Uber cobra até cinco vezes mais caro no réveillon e revolta usuários

Passageiros em BH e em outras capitais relatam corridas com preços exorbitantes na virada do ano

Daniel Camargos

Passageiros desembarcam de carro Uber na capital: no ano-novo, usuários relatam que pagaram R$ 325 para rodar 20 quilômetros - Foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A PRESS

 

Para grande parte dos usuários do Uber o encanto com o aplicativo ficou no ano passado, mais precisamente na noite do réveillon, quando o descompasso entre demanda dos usuários e oferta de carros multiplicou a tarifa em até cinco vezes em Belo Horizonte, levando a uma enxurrada de reclamações. “Queria ir da minha casa, no Bairro Padre Eustáquio, até o Bairro Planalto, mas, quando pedi, eles avisaram que a tarifa era dinâmica e o valor seria multiplicado por cinco vezes”, detalha a estudante de turismo Isabela Peixoto, de 22 anos.

Quando percebeu o aumento, Isabela desistiu e optou pelo táxi, pois calculou que a corrida custaria mais de R$ 150. “Paguei R$ 50 na bandeira dois do táxi. Se o Uber estivesse na tarifa normal, ficaria em R$ 30”, compara a estudante, que chegou a reclamar na página da empresa no Fecebook e recebeu a seguinte resposta da Uber: “Esta é a forma que encontramos para garantir que você tenha um carro disponível naquele momento se assim precisar. Ficamos felizes em saber que você conseguiu encontrar uma alternativa”.

A Uber explica que o preço dinâmico é uma maneira de “incentivar que mais motoristas se conectem ao aplicativo”. Com isso, entende a empresa, a disponibilidade de carros é maior. A empresa destaca ainda que os motoristas “voluntariamente” se tornaram parceiros do Uber e escolhem quando estarão disponíveis. “O mecanismo do preço dinâmico ajuda a equilibrar a oferta e a demanda, pois incentiva os motoristas a estarem disponíveis, por exemplo, após o fechamento de bares no sábado a noite ou durante uma tarde chuvosa.

Assim, nossos usuários podem confiar que não ficarão na mão”, entende a Uber. Outra explicação é que os usuários são avisados por um pop-up (janela que se abre no aplicativo) pedindo que confirme o conhecimento sobre a valoração do preço.

Porém, nem todos conseguiram compreender a lógica do da empresa e aceitaram – alegando desconhecimento – pagar mais caro pelo serviço. Os lamentos vieram de várias capitais do país. Uma arquiteta em Brasília imaginou que pagaria R$ 37 em uma corrida do Setor de Clubes Sul até Águas Claras, mas pagou R$ 556.

Na página da Uber no Facebook, os consumidores listaram uma série de reclamações. Um relata que aceitou a viagem com a tarifa dinâmica de 1,2 vezes, mas recebeu a cobrança equivalente a 3,3 vezes. “Uma viagem que era pra ter dado R$ 82, me cobraram R$ 268. Uso Uber muito e pisaram na bola assim comigo”, escreveu. Outro foi irônico e agradeceu a empresa por o que ele considerou a viagem mais cara da vida dele: R$ 325 para percorrer 20 quilômetros.

Procon

O coordenador do Procon da Assembleia Legislativa, Marcelo Barbosa, entende que os órgãos de defesa do consumidor não podem fazer nada: “O Uber não é regularizado e, por isso, não é uma relação de consumo. Está na informalidade”. Para Barbosa, reclamar do Uber é o mesmo que chegar ao Procon se queixando de um produto sem nota fiscal. De acordo com o Código de Defesa do Consumidor (CDC), é considerado prática abusiva o aumento de preços de serviços sem justa causa. Porém, Barbosa ressalta que como o Uber não é regularizado não pode ser considerado um fornecedor. “É como um cambista que oferece um serviço paralelo e coloca o preço que quer”, exemplifica.

 

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