A ideia de tentar diminuir a quantidade de poluição que chega à Lagoa da Pampulha pelos oito córregos afluentes da represa usando plantas para segurar a matéria orgânica está descartada pela Prefeitura de Belo Horizonte. A tecnologia, que foi batizada de jardins filtrantes pela Superintendência de Desenvolvimento da Capital (Sudecap), não será implantada porque a prefeitura confia nos compromissos firmados pela Copasa de que, em junho e dezembro, a companhia de saneamento alcançará uma cobertura de 90% e 95%, respectivamente, de esgoto canalizado na área de drenagem da bacia da lagoa, que atinge a capital e Contagem, na Grande BH. Atualmente, um total de 88% do esgoto que chega ao cartão-postal que concorre ao título de patrimônio mundial da humanidade já é coletado e tratado. Outro fator que levou a administração municipal a desistir da ideia, anunciada pelo próprio prefeito Marcio Lacerda em fevereiro do ano passado, foi a contratação dos serviços de recuperação química da qualidade da água da represa, com previsão de início no mês que vem e investimento público de R$ 30 milhões. Essa era a oitava intervenção prevista desde a década de 1970 para despoluir a lagoa.
“A Sudecap entende como mais adequado que se aguarde os resultados que serão alcançados tanto pelas ações da Copasa quanto pelos serviços de recuperação da qualidade da água da lagoa, a partir do entendimento de que ambas se configuram como aquelas necessárias e suficientes para o atingimento das metas pretendidas”, diz texto encaminhado pela assessoria de imprensa da Secretaria Municipal de Obras e Infraestrutura de Belo Horizonte. A intenção da prefeitura era iniciar com uma estação piloto no Córrego D’Água Funda/Bom Jesus. O modelo custaria R$ 6 milhões e seria estendido aos outros sete córregos que desembocam na represa. Em julho, Marcio Lacerda chegou a afirmar que as estações seriam viabilizadas em mais de um córrego antes da conclusão das obras de canalização do esgoto feitas pela Copasa. A empresa estatal enfrentou diversos problemas de desapropriações para viabilizar as intervenções, o que atrasou os trabalhos e jogou as novas iniciativas para junho deste ano (90% do esgoto canalizado) e dezembro (95%).
Enquanto isso, moradores da Vila Pérola, em Contagem, na Grande BH, continuam convivendo com o lançamento de esgoto a céu aberto em cursos d’água que chegam até a lagoa. O bairro é um dos que está incluído na previsão da Copasa para alcançar a marca prevista de 100 quilômetros de redes coletoras e interceptoras implantadas na atual licitação de obras em vigência. O presidente da Associação Comunitária dos Moradores da Vila Pérola (ACMVP), Renato Gherardi, mostra o córrego que passa pela região e recebe lixo e esgoto espremido em uma viela no meio de casas. “O grande problema é que ele fica muito fechado, praticamente escondido. Se fosse aberto no meio da rua, algum órgão público já teria resolvido esse tormento, que contribui para o mau cheiro e proliferação de ratos e baratas”, critica o líder comunitário.
O engenheiro Tonimar Oliveira, de 40 anos, mora na Rua Iguaçaba, na mesma Vila Pérola, e ainda guarda uma carta que recebeu de uma empreiteira contratada pela Copasa no ano passado avisando da necessidade de desapropriação de uma parte do terreno para a passagem da rede de esgoto, o que ainda não ocorreu. “Essa situação é muito triste, principalmente porque esse córrego é formado em uma nascente bem perto daqui, com água totalmente limpa. Esse recurso já era para estar separado do esgoto e revertido para o bem da população”, afirma.
Ligações Se em alguns lugares o drama da falta de saneamento persiste, em outros, as intervenções da Copasa vão dando um alento à população. Ontem, a reportagem flagrou trabalhadores fazendo ligações na Rua C, na Vila Lua Nova da Pampulha, também em Contagem. Morando há um ano em uma residência nessa rua, a dona de casa Laurentina Botelho, de 58, não aguentava mais o mau cheiro que o despejo irregular de esgoto causa na região. “Eu cuido diariamente da minha sobrinha e fico preocupada também por causa dela, que tem só um aninho. Aqui em casa já está tudo pronto, falta só ligar”, disse ela, enquanto aguardava os técnicos concluírem o serviço em uma casa antes de passar para a dela.
