Leia Mais
Estudantes de Curitiba enviam cartas às crianças vítimas da tragédia de MarianaJustiça Federal obriga Samarco a continuar fornecendo água em Colatina, no Espírito SantoAção conjunta que pede fundo de R$ 20 bilhões da Samarco será julgada em BHExpedição 'Missão Mariana' começa nesta quinta-feira com objetivo de traçar metas para recuperar Bacia do Rio DoceRelatório da Embrapa aponta que avalanche de lama da Samarco deixou solo inerteMP vai abrir inquérito para apurar responsabilidades da Vale em tragédia de MarianaCasas que ficaram de pé em Bento Rodrigues viram alvo de ladrõesTJMG marca seis audiências de conciliação sobre rompimento de barragem em MarianaA sete dias da data-limite, enquanto permanece o impasse judicial há moradores que sonham com uma casa como presente de Natal.
Apesar do clima difícil e do desânimo em relação ao Natal, a lavradora Alenir Maria Alves, de 38, que ainda está em hotel, espera conseguir alegrar a pequena Ana Clara, de 9, caçula de duas filhas. Morando há 19 anos em Bento Rodrigues, subdistrito de Mariana arrasado pela lama, ela estava acostumada a juntar a família todo ano e a ajudar a menina na montagem da pequena árvore de Natal, enfeitada anualmente com acessórios que hoje estão debaixo da lama.
Sem eles, Ana Clara encontrou em um boneco de Papai Noel, resgatado pela mãe em meio a doações, um novo símbolo do Natal de agora em diante. “Quero guardar ele para sempre”, diz a criança. “O Natal para mim já acabou. O que a gente tenta é levar as crianças para se divertir”, afirma. Sem perceber, a mãe também acabou se apegando ao boneco. “Pegamos no meio de doações e combinamos que a última de cinco famílias na pousada que estou levaria o boneco.
EM CASA Quem já conseguiu a moradia começa a se adaptar à nova rotina, mas, mesmo assim, entrar no clima de festas tem se revelado um desafio. Jéssica Xavier, de 23, até queria enfeitar a casa onde está morando depois que precisou abandonar o lar destruído em Bento Rodrigues. “Mas está difícil pensar em qualquer outra coisa que não seja reorganizar a vida. Antes, Natal no Bento era ótimo, a gente era uma comunidade. Agora, cada um foi para um canto.”
O pedreiro Fernando dos Santos sabe que este Natal será diferente, mas não perde a esperança, nem o divino espírito de compartilhar. Moradores há 25 dias de uma casa alugada no Bairro Dom Oscar, em Mariana, Fernando, a mulher e o filho pretendem fazer uma ceia “como qualquer família brasileira”. “Vai ser tudo normal. Aqui na nossa rua, há 10 famílias de Bento Rodrigues, que estavam em hotel e já estão em casa”, explicou. O vizinho Antônio Geraldo dos Santos, de 32, solteiro, mora com os pais e também pretende se juntar a outros amigos para celebrar o nascimento de Jesus.
Os papais noéis de Mariana
Se a maioria nem teve tempo de pensar em algo para o Natal, há entre os envolvidos na tragédia de Mariana quem creia que a data é uma oportunidade de ser solidário e começar a reescrever as histórias dos atingidos. Uma desses papais noéis é o vigilante Jefeson Geraldo Inácio, de 28 anos, que viu em um gorro encontrado no meio das doações, no Centro de Convenções, a possibilidade de amenizar o sofrimento dos atingidos, quase todos pessoas conhecidas, já que ele também morava em Bento Rodrigues. “Peguei este gorro e comecei a ajudar, pois sou amigo do povo. Muitas vezes, as pessoas ficam nervosas com a situação e acabam se estressando na fila das doações”, afirma. Além de colaborar na organização, Jefeson faz a alegria das crianças, como a pequena Agatha, de 6 meses, e já é considerado o Papai Noel oficial dos voluntários. “Pelo menos temos um pouco de alegria neste momento triste”, diz a mãe da menina, Priscila Dias, de 20, que também perdeu tudo em Bento Rodrigues.
Outro que não se abate e não desiste de fazer valer o espírito de Natal é o encarregado de obras Antônio Florêncio Lopes, de 40 anos, já alojado em uma casa em Mariana. Ele ocupa com a mulher um dos três andares de um sobrado que também tem como moradores a sogra e o cunhado, nos outros dois pavimentos. Antônio espera encontrar uma turma de Bento Rodrigues, depois de amanhã, em um almoço promovido por uma rádio local. “Quero conversar com as pessoas para combinar o que podemos fazer no Natal: uma ceia no dia 24 ou um almoço no dia 25”, planeja.