Jornal Estado de Minas

Chuva não recupera nível das represas e captação do Paraopeba pode ser fundamental


Sem uma recuperação significativa dos reservatórios que abastecem a Região Metropolitana de Belo Horizonte mesmo com as chuvas de dezembro, a nova captação de água no Rio Paraopeba ganha cada vez mais contornos de emergência, segundo especialistas. A Copasa confirmou que as novas adutoras vão começar a funcionar no próximo domingo – conforme previsão inicial de janeiro, época do anúncio da crise hídrica na Grande BH – e vão garantir a segurança do abastecimento sem a dificuldade de racionamento.

Enquanto isso, mesmo com as chuvas, a recarga das três represas que constituem o Sistema Paraopeba caminha a passos lentos. Em dezembro, a Vargem das Flores é a única que não registrou nenhuma queda, enquanto Rio Manso e Serra Azul já contabilizaram diminuições nos 14 primeiros dias do mês.

As últimas temporadas de chuva com precipitações abaixo da média levaram a Grande BH a uma seca extrema, que comprometeu a situação dos aquíferos da região, segundo o doutor em recursos hídricos e professor da PUC/Minas, José Magno Senra Fernandes. "Por isso, o papel das chuvas é primeiro encharcar o solo para depois recuperar tudo. Esse processo, contando com chuvas significativas, deve durar dois anos ou mais para garantir as condições ideais de recarga", afirma o especialista.

A região dos reservatórios Rio Manso e Serra Azul tem uma área verde maior, segundo o professor, e por isso, a água infiltra mais. Já na Vargem das Flores, o nível de impermeabilização é maior e, por isso, a água corre mais rápido para a represa, uma das explicações para o período sem redução de volume em dezembro, de acordo com o professor. "Dessa forma, a obra do Paraopeba se torna muito importante do ponto de vista emergencial", afirma Fernandes. Outra explicação para o período sem reduções na Vargem das Flores é a diminuição da captação, com compensação nas outras represas.

O professor do Departamento de Engenharia Hidráulica e Recursos Hídricos da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Luiz Rafael Palmier traz outros dois aspectos que favoreceram o aumento no consumo de água e também contribuem para depositar na obra do Rio Paraopeba a segurança necessária para evitar o racionamento.
"Tivemos uma primavera com recordes de temperatura em Belo Horizonte, o que favorece o consumo de água, além de um relaxamento natural da população na economia por conta do anúncio da Copasa de que o risco de racionamento estava afastado", diz o especialista. O anúncio da companhia foi feito em meados de agosto e o resultado foi realmente uma redução nos percentuais de economia que vinham sendo praticados pelos moradores da Grande BH.

Desde 1º de dezembro, não houve diminuição de volume quando considerado o conjunto das represas que integram o Sistema Paraopeba. Porém, o aumento foi baixo, saindo de 21,3% em 1º de dezembro para 21,9% ontem. No reservatório do Rio Manso, mesmo com 197,4 milímetros de chuva em 14 dias, o que equivale a 60% dos 328,1 milímetros esperados para o mês, houve cinco quedas de volume. Ontem, o registro da Copasa mostrava 28,9% da capacidade disponível na represa. Serra Azul fechou o dia com 6,5% e Vargem das Flores com 29,7%.

De acordo com a Copasa, a queda ou a recuperação do nível das represas que compõem do Sistema Paraopeba varia em função das suas características. “A recuperação do nível das águas do Rio Manso e do Serra Azul é mais lenta, porque são bacias muito grandes e com muita área de infiltração”, afirmou, em nota, a companhia.

Já a represa de Vargem das Flores, segundo a empresa, por ter características urbanas, a água da chuva vai logo para o reservatório, uma vez que tem pouca área de infiltração.
“Por este motivo ela vem apresentando melhora significativa (subiu mais de 1,5 metro) com as chuvas dos últimos dias”, destacou a Copasa.

DEMANDA Segundo a Copasa, com a ligação das bombas que vão puxar a água diretamente do Rio Paraopeba, em Brumadinho, na Grande BH, a partir do próximo domingo, 5 mil litros de água por segundo serão lançados diretamente na Estação de Tratamento de Água (ETA) do Rio Manso. Isso significa quase tudo que a empresa tem usado somando os três reservatórios atualmente, já que a demanda tem sido de cerca de 5,5 mil litros do Sistema Paraopeba. Dessa forma, a companhia aposta que vai conseguir poupar as represas nos períodos chuvosos, garantindo uma recarga bem mais rápida do que está ocorrendo neste momento. A expectativa é que em três anos haja uma recuperação completa. A obra custou R$ 128,4 milhões aos cofres públicos e é um aditivo de uma Parceria Público Privada (PPP) firmada entre o governo estadual e a empresa Odebrecht para expansão do Sistema Rio Manso..