O biólogo e especialista em recursos hídricos Rafael Resck reconhece que a recuperação química das águas da lagoa, prevista para começar em fevereiro, é uma medida importante para acelerar um processo que poderia durar anos. Porém, ele adverte que o ideal seria começar o serviço com a interrupção brusca do esgoto que ainda entra todos os dias na lagoa. “Não adianta limpar a água da Pampulha com o tanto de esgoto que chega. É imprescindível que a fonte de material orgânico e de nutrientes seja minimizada radicalmente. Por ser um reservatório, a depuração desses resíduos é bem mais lenta na Pampulha”, afirma.
A Copasa sustenta que investiu R$ 102 milhões para garantir a implantação de 100 quilômetros de redes coletoras e interceptoras, além de nove estações elevatórias de esgoto na Bacia da Pampulha em BH e Contagem. Porém, para viabilizar todas essas obras, foi necessário desapropriar 17 áreas, cujos processos judiciais se arrastaram por um ano e meio, atrapalhando o prazo inicial de conclusão antes da Copa do Mundo. O segundo percalço enfrentado foi a desistência da empresa contratada para terminar essas obras, previstas para o mês passado, o que jogou para junho a conclusão dos 100 quilômetros de rede, que vão significar 90% do esgoto captado.
A terceira situação que dificulta o trabalho da companhia de saneamento é a expansão geográfica na área da bacia, o que levou a empresa a licitar uma segunda etapa de obra, para mais 13,4 quilômetros de redes, ao custo de 14 R$ milhões e o suficiente para captar os resíduos de mais 10 mil imóveis. A previsão de conclusão dessa parte é dezembro de 2016, chegando a 95% do esgoto que vai para a lagoa devidamente captado e levado até a Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) Onça. A Sudecap garante que a realização das obras de captação de esgoto até dezembro não vai atrasar a recuperação da qualidade da água da lagoa.
BALANÇO DE INTERVENÇÕES
Veja alguns planos postos em prática e outros que não saíram do papel para tentar despoluir a Pampulha
AGUAPÉS 1
Em meados da década de 1970 a lagoa foi invadida pelos aguapés. Segundo moradores mais antigos, a planta foi introduzida para tentar “limpar” o reservatório, que recebia grande quantidade de esgoto.
AGUAPÉS 2
Tentativa de solução, os aguapés viraram novo problema. Na década de 1990 começam as ações para retirar as plantas, que se tornaram problema crônico e cobriam grande parte do espelho d’água.
BARCO
No início de 2000, com a queda da oxigenação na água, foram usados barcos de forma emergencial, com algum efeito positivo. Ao girar, a hélice da embarcação misturava ar e água, permitindo introdução do oxigênio.
REDES COLETORAS
Também no ano de 2000, a Copasa dá início à construção das redes coletoras de esgoto e interceptação das ligações clandestinas. Trata-se de um novo tempo na trajetória do reservatório. A intervenção segue em curso atualmente e a previsão é que em dezembro de 2016 a Copasa chegue a 95% do esgoto interceptado.
FLOATFLUX
Em 2004, um sistema chamado floatflux entra em operação nos córregos Ressaca e Sarandi, para retirar 80% de matéria orgânica e 90% de fósforo – nutriente que propicia o crescimento de algas.
DRAGAGEM
Em 2013/2014 é feita dragagem para retirar sedimentos da lagoa. No total, foram 800 mil metros cúbicos de material.
RECUPERAÇÃO DA QUALIDADE DA ÁGUA
A licitação dos Serviços de Recuperação da Qualidade da Água da Lagoa da Pampulha chegou a ser suspensa por decisão da Prefeitura de BH, até que estivessem integralmente implementadas as ações de coleta e interceptação de esgotos na Bacia da Pampulha. O certame foi retomado, mas suspenso novamente por determinação do Tribunal de Contas do Estado (TCE). A prefeitura conseguiu reverter a decisão na Justiça. A previsão de início dos trabalhos, com duração de 22 meses, é fevereiro deste ano.
JARDINS FILTRANTES
Anunciada em fevereiro de 2015, a intervenção prometia usar plantas para segurar a matéria orgânica que entra na lagoa pelos oito córregos afluentes. Não saiu do papel e foi descartada, com aposta na soma das redes coletoras com a recuperação da qualidade da água.
