Jornal Estado de Minas

Microcefalia dispara e soa alarme contra o zika


Se o clima já era de apreensão no país e em Minas para casos de microcefalia com possível associação com o zika vírus, ontem o alarme foi definitivamente disparado em Brasília. O número de casos notificados da malformação no país chegou a 2.401, o que representa aumento 36,3% em relação ao último boletim epidemiológico, divulgado pelo Ministério da Saúde na semana passada, quando eram 1.761 casos de alteração cranioencefálica sob suspeita de associação com a doença transmitida pelo Aedes aegypti. Em Minas são 35 notificações em 25 municípios – dois casos foram descartados e 33 permanecem em investigação. Na semana passada, eram 29. Com o boletim de ontem do ministério, Minas ingressou oficialmente na lista de 20 unidades da federação em alerta para a microcefalia.

O novo informe traz ainda os outros cinco novos estados a notificar casos suspeitos (Espírito Santo, Mato Grosso, Pará, São Paulo e Rio Grande do Sul). Equipes técnicas de investigação de campo do Ministério da Saúde trabalham em Pernambuco, Rio Grande do Norte, Paraíba, Sergipe e Ceará. As 2.401 notificações no país estão distribuídas em 549 municípios e, segundo o boletim que detalha pela primeira vez os diagnósticos, já há confirmação para 134 casos e resultado negativo para 102. Continuam em investigação 2.165.
No país, 29 óbitos tinham suspeita de associação com o vírus. Em um foi confirmada a relação e em dois, descartada. Vinte e seis mortes continuam sendo investigadas.

Entre especialistas, população em geral e autoridades de saúde, a divulgação do aumento de casos reforça a preocupação já existente em relação aos casos de microcefalia. Na avaliação do presidente da Sociedade Mineira de Infectologia, Estevão Urbano, o avanço, embora já esperado diante dos fluxos migratórios no país, que facilitam a circulação do vírus, é mais um alerta. “As redes de saúde devem se preparar ainda mais e as ações de combate ao vetor precisam ser reforçadas e imediatas”, disse, lembrando o perigo para as grávidas. “Há um medo que é real. A preocupação já era grande e fica ainda maior”, afirma.

PRÉ-NATAL

Nos consultórios médicos, o medo da microcefalia tem mudando o tom das consultas de pré-natal.

De acordo com o ginecologista Glauco Antônio Garro, mulheres têm chegado cada vez mais com dúvidas sobre a doença. “A indicação para todas é sempre para combate aos focos do mosquito. No caso das que já estejam grávidas, oriento que tentem se proteger do mosquito, usando repelentes e roupas que cubram extremidades do corpo, como pernas e braços”, disse o médico. No caso das mulheres que desejam engravidar, Glauco orienta às mais jovens que esperem um pouco, até que haja um cenário melhor em relação à circulação do zika vírus.

Quando a notícia dos casos de microcefalia por associação com o vírus estourou no país, a enfermeira Leila Cristina Ferreira, de 35 anos, não podia mais esperar: já estava no sexto mês de gravidez. Ainda que o risco maior para o bebê seja até o terceiro mês de gestação, a mãe tenta se proteger do mosquito usando roupas mais fechadas e repelente. “Tenho consulta médica de rotina nesta semana e vou me informar melhor sobre os riscos e a prevenção. Mas em casa já estou tomando cuidado”, disse.

PREVENÇÃO

Depois de o Ministério da Saúde lançar o protocolo de Atenção à Saúde para Microcefalia, os serviços públicos de saúde começam a se preparar para atender às exigências do documento. Entre outros itens, o plano prevê testes rápidos de gravidez, busca ativa de grávidas para realização adequada do pré-natal e de exames específicos em bebês que nascerem com a doença (veja quadro).

De acordo com a coordenadora do Programa Estadual de Controle de Dengue da Secretaria de Estado de Saúde, Geane Andrade, uma reunião deve ocorrer ao longo desta semana “para discussão e adaptação dos padrões recomendados pelo Ministério da Saúde no estado”.

Ontem, no seminário “Zika, chikungunya e dengue: desafios para o controle e a atenção à saúde”, promovido pela Fundação Oswaldo Cruz, Geane participou de uma mesa de debates sobre as doenças. De acordo com a diretora da Fiocruz no estado, Zélia Profeta, o encontro teve o objetivo de orientar técnicos de diversas secretarias sobre a microcefalia, além de propor alternativas de combate ao mosquito Aedes aegypti.

Em nota, a Secretaria Municipal de Saúde informou que a Rede SUS-BH já tem diretrizes, protocolos assistenciais, fluxos e rede de apoio relacionados à saúde da mulher e da criança. “Essas diretrizes já estão em consonância com o preconizado pelo Ministério da Saúde”, informou o texto. A Secretaria de Estado da Saúde afirma que não se pode falar em aumento dos casos de microcefalia no estado. O incremento dos números, defende, é resultado de maior vigilância sobre a malformação.

 

Enquanto isso...

...Maternidade intensifica ações

Em Belo Horizonte, unidades de saúde já vêm tomando providências diante da ameaça do zika vírus. Na Maternidade Odete Valadares, da Rede Fhemig, o protocolo do Ministério da Saúde está sendo discutido entre profissionais, que passam também por capacitação sobre a infecção e sobre medidas para combate ao mosquito. “Criamos um grupo com profissionais de diferentes especialidade para conduzir os estudos”, explica a especialista em reprodução humana Flávia Ribeiro. Outra ação importante é a divulgação de um informativo às gestantes a respeito dos principais cuidados para evitar o desenvolvimento de microcefalia em bebês durante a gestação.
 

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