Jornal Estado de Minas

Reclamações contra táxis crescem este ano em Belo Horizonte

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A entrada em funcionamento do aplicativo de agendamento de transporte particular Uber em Belo Horizonte, em meados do ano passado, parecia ter mudado a atitude de muitos taxistas na praça, que, para fazer frente à prestação de serviço atenciosa dos parceiros da modalidade eletrônica, se tornaram mais prestativos. Mas não foi bem assim. De acordo com informações da Ouvidoria da Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) referentes aos bancos de dados da BHTrans sobre as reclamações de usuários contra taxistas, o comportamento inadequado desses condutores cresceu 7,3 pontos percentuais (p.p) dentro dos registros, passando de 52,1% aferidos na média desde 2011, para 59,4% das queixas dos transportados, segundo registros deste ano, até setembro.

Outras queixas que tiveram destaque e cresceram são contra as cobranças abusivas, que passaram de 5,3% para 7,2% (1,9 p.p), e o aumento de itinerário, que saltou de 2,8% para 4,5% (1,7 p.p). Especialistas acreditam que as medidas tomadas por alguns taxistas para melhorar o serviço prestado ainda não superaram o nível de exigência que os passageiros adquiriram ao entrar em contato com o Uber. Por outro lado, a recusa de viagem a usuários recuou um pouco com relação ao ano passado, segundo os dados, de 24,5% para 23,2% (- 1,3 p.p), ainda que tenha crescido 0,1 p.p perante a média desde 2011.

Na última terça-feira, a Câmara Municipal aprovou em primeiro turno o Projeto de Lei 1.797, que na prática limita o aplicativo Uber e outros que funcionam atualmente na capital mineira à utilização de mão de obra de taxistas para poder funcionar. A votação foi folgada, com 35 votos a favor da limitação e apenas um contra, mas na galeria do Plenário Amyntas de Barros, a divisão entre quem apoia o projeto e os que querem que o Uber continue como está foi grande. O projeto ainda deve ser apreciado por comissões que avaliam sua viabilidade e precisa ser aprovado em segundo turno para ser ou não sancionado pelo prefeito Marcio Lacerda (PSB).

Para o doutor em engenharia de transportes e consultor da área, Frederico Rodrigues, os números mostram que durante os meses que a população de Belo Horizonte esteve em contato e utilizou o Uber, se tornou mais exigente quanto à qualidade e à prestação do serviço. Na questão do trato ao cliente, por exemplo, o especialista destaca o treinamento gentil e o poder da avaliação dos passageiros para inibir arroubos dos motoristas.
No caso de outra reclamação, como o aumento de itinerário, no Uber as pessoas se sentiriam menos suscetíveis a serem enganadas, segundo ele. “A entrada do Uber deu uma opção para os passageiros refletirem e compararem os dois serviços. No Uber, você tem um mapinha do GPS que o motorista mostra e pergunta se você quer ir pelo caminho traçado ou se tem preferência por outro itinerário. O consumidor se sente mais confiante e isso instigou o usuário a ser mais exigente”, afirma.
Maria José Dias aprova o serviço de táxi e afirma não ter problemas - Foto: Juarez Rodrigues/EM/DA Press
APERFEIÇOAMENTO Para o diretor-presidente do Sindicato Intermunicipal dos Condutores Autônomos de Veículos Rodoviários, Taxistas e Transportadores Rodoviários Autônomos de Bens de Minas Gerais (Sincavir), Ricardo Faedda, o Uber não influiu na forma de atendimento dos taxistas. “O sistema de táxis vinha a cada ano se aperfeiçoando, não só agora com essa concorrência ilegal dos aplicativos como o Uber. A cada ano e a cada revisão de regulamento, temos aperfeiçoado nossos serviços para termos retorno financeiro e de satisfação dos passageiros”, afirma o diretor-presidente, que cita como exemplo a obrigação, a partir de janeiro de 2016, de automóveis sedans médios, com ar-condicionado e motorização acima de 1.4 como veículos de base da frota de táxis de BH.

Já Cláudia Vieira se diz decepcionada e já pensa em usar o aplicativo - Foto: Juarez Rodrigues/EM/DA PressQuanto ao alto percentual de reclamações sobre um comportamento inadequado dos motoristas, Faedda afirma que são posturas de uma minoria de profissionais, com a qual nem o Sincavir nem a BHTrans compactuam. “O sindicato tem a preocupação de estar sempre motivando a trabalhar conforme o regulamento, que tem exigências rígidas.
Quanto a esses tópicos (de reclamações) é uma parcela pequena que tem comportamento inadequado e uma parcela ínfima que pratica cobranças abusivas e itinerário não condizente com o esperado”, disse, lembrando que a cada cinco anos todos os condutores são obrigados a passar por cursos de aperfeiçoamento.

Já a BHTrans informou, por meio de nota, que todos os taxistas fazem um curso antes de ingressarem no sistema. A carga horária total é de 50 horas e são abordados diversos temas. Quanto às reclamações, a empresa informa que, dependendo do resultado da apuração da falta, de sua gravidade e tendo em vista o prontuário do taxista, pode-se gerar até a perda definitiva da autorização de circulação do taxista. No período de 2012 a 2015, foram instaurados 420 processos administrativos. Desses, 274 foram transitados em julgado, ou seja, encerrados. Os réus desses últimos processos foram absolvidos, suspensos ou tiveram que pagar alguma multa pecuniária.

Passageiros divididos

A questão do comportamento respeitoso e profissional dos taxistas ante os usuários em Belo Horizonte ganhou profusão com a entrada do Uber, mas ainda divide passageiros nas ruas de BH. Há quem defenda o serviço prestado e diz nunca ter tido qualquer tipo de problema quando precisou de um táxi. Para a decoradora e paisagista, Maria José Dias, de 57 anos, o atendimento recebido sempre foi bom.
“Nunca tive problemas quando usei os táxis. Os motoristas me levaram onde pedi, com educação, e nunca tive a impressão de que tentassem me enganar cobrando a mais ou passando por percursos diferentes dos que precisei”, disse a decoradora, que geralmente faz viagens entre o Centro da capital e a Savassi. “O táxi é ainda a melhor opção para quem pretende ir a muitos destinos no Centro, já que a dificuldade de estacionar é muito grande na região, o trânsito é complicado e os estacionamentos caros”, disse.

Já a enfermeira Cláudia Vieira, também de 57, se disse completamente decepcionada com a qualidade dos serviços dos táxis na capital. “Só não experimentei o Uber ainda, porque não sei usar direito esses aplicativos de telefone. Mas, pelo que minhas sobrinhas mais jovens me disseram, vale muito mais a pena. Vou experimentar assim que puder”, disse a enfermeira.

De acordo com ela, os principais problemas que enfrentou são com relação ao trato recebido e a eficiência. “Já tive experiências desagradáveis com motoristas muito grosseiros, que não se preocupam com a nossa segurança e nos tratam mal. Não confio muitas vezes nos motoristas, pois parece que estão tentando nos enganar ou tirar vantagem”, afirma. Segundo a Ouvidoria da PBH, desde 2011, foram 121 taxistas cassados por procedimentos administrativos, sendo 112 deles só em 2013..