Caçada ao esgosto
A Copasa mantém um programa denominado Caça-Esgoto, para identificar lançamentos indevidos e chegar a 100% dos resíduos coletados na Bacia da Pampulha. “Esse programa tem detectado lançamentos de esgoto que, para serem corrigidos, exigem melhorias na urbanização. Portanto, qualquer ação para aumentar o percentual do esgoto coletado terá que passar por ações conjuntas com Contagem e Belo Horizonte”, afirma a empresa em nota.
“A Sudecap entende como mais adequado que se aguarde os resultados que serão alcançados tanto pelas ações da Copasa quanto pelos serviços de recuperação da qualidade da água da lagoa, a partir do entendimento de que ambas se configuram como aquelas necessárias e suficientes para o atingimento das metas pretendidas”, diz texto encaminhado pela assessoria de imprensa da Secretaria Municipal de Obras e Infraestrutura de Belo Horizonte. A intenção da prefeitura era iniciar com uma estação piloto no Córrego D’Água Funda/Bom Jesus. O modelo custaria R$ 6 milhões e seria estendido aos outros sete córregos que desembocam na represa. Em julho, Marcio Lacerda chegou a afirmar que as estações seriam viabilizadas em mais de um córrego antes da conclusão das obras de canalização do esgoto feitas pela Copasa. A empresa estatal enfrentou diversos problemas de desapropriações para viabilizar as intervenções, o que atrasou os trabalhos e jogou as novas iniciativas para junho deste ano (90% do esgoto canalizado) e dezembro (95%).
Enquanto isso, moradores da Vila Pérola, em Contagem, na Grande BH, continuam convivendo com o lançamento de esgoto a céu aberto em cursos d’água que chegam até a lagoa. O bairro é um dos que está incluído na previsão da Copasa para alcançar a marca prevista de 100 quilômetros de redes coletoras e interceptoras implantadas na atual licitação de obras em vigência. O presidente da Associação Comunitária dos Moradores da Vila Pérola (ACMVP), Renato Gherardi, mostra o córrego que passa pela região e recebe lixo e esgoto espremido em uma viela no meio de casas. “O grande problema é que ele fica muito fechado, praticamente escondido. Se fosse aberto no meio da rua, algum órgão público já teria resolvido esse tormento, que contribui para o mau cheiro e proliferação de ratos e baratas”, critica o líder comunitário.
O engenheiro Tonimar Oliveira, de 40 anos, mora na Rua Iguaçaba, na mesma Vila Pérola, e ainda guarda uma carta que recebeu de uma empreiteira contratada pela Copasa no ano passado avisando da necessidade de desapropriação de uma parte do terreno para a passagem da rede de esgoto, o que ainda não ocorreu. “Essa situação é muito triste, principalmente porque esse córrego é formado em uma nascente bem perto daqui, com água totalmente limpa. Esse recurso já era para estar separado do esgoto e revertido para o bem da população”, afirma.
Ligações Se em alguns lugares o drama da falta de saneamento persiste, em outros, as intervenções da Copasa vão dando um alento à população. Ontem, a reportagem flagrou trabalhadores fazendo ligações na Rua C, na Vila Lua Nova da Pampulha, também em Contagem. Morando há um ano em uma residência nessa rua, a dona de casa Laurentina Botelho, de 58, não aguentava mais o mau cheiro que o despejo irregular de esgoto causa na região. “Eu cuido diariamente da minha sobrinha e fico preocupada também por causa dela, que tem só um aninho. Aqui em casa já está tudo pronto, falta só ligar”, disse ela, enquanto aguardava os técnicos concluírem o serviço em uma casa antes de passar para a dela.
O biólogo e especialista em recursos hídricos Rafael Resck reconhece que a recuperação química das águas da lagoa, prevista para começar em fevereiro, é uma medida importante para acelerar um processo que poderia durar anos. Porém, ele adverte que o ideal seria começar o serviço com a interrupção brusca do esgoto que ainda entra todos os dias na lagoa. “Não adianta limpar a água da Pampulha com o tanto de esgoto que chega. É imprescindível que a fonte de material orgânico e de nutrientes seja minimizada radicalmente. Por ser um reservatório, a depuração desses resíduos é bem mais lenta na Pampulha”, afirma.
