O risco de desabastecimento de água na Região Metropolitana de Belo Horizonte está afastado pelo menos para os próximos 20 anos. Esse é o entendimento da Copasa depois que o governador Fernando Pimentel (PT) ligou ontem, acompanhado da presidente da companhia de saneamento, Sinara Meireles, as primeiras bombas de captação diretamente no Rio Paraopeba, em Brumadinho, na Grande BH. Com a conclusão da parte operacional da obra, que teve duração de cinco meses e custo de R$ 128,4 milhões, a Copasa começou ontem a puxar 3 mil dos 5 mil litros de água por segundo que terá condição de captar até o fim desta semana com o funcionamento de todas as cinco bombas, saída encontrada pela empresa para recuperar os reservatórios que integram o Sistema Paraopeba e que enfrentaram a maior crise da história da Grande BH em 2015. Ontem, o conjunto das três represas apresentava menos de um quarto do volume acumulado (22,5%), mas a expectativa é de que, poupando as barragens e usando o Rio Paraopeba durante os períodos de chuva, em três anos os reservatórios do Rio Manso, Vargem das Flores e Serra Azul estejam completamente recuperados.
“Isso não significa que nós possamos gastar água à vontade. Continuar o empenho para reduzir perdas na rede e para criar um novo modelo de consumo de água, mais consciente e com menos abundância, é fundamental para as gerações futuras. Sabemos que a água é um recurso cada vez mais escasso no planeta”, advertiu o governador Fernando Pimentel durante a cerimônia de inauguração da captação emergencial. Pimentel garantiu também que as paradas operacionais no abastecimento para ajustar adutoras e adequar o sistema à nova captação não serão mais necessárias, restando apenas paralisações bem mais espaçadas para manutenção, o que já ocorre atualmente.
Depois do acionamento das três primeiras bombas, em 40 segundos a água começou a correr pelos diferentes setores da captação, antes de entrar nas adutoras e percorrer um caminho de 6,5 quilômetros até a Estação de Tratamento de Água (ETA) do Rio Manso. De lá, ela passa por todo o procedimento de tratamento normal para ser distribuída aos moradores da Grande BH. Como a qualidade da água bruta tirada diretamente do Paraopeba é pior do que o recurso que é captado na represa do Rio Manso, o tratamento necessário terá que ser mais eficiente. “Vamos gastar um pouco mais com produtos químicos para tratar essa água”, afirma o diretor de Operações Metropolitanas, Rômulo Perilli. Segundo a companhia, o tratamento atende aos parâmetros da Portaria 2.914 de 2011 do Ministério da Saúde.
Com o funcionamento do complexo montado em Brumadinho, a Copasa terá agora condições de puxar 5 mil litros de água por segundo do manancial, pouco menos do que os atuais 5,5 mil litros que a empresa estava usando dos reservatórios do Rio Manso, Vargem das Flores e Serra Azul para atender a quase metade dos 5 milhões de moradores da Grande BH. Normalmente, a Copasa usa 8,5 mil litros por segundo desse conjunto, mas, por conta do esvaziamento das represas, estava utilizando apenas 5,5 mil. Outros 8,5 mil litros por segundo são puxados do Rio das Velhas, em Nova Lima, também na Grande BH. Juntos, os dois sistemas garantem o abastecimento de quase todos os moradores da região metropolitana.
A captação iniciada ontem foi construída entre julho e dezembro. Ela custou R$ 128,4 milhões aos cofres públicos e é um aditivo de uma Parceria Público-Privada (PPP) firmada entre o governo estadual anterior ao atual e a empresa Odebrecht para expansão do Sistema Rio Manso. Um dos pontos destacados pelo governador Fernando Pimentel foi a parceria com o Tribunal de Contas do Estado (TCE), que auxiliou o governo a construir um aditivo juridicamente perfeito, para evitar questionamentos que travassem a evolução da obra, considerada emergencial.
PRÓXIMOS FOCOS A presidente da Copasa, Sinara Meireles, falou sobre a missão cumprida com a solução emergencial para a Grande BH, e ressaltou que em 2016 a empresa terá condições de virar o foco para outras regiões, como o Norte de Minas. O último boletim da Coordenadoria Estadual de Defesa Civil (Cedec) mostra que 135 cidades mineiras decretaram situação de emergência por conta da seca este ano. “No plano de investimento da Copasa para 2016 estão previstos recursos para perfuração de poços, recuperação de sistemas de barragens, especialmente no Norte do estado. A ideia é ter cada vez menos caminhões- pipas e mais estruturas fixas para a oferta de água para a população, especialmente nos períodos de escassez e estiagem”, afirma a presidente da companhia.
PERDAS NO SISTEMA Sinara Meireles também disse que a Copasa ainda não tem uma nova estimativa da quantidade de água que se perde durante a distribuição por conta de vazamentos e gatos. No início da gestão, em janeiro, a empresa informou que 40% do que era produzido se perdia no caminho entre as estações de tratamento e a casa das pessoas. “O que temos que observar e pontuar formalmente é que as perdas de vazamento estão sendo fortemente atacadas com as autuações das equipes do caça-gotas. Agora, as perdas estruturais e que têm a ver em parte com gatos e captações clandestinas serão objeto também de autuação da Copasa, no próximo ano, de forma mais incisiva. Também já temos no nosso plano de investimento a previsão de trocas de equipamentos e registros”, completa. Segundo o balanço exclusivo do trabalho das equipes caça-gotas, o tempo médio para atender chamadas sobre vazamento na Grande BH caiu de nove horas para quatro horas e 29 minutos.