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Estado de Minas RISCO DE VIDA

PBH quer impedir que moradores de rua usem Túnel da Lagoinha para dormir

Es­pa­ços se­rão de­so­cu­pa­dos e gra­de­a­dos pa­ra evi­tar que­das fa­tais


postado em 17/12/2015 06:00 / atualizado em 17/12/2015 11:14

Num cenário propício para acidentes, morador de rua usa um dos
Num cenário propício para acidentes, morador de rua usa um dos "caixotes" do túnel (foto: Paulo Filgueiras/EM/DA Press)

A Pre­fei­tu­ra de Be­lo Ho­ri­zon­te pre­ten­de aca­bar no mês que vem com uma pos­si­bi­li­da­de de mo­ra­dia uti­li­za­da com fre­quên­cia pe­la po­pu­la­ção de rua da ca­pi­tal mi­nei­ra, que traz ris­co ex­tre­mo de vi­da pa­ra os pró­prios mo­ra­do­res. As pes­soas es­tão usan­do os vãos en­tre a par­te su­pe­rior do tú­nel da La­goi­nha, des­ti­na­da aos car­ros, e a par­te in­fe­rior, on­de cir­cu­lam os ôni­bus, pa­ra dor­mir e dei­xar per­ten­ces va­ria­dos, mas o aces­so é di­fí­cil e a al­tu­ra com­bi­na­da com o mo­vi­men­to de veí­cu­los cria um ce­ná­rio pro­pí­cio pa­ra tra­gé­dias. A in­ten­ção da pre­fei­tu­ra é co­lo­car gra­des no lo­cal e evi­tar a pre­sen­ça dos mo­ra­do­res de rua, jus­ta­men­te por con­ta do ris­co. A Pas­to­ral de Rua da Ar­qui­dio­ce­se de Be­lo Ho­ri­zon­te sus­ten­ta que es­se é um am­bien­te his­tó­ri­co de mo­ra­dia e que se há quem pro­cu­re dor­mir em um pon­to tão inu­si­ta­do e pe­ri­go­so é por­que fal­tam op­ções mais hu­ma­ni­za­das pa­ra ga­ran­tir a su­pe­ra­ção da si­tua­ção de rua na ci­da­de.

On­tem, fun­cio­ná­rios da PBH es­ti­ve­ram no tú­nel pa­ra ava­liar as con­di­ções dos lu­ga­res ha­bi­ta­dos pe­los mo­ra­do­res de rua e me­dir os es­pa­ços usa­dos atual­men­te. O ob­je­ti­vo é ob­ter in­for­ma­ções pa­ra a cons­tru­ção de gra­des, que vão im­pe­dir o aces­so. A po­pu­la­ção em si­tua­ção de rua apro­vei­ta a op­ção de en­ge­nha­ria usa­da na tran­si­ção en­tre a co­ber­tu­ra do tú­nel dos ôni­bus e o pi­so da par­te de ci­ma, des­ti­na­da aos car­ros. As vi­gas e cha­pas de aço cria­ram es­pa­ços que se as­se­me­lham a pe­que­nos cai­xo­tes. Em um dos la­dos do tú­nel, os 12 lu­ga­res têm um aces­so mais fá­cil, po­rém, mes­mo as­sim pe­ri­go­so.  As pes­soas usam pe­que­nas es­ca­das e pe­da­ços de ma­dei­ra pa­ra tran­si­tar en­tre a par­te de ci­ma do tú­nel e as en­tra­das dos cai­xo­tes. Já do ou­tro la­do, os ou­tros 12 es­pa­ços fi­cam mais lon­ge de on­de é pos­sí­vel ca­mi­nhar, por­tan­to, nin­guém ocu­pa es­ses lu­ga­res.

Veja os trabalhos da prefeitura no local


Par­ti­ci­pa­ram da ação da pre­fei­tu­ra téc­ni­cos da Se­cre­ta­ria Mu­ni­ci­pal de Po­lí­ti­cas So­ciais, Su­pe­rin­ten­dên­cia de De­sen­vol­vi­men­to da Ca­pi­tal (Su­de­cap), Coor­de­na­do­ria Mu­ni­ci­pal de De­fe­sa Ci­vil (Com­dec) e BHTrans. Co­mo o aces­so ao lo­cal é mui­to di­fí­cil, prin­ci­pal­men­te pe­lo trân­si­to in­ten­so, a BHTrans pre­ci­sou des­viar o flu­xo pa­ra a en­tra­da de um ca­mi­nhão da Su­de­cap equi­pa­do com um guin­das­te. Es­se veí­cu­lo le­vou dois tra­ba­lha­do­res até os cai­xo­tes, que ti­ra­ram as me­di­das ne­ces­sá­rias pa­ra a pro­du­ção das gra­des. A coor­de­na­do­ra do Co­mi­tê de Po­lí­ti­cas pa­ra a Po­pu­la­ção em Si­tua­ção de Rua de Be­lo Ho­ri­zon­te, So­raya Ro­mi­na, dis­se que a ação foi mo­ti­va­da por uma vis­to­ria de 20 de ou­tu­bro da De­fe­sa Ci­vil, que clas­si­fi­cou a área co­mo de al­tís­si­mo ris­co. “Is­so sig­ni­fi­ca di­zer que se al­gum de­les se de­se­qui­li­brar, usar ál­cool ou dro­gas, per­der a ca­pa­ci­da­de mo­to­ra e cair, não tem saí­da que não se­ja a mor­te”, afir­ma.