A Copasa sustenta que investiu R$ 102 milhões para garantir a implantação de 100 quilômetros de redes coletoras e interceptoras, além de nove estações elevatórias de esgoto na Bacia da Pampulha em BH e Contagem. Porém, para viabilizar todas essas obras, foi necessário desapropriar 17 áreas, cujos processos judiciais se arrastaram por um ano e meio, atrapalhando o prazo inicial de conclusão antes da Copa do Mundo. O segundo percalço enfrentado foi a desistência da empresa contratada para terminar essas obras, previstas para o mês passado, o que jogou para junho a conclusão dos 100 quilômetros de rede, que vão significar 90% do esgoto captado.
A terceira situação que dificulta o trabalho da companhia de saneamento é a expansão geográfica na área da bacia, o que levou a empresa a licitar uma segunda etapa de obra, para mais 13,4 quilômetros de redes, ao custo de 14 R$ milhões e o suficiente para captar os resíduos de mais 10 mil imóveis. A previsão de conclusão dessa parte é dezembro de 2016, chegando a 95% do esgoto que vai para a lagoa devidamente captado e levado até a Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) Onça. A Sudecap garante que a realização das obras de captação de esgoto até dezembro não vai atrasar a recuperação da qualidade da água da lagoa.
BALANÇO DE INTERVENÇÕES
Veja alguns planos postos em prática e outros que não saíram do papel para tentar despoluir a Pampulha
AGUAPÉS 1
Em meados da década de 1970 a lagoa foi invadida pelos aguapés. Segundo moradores mais antigos, a planta foi introduzida para tentar “limpar” o reservatório, que recebia grande quantidade de esgoto.
AGUAPÉS 2
Tentativa de solução, os aguapés viraram novo problema. Na década de 1990 começam as ações para retirar as plantas, que se tornaram problema crônico e cobriam grande parte do espelho d’água.
BARCO
No início de 2000, com a queda da oxigenação na água, foram usados barcos de forma emergencial, com algum efeito positivo. Ao girar, a hélice da embarcação misturava ar e água, permitindo introdução do oxigênio.
REDES COLETORAS
Também no ano de 2000, a Copasa dá início à construção das redes coletoras de esgoto e interceptação das ligações clandestinas. Trata-se de um novo tempo na trajetória do reservatório. A intervenção segue em curso atualmente e a previsão é que em dezembro de 2016 a Copasa chegue a 95% do esgoto interceptado.
FLOATFLUX
Em 2004, um sistema chamado floatflux entra em operação nos córregos Ressaca e Sarandi, para retirar 80% de matéria orgânica e 90% de fósforo – nutriente que propicia o crescimento de algas.
DRAGAGEM
Em 2013/2014 é feita dragagem para retirar sedimentos da lagoa. No total, foram 800 mil metros cúbicos de material.
RECUPERAÇÃO DA QUALIDADE DA ÁGUA
A licitação dos Serviços de Recuperação da Qualidade da Água da Lagoa da Pampulha chegou a ser suspensa por decisão da Prefeitura de BH, até que estivessem integralmente implementadas as ações de coleta e interceptação de esgotos na Bacia da Pampulha. O certame foi retomado, mas suspenso novamente por determinação do Tribunal de Contas do Estado (TCE). A prefeitura conseguiu reverter a decisão na Justiça. A previsão de início dos trabalhos, com duração de 22 meses, é fevereiro deste ano.
JARDINS FILTRANTES
Anunciada em fevereiro de 2015, a intervenção prometia usar plantas para segurar a matéria orgânica que entra na lagoa pelos oito córregos afluentes. Não saiu do papel e foi descartada, com aposta na soma das redes coletoras com a recuperação da qualidade da água.
Caçada ao esgosto
A Copasa mantém um programa denominado Caça-Esgoto, para identificar lançamentos indevidos e chegar a 100% dos resíduos coletados na Bacia da Pampulha. “Esse programa tem detectado lançamentos de esgoto que, para serem corrigidos, exigem melhorias na urbanização. Portanto, qualquer ação para aumentar o percentual do esgoto coletado terá que passar por ações conjuntas com Contagem e Belo Horizonte”, afirma a empresa em nota.