantes da delegação da ONU, que falou rapidamente com os jornalistas, o tempo foi pequeno demais para o grupo se deslocar até Bento Rodrigues. Ele se negou a comentar se o relatório a ser entregue pela comissão irá entrar em detalhes especificamente sobre a tragédia do rompimento da Barragem de Fundão.
SAMARCO Em nota distribuída ontem no começo da tarde, a mineradora Samarco informou que já são 200 famílias transferidas dos hotéis para imóveis, num total de 754 pessoas.