Funcionários da prefeitura precisaram de guindastes para tirar medidas para grades(foto: Paulo Filgueiras/EM/DA Press)
Funcionários da prefeitura precisaram de guindastes para tirar medidas para grades (foto: Paulo Filgueiras/EM/DA Press)

A res­pon­sá­vel por con­du­zir as po­lí­ti­cas des­ti­na­das aos mo­ra­do­res de rua diz ain­da que, ve­ri­fi­ca­das es­sas con­di­ções, a pre­fei­tu­ra tem que agir e não po­de per­mi­tir a pre­sen­ça na­que­le lo­cal. “Es­ta­mos pre­pa­ran­do uma ação pa­ra en­tre­ga dos per­ten­ces que es­tão no tú­nel e tam­bém es­ta­mos com nos­sas equi­pes mo­bi­li­za­das pa­ra ofe­re­cer to­das as op­ções, co­mo bol­sa-fa­mí­lia, abri­gos, re­tor­no às ati­vi­da­des e ci­da­des de ori­gem e con­ta­to com a fa­mí­lia. Se não qui­se­rem sair da rua, eles têm es­se di­rei­to, mas não po­dem per­ma­ne­cer nos vãos do tú­nel”, com­ple­ta. A ex­pec­ta­ti­va dos téc­ni­cos da pre­fei­tu­ra é que em cer­ca de um mês já se­ja pos­sí­vel co­me­çar a ins­ta­lar as gra­des. A re­por­ta­gem con­ver­sou com um mo­ra­dor de rua que la­va­va rou­pas em uma mi­na de água den­tro do tú­nel. Ele dis­se que cos­tu­ma dor­mir em ou­tros lu­ga­res, mas co­nhe­ce a maio­ria das pes­soas que dor­mem nos cai­xo­tes. “Real­men­te é mui­to pe­ri­go­so, já te­ve gen­te que caiu. Mas eu não acre­di­to que as gra­des vão re­sol­ver. As­sim que a pre­fei­tu­ra es­que­cer do tú­nel, elas se­rão re­ti­ra­das pe­los mo­ra­do­res”, afir­ma Lu­cia­no de Sou­za, de 40 anos.

A edu­ca­do­ra so­cial da Pas­to­ral de Rua da Ar­qui­dio­ce­se de Be­lo Ho­ri­zon­te, Clau­de­ni­ce Ro­dri­gues Lo­pes, diz que, his­to­ri­ca­men­te, os vãos do tú­nel da La­goi­nha são usa­dos pe­la po­pu­la­ção em si­tua­ção de rua. Ela con­cor­da que fal­ta de se­gu­ran­ça e acre­di­ta que é im­por­tan­te mi­ni­mi­zar os ris­cos, mas cha­ma a aten­ção pa­ra a fal­ta de es­pa­ços mais ade­qua­dos, ca­pa­zes de ab­sor­ver a de­man­da que ocu­pa o tú­nel ho­je. “Se elas fi­cam nes­ses lu­ga­res tão inu­si­ta­dos que a gen­te nem ima­gi­na é por­que fal­tam es­pa­ços de aco­lhi­men­to mais hu­ma­ni­za­do na ci­da­de. A pre­fei­tu­ra tem in­ves­ti­do mui­to na re­gu­la­ção e con­tro­le do es­pa­ço ur­ba­no, mas fal­ta in­ves­ti­men­to em con­di­ções que pos­si­bi­li­tem a su­pe­ra­ção da con­di­ção de rua, que não se­jam ape­nas pa­lia­ti­vas e emer­gen­ciais”, afir­ma Clau­de­ni­ce.

So­raya Ro­mi­na re­co­nhe­ce a ne­ces­si­da­de de ajus­tes na es­tru­tu­ra dis­po­ni­bi­li­za­da pe­la pre­fei­tu­ra, prin­ci­pal­men­te na quan­ti­da­de de pes­soas que dor­mem em al­ber­gues, por exem­plo, mas des­ta­ca que as 1,1 mil va­gas em abri­gos, re­pú­bli­cas e al­ber­gues são mui­to ex­pres­si­vas e que a es­tru­tu­ra prin­ci­pal de­ve ser man­ti­da. “Te­mos um al­ber­gue on­de dor­mem 400 ho­mens por noi­te. De fa­to, em um es­pa­ço me­nor as pes­soas po­dem ser tra­ta­das mais nas suas in­di­vi­dua­li­da­des, ten­do mais con­di­ções de su­pe­rar a con­di­ção de rua”, com­ple­ta.


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