"Ela é meiga, carismática. É uma menina forte, que não chora por nada e adora sair para passear. Sinto-me honrada por ser a escolhida para ser a sua mãe"
Alexandra Terzis
"Minha filha é um exemplo de superação. Apesar de ter nascido tão pequenininha, o grito dela quando nasceu foi forte, já demonstrando que era uma guerreira"
Thiago Fernandes Antunes Parreiras

Essa história começou na tarde chuvosa de 25 de dezembro de 2010, quando o pai da garota, o mecânico Thiago Fernandes Antunes Parreiras, de 35, retornava das comemorações de Natal na casa dos pais, em Esmeraldas, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. Ele preferiu não dirigir e pegou carona no carro de um amigo da família que se envolveu em um acidente. O motorista morreu, mas ele sobreviveu. Namorada dele havia sete anos, a psicóloga Alexandra Terzis, de 36, decidiu então ter um filho. “Se eu te perder um dia, vou ter pelo menos uma parte sua comigo”, decidiu ela.
Quando nasceu, a bebê, que de tão pequenina cabia na palma da mão do pai, veria o mês de dezembro marcá-la novamente. Com apenas três dias de vida, a meninha foi submetida a uma cirurgia no coração. Aos 22 dias, o intestino dela se rompeu, o que diminuiu ainda mais sua chance de sobrevivência, que era de apenas 10%, segundo os médicos. Mas Carol, como é chamada, mostrou que é uma guerreira. Aos 47 dias de vida, em 23 de dezembro, a menina continuava internada em estado grave no hospital. A médica avisou aos pais: daquela noite ela não passaria.
O casal se despediu da filha e foi para casa, arrasado. Pai e mãe passaram a madrugada inteira ao lado do telefone, esperando a notícia que jamais queriam ouvir. Tão logo o dia clareou, correram para o hospital, onde foram recebidos com festa pela médica. Surpreendentemente, a menina havia se recuperado de uma hora para outra.
É por isso que Carol comemora três aniversários por ano. Em 16 de novembro, quando nasceu; em 24 de dezembro, quando o seu quadro de saúde melhorou como que por milagre, e quando recebeu alta e voltou para casa, em 2 de maio. Para a família, o Natal ganhou um significado especial, além do nascimento de Cristo. Tanto é que um pequeno presépio é mantido o ano inteiro no apartamento onde vivem, no Bairro Padre Eustáquio, Região Noroeste de Belo Horizonte. Na manjedoura, junto à imagem do Menino Jesus, fica o nome de Carolina, escrito em um pequeno pedaço de papel.

Alexandra se derrete com a simpatia de Carol. “Ela é meiga, carismática. É uma menina forte, que não chora por nada e adora sair para passear. É ativa, presta atenção em tudo e sempre nos responde com um sorriso. Sinto-me honrada por ser a escolhida para ser a sua mãe. É como se a minha vida tivesse começado de novo com ela. Tenho um sentido maior para viver”, resume.
Batalhas desde que nasceu
Carolina nasceu com menos de seis meses de gestação, quando Alexandra teve eclâmpsia e precisou ser levada às pressas para um hospital. Os médicos decidiram fazer o parto prematuro, pois mãe e filha corriam risco de morrer. “Carol era tão pequenininha, que o dedão do pé dela era do tamanho da cabeça de um palito de fósforo”, compara o pai.
Alexandra permaneceu por cinco dias internada no centro de tratamento intensivo (CTI), sem saber que a sua filhinha, com apenas três dias de vida, era submetida a uma cirurgia no coração. “Se não fizessem a cirurgia, ela não ia sobreviver. Graças a Deus deu tudo certo”, conta a mãe.
Para complicar ainda mais a vida da garotinha, em 8 de dezembro daquele ano o intestino dela se rompeu, causando infecção generalizada. “Tive que correr atrás de 50 pessoas para doação de sangue. Carol precisou de três transfusões. Os médicos tinham que fazer uma cirurgia, mas ela não tinha peso. Então, fizeram um dreno no intestino”, lembra o pai.
A intervenção não deu certo. A barriga da menina não parava de crescer e de ficar escura. “Parecia que ia explodir, de tão inchada”, comenta a mãe. Em 23 de dezembro, a médica orientou os pais a se despedirem da criança, por entender que ela não passaria do Natal. Aos pais, só restaram as orações. “Eu disse: ‘Deus, se existir um milagre, que faça um agora’”, conta o pai emocionado. Hoje, o milagre tem 4 anos.
Dias de angústia com apoio da fé
A fé em Deus alimentou a esperança dos pais de Carol o tempo todo. Durante seis meses, tempo de permanência da menina no hospital, a mãe não se desgrudou da filha. “Ia de manhã para o hospital e só voltava para casa à noite. Tinha que estar por perto e passar segurança para a minha filha”, lembra Alexandra. “Mas tinha certeza de que ela iria para casa comigo. O quartinho dela estava esperando. Não levei a sério as recomendações dos médicos e me agarrei muito na fé em Deus”, conta Alexandra, que não se esquece do dia em que saiu do hospital levando a filha, em 2 de maio de 2012. No dia 6 foi o Dia das Mães. “Tive o melhor presente da minha vida!”, disse a psicóloga.
Já em casa, e sob os cuidados e o carinho da mãe, Carol foi ganhando forças até que Alexandra conseguiu retirar a respiração mecânica da filha 30 dias depois. “Fui orientada pelos médicos a retirar o oxigênio aos poucos. Comecei com cinco minutos, até que ela conseguiu respirar sozinha o dia inteiro. Não tinha enfermeira, não tinha nada. Éramos só eu e Deus”, lembra a mãe, “Minha filha é uma guerreira”, disse. No ano que vem, Carol começa uma nova etapa em sua vida: frequentar a escola.
Os pais contam que aprendem mais com a filha do que lhe ensinam. “Minha filha é um exemplo de vida, de superação. Ela venceu todos os obstáculos e se mostrou uma menina forte. Apesar de ter nascido tão pequenininha, o grito dela quando nasceu foi forte, já demonstrando que era uma guerreira”, recorda o pai.
