Os números são dos relatórios do Serviço Geológico do Brasil (CPRM), que monitora a Bacia do Rio Doce e emite boletins periódicos sobre suas condições. A lama que ainda passa estende conflitos ao longo dos municípios, uns arrasados pela força destruidora, como em Mariana e Barra Longa, outros privados de abastecimento, pesca, pecuária e mineração, como Governador Valadares, Resplendor, Galileia, Aimorés, Baixo Guandu, Colatina e Linhares. Ao todo, são 37 municípios afetados em Minas Gerais e no Espírito Santo.
Nesse tempo todo foi necessário o emprego de equipes de salvamento dos bombeiros militares, defesa civil municipal e estadual, Polícia Militar, Polícia Civil, Polícia Federal, Exército, Marinha, maquinário estadual e municipal para liberar estradas, pontes e vias de comunidades afetadas, sobretudo em Mariana e Barra Longa. De acordo com a lei ambiental, o custo de todas essas operações deverá ser cobrado da Samarco, por se tratar de recursos públicos. A mineradora, dona da barragem rompida, informa ter fornecido 370,14 milhões de litros de água potável e 40,6 milhões de litros de água mineral às comunidades atingidas até o último dia 31. Isso, sem contar as legiões de voluntários e os comboios de doações que lotaram ginásios nas cidades afetadas e que ainda chegam trazendo roupas, alimentos e água.
Ainda de acordo com a policial, que integra o comitê de gerenciamento da crise, muitas pessoas têm aproveitado essa situação para fazer estoques de água mineral em suas casas com o intuito de venda. “Mesmo com a necessidade de usar o CPF para conseguir os fardos de água, tem ocorrido sim essas ações que não chegam a ser ilegais, mas são imorais e prejudicam quem precisa da água e enfrenta filas enormes, porque tem gente querendo lucrar em cima dessa tragédia”, disse a major. Em Resplendor, a situação também é grave e na semana passada a população chegou a fechar a ferrovia Vitória Minas para cobrar uma solução para o abastecimento.
IRRIGAÇÃO Segundo o vice-presidente do CBH Foz do Doce, Carlos Sangalia, ribeirinhos ainda estão sem irrigar suas plantações e pescadores estão sem saber quando poderão entrar no rio e navegar no mar. “Faltam informações conclusivas sobre a situação dos peixes. Se estarão contaminados quando a qualidade da água melhorar, se a reprodução foi afetada e se será necessário fechar a pesca por mais tempo e, enquanto isso, assegurar o sustento dos trabalhadores”, afirma. Em novembro, os órgãos ambientais no Espírito Santo chegaram a divulgar a expectativa de a lama se dissipar. “Essa previsão não existe mais. Enquanto ainda tiver lama correndo de Minas para cá, ainda teremos sujeira aqui. E se a chuva vier forte, a lama que está nas margens e no fundo volta para o rio. Está tudo indefinido”, considera Sangalia.
O Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Doce (CBH-Doce) apresentou estudos e levantamentos sobre as áreas de situação hídrica crítica que atingem 17% da área da bacia.