O bom velhinho, que vai aos mais recônditos cantos do mundo para realizar sonhos, encanta crianças há 17 séculos. A lenda de Papai Noel foi inspirada no monge Nicolau, que viveu na Turquia no século quatro, mas a cada Natal é atualizada por pessoas, muitas vezes anônimas, que propagam a magia, a bondade e a entrega. O Estado de Minas conta a história do Papai Noel Mirim, um projeto iniciado por jovens em Nova Lima, na Região Metropolitana de Belo Horizonte; o Papai Noel do Restaurante Popular na capital; e o Papai Noel dos Correios em todo o Brasil. São histórias de quem se ocupa com a solidariedade para levar alegria a crianças, jovens e até adultos com pouco ou quase nada.
Um presente que o administrador João Marcelo Dieguez, de 23 anos, recebeu mudou a vida do jovem e de muitas outras crianças. Quando tinha 9 anos, ele ganhou da mãe uma roupa de Papai Noel. Enquanto a meninada esperava ansiosa a visita da tradicional figura, o menino se vestia de vermelho para levar alegria aos mais pobres. “Estava na casa de minha avó quando decidimos pegar balas e chocolates para distribuir no Centro de Nova Lima.” A brincadeira de criança foi a semente para o projeto Papai Noel Mirim, que se transformou na organização não governamental que recebe o mesmo nome.
Dos 9 aos 12 anos, João entregou presentes a filhos de funcionários da empresa do tio. Nesse período, teve a ideia de procurar os comerciantes da cidade para que pudessem ajudar na compra de presentes. Ano a ano, o projeto cresceu, até que o Papai Noel passou a ser apoiado pelos bombeiros, que cediam o caminhão Magirus para fazer as vezes de trenó. A carreata passa em diversos bairros de Nova Lima, como Cristais, Alto do Gaia, Bela Falam, Nossa Senhora de Fátima, Honório Bicalho, Campo do Pires, Paulo Gaetane e Nova Suíça. “É uma maneira de contribuir com as famílias que não têm condições de presentear os filhos”, destaca João.
Em 2008, o jovem percebeu que ajudar apenas no período natalino era pouco e resolveu estender o trabalho social para todo o ano. A ação ganhou outros voluntários. Os jovens fazem campanhas do agasalho, arraial beneficente e futebol solidário. “Passamos a fechar o ano com a campanha de Natal, que é o ponto máximo de nosso trabalho”, diz João. O Papai Noel Mirim presenteia cerca de 1 mil crianças a cada Natal.
No último sábado, o bom velhinho não chegou de trenó. Veio pelo ar. Como João cresceu, quem assumiu o posto foi o menino José Olímpio, de 12. O helicóptero pousou às 11h no Campo do Vila Nova e o Papai Noel seguiu para a festa realizada na Secretaria de Desenvolvimento Social. Ao longo dos anos, mais de 600 voluntários doaram seu tempo para o projeto, que recebe doações de mais de 40 instituições. “Desde a infância, o Natal sempre foi algo muito mágico para mim. Nem todas as pessoas têm oportunidade de viver algo tão mágico. Para nós, o Papai Noel Mirim é uma forma de levar essa magia para outras pessoas.”
EMOÇÃO Há 19 anos, Mário de Assis, de 54, troca suas roupas pelas do bom velhinho para levar alegria para quem tem o Restaurante Popular como única alternativa de almoço no dia de Natal. A sugestão para que Mário se vestisse de Santa Claus foi dada a ele por Hebert de Sousa (1935-1997), o Betinho. Os dois foram apresentados pelo prefeito de Belo Horizonte na época, Célio de Castro (1932-2008). “No almoço natalino, cantei a música Frio da madrugada, da dupla Rio Negro e Solimões, para moradores de ruas e albergados que foram até lá. Eles choravam quando eu cantava. Isso me tocou muito.” No baú da memória, Mário guarda os gestos de agradecimento de quem não tem quase nada. “Certa vez, um morador de rua me perguntou se eu iria abraçá-lo, porque todas as pessoas corriam dele na rua.” Uma criança já entregou uma pedra de crack a ele com o pedido para que a livrasse do vício.
Os momentos de afeto o inspiram a buscar doações todos os anos. Para este, foram arrecadados 1,5 mil brinquedos. Mas até a noite de amanhã Mário recebe doações. “Hoje, felizmente, não presenteamos apenas moradores de ruas e albergados, mas famílias carentes que vão até lá, porque não têm o que cear.” E engana-se quem pensa que Mário apenas presenteia as pessoas. “Meu Natal está lá. A sagrada família está lá. Vejo o Menino Jesus em cada criança que almoça lá. Vejo São José na figura dos homens sofridos que estão lá e vão até lá por causa do carinho que recebem.”
O Papai Noel dos Correios deverá entregar cerca de 66 mil presentes até amanhã. O projeto, que completa 26 anos, é uma das ações de responsabilidade social mais importantes do Brasil e nasceu a partir da sensibilidade dos carteiros mineiros. Quando esses profissionais viam que muitas crianças esperavam ansiosos pelo presente do bom velhinho, eles recebiam as cartinhas e tentavam atender os pedidos. Neste ano, o projeto deu atenção especial às crianças de Bento Rodrigues e Paracatu de Baixo, distritos de Mariana que foram atingidos pela lama que desceu da Barragem do Fundão. No último sábado, foi realizada uma festa para a criançada com a presença do Papai Noel.
As bonecas e carrinhos nunca saem de moda. Mas muitos pedidos sensibilizam pela simplicidade. “Uma menina pediu um abraço do Papai Noel”, conta o coordenador da campanha, Paulo Fernando de Almeida Júnior. Outros pedidos emocionam por mostrar a simplicidade dos pequenos. “Um menino pediu uma toalha. Ele contou que era o menor de quatro irmãos. Por isso, era o último a enxugar, quando a toalha já estava molhada”, completa. Os Correios abrem o processo de apadrinhamento no período entre o início de novembro e os primeiros dias de dezembro para que as pessoas possam pegar uma carta para fazer o apadrinhamento. E todo mundo pode ser Papai Noel, desde as pessoas mais humildes como empresários se tornam padrinhos. “Para os Correios, é uma das maiores campanhas de mobilização do país.”