Jornal Estado de Minas

Diferenciar diagnósticos de doenças transmintidas pelo Aedes aegypti é desafio


Diferenciar as ameaças que voam com o Aedes aegypti é um desafio para os médicos e até mesmo para quem sofre com as diferentes doenças que o mosquito pode transmitir. Os primeiros sintomas de dengue, zika e chikungunya são clássicos de uma virose. “É a resposta do organismo à infecção viral. E ele responde igual a todos os três vírus. São necessários de cinco a seis dias para a pessoa diferenciar um do outro. No caso da dengue, ele é extremamente agressivo, com febre e dores pelo corpo. Esse é o mais preocupante, pois mata. O zika, tirando a relação com a microcefalia, é o mais brando, causa menos sintomas, nem dá febre.

Já o chikungunya tem como sintoma mais forte as dores nas articulações. Por isso, todo o sistema de saúde deve tratar, de cara, tudo como dengue, pois é o que leva a óbito”, sustenta o virologista Maurício Nogueira, professor da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (SP). Isso significa também que a arma principal nessa batalha continua sendo o transmissor dos três tipos de vírus, tanto em relação ao combate quanto ao uso de repelentes.


Além das já conhecidas orientações de não deixar água parada, retirar pratinhos de vasos de plantas, pneus e qualquer tipo de entulho no quintal, lotes vagos e áreas abertas onde a água de chuva possa empoçar, é grande a procura por substâncias que afastem o mosquito. E com ela vêm também as dúvidas sobre a segurança dos produtos, principalmente para mulheres grávidas. São três as substâncias indicadas pela Organização Mundial de Saúde (OMS): icaridina, Deet e IR3535.

Em relação ao alerta contra a dengue, segundo o virologista Maurício Nogueira, historicamente a doença tem seu ápice no Sudeste entre fevereiro e abril. “Das três ameaças, com exceção do zika vírus, que tem deixado todos nós muito preocupados, em função da sua ligação com a microcefalia, a dengue ainda é a pior das doenças, pois é altamente agressiva e mata”, reforça o especialista. Porém, ele destaca que o desafio do zika é inédito.
“O Brasil está vivendo uma situação única no mundo. Nunca houve uma contaminação e ameaça em uma população tão grande como agora. Para trabalhar com o zika, estamos organizando uma rede de 25 laboratórios no estado de São Paulo, treinando as pessoas para o diagnóstico, isolando o vírus e entendendo-o melhor. Cada grupo tem uma pequena contribuição para dar, já estuda um pouco do vírus, mas vamos expandir esses conhecimentos para grupos específicos, como grávidas, crianças e adultos. A história da microcefalia ainda é incipiente. Temos muita coisa para saber ainda”, explica.



Palavra do especialista

Glaysson Tassara, presidente da Sociedade Brasileira de Dermatologia – Regional Minas Gerais

Como deve ser feita a aplicação do repelente?

Somente nas áreas expostas a uma possível picada. Ao usar protetor solar, o repelente deve ser o último a ser aplicado. Para crianças, grávidas e adultos há indicação de quantidade por dia a ser aplicado do produto.
Bebês de até seis meses de vida não devem receber nenhum produto na pele. A grande preocupação neste momento é com o zika vírus, que está ligado aos casos de microcefalia. E pelos últimos dados que temos, a preocupação maior é com as mulheres grávidas. Não há nenhum trabalho científico no Brasil e no mundo que ligue o zika vírus a algum problema neurológico em crianças já nascidas. As mães estão preocupadas com isso, mas repito: não há, aparentemente, essa relação.

Há diversas dúvidas em relação ao uso de produtos caseiros, vitamina B12 para espantar o mosquito, o uso de perfume...

Perfumes e hidratantes com cheiro mais adocicado atraem o Aedes aegypti. A ingestão de vitamina B12 pode ter ação para evitar a picada do pernilongo comum, o culex, mas não está comprovado cientificamente que protege 100%. É preciso lembrar que estamos falando do Aedes aegypti, que transmite dengue, zika vírus e chikungunya. Esse inseto tem hábitos diferentes do mosquito comum. Estudo recente da The American Mosquito Control Association feito durante oito semanas com pessoas divididas em grupos que ingeriram vitamina B12, vitamina C e grupo neutro, que não ingeriu nada, mostrou que os remédios não afastaram os insetos. Produtos caseiros devem ser usados com parcimônia.
O óleo, se tiver cheiro, pode atrair o Aedes, em vez de afastá-lo. Comprovadamente, o que sabemos é que as substâncias repelentes de uso humano são o IR3535, a icaridina e o Deet. Essas três funcionam.

O senhor recomenda o uso de repelentes elétricos? E o que se pode dizer do risco de reações alérgicas?

Os elétricos geralmente são usados à noite ou quando a pessoa está em um ambiente fechado. Esses aparelhos, do ponto de vista da pele, não apresentam contraindicação. Pessoas com alguma alergia respiratória, como asma ou rinite, podem ter alguma intolerância. No caso de alergia na pele em função dos repelentes líquidos ou em creme, ao primeiro sinal de irritação, o ideal é retirar todo o produto com água. Não use nenhuma outra substância, pois, se a pele estiver vermelha, usar outro produto pode piorar.

É sabido que o Aedes tem hábitos mais diurnos. Por essa razão o uso do mosquiteiro estaria dispensado?

Acho que já não podemos contar somente com esse comportamento do Aedes aegypti. Ele é um inseto que se adaptou muito bem à vida urbana. A luz fria que usamos em vários ambientes pode ter mudado o comportamento biológico do mosquito.
Então, recomendo o uso do mosquiteiro nos quartos, sim. Ele é válido..