A crise vai atravessar o samba – e as marchinhas – em pelo menos 15 cidades mineiras, que terão a festa de Momo reduzida neste ano. Em outros três municípios do interior de Minas Gerais, o descompasso entre receitas e despesas provocou o cancelamento dos festejos. A penúria das prefeituras alcança até mesmo a tradição histórica do carnaval de Ouro Preto e Diamantina, com festas reconhecidas no país inteiro e que terão comemorações prejudicadas. A crise é mais um golpe nos foliões, pois no ano passado a falta de água levou ao cancelamento em 23 lugares no ano passado.
Em Diamantina, a prefeitura transferiu para a iniciativa privada a responsabilidade de arcar com os principais custos, garantindo apenas os serviços essenciais, como limpeza urbana e banheiros químicos. Em Ouro Preto, faltando menos de um mês para o carnaval, a festa ainda depende da escolha de uma empresa, após lançamento do edital, para organizar a festa e angariar patrocínio.
“A estrutura será menor e não vai ter recurso da prefeitura. É culpa da crise, mas também da queda de arrecadação provocada pela paralisação das atividades da Samarco”, diz o secretário de Turismo, Indústria e Comércio da cidade histórica, Gílson Fernandes. O rompimento da barragem da mineradora, em novembro do ano passado, afetou os cofres de Ouro Preto e também de Mariana, onde as atividades da empresa correspondem a 80% da receita da cidade.
Em Mariana, o secretário-adjunto de Cultura e Turismo, José Luiz Papa, explica que foram feitas várias reuniões para decidir se haveria investimento na folia: “Entendemos que precisávamos fazer algo. A crise é generalizada e Mariana passou por uma tragédia, mas o povo merece um carnaval digno”, afirma. “O investimento não deve passar de R$ 600 mil, sendo que no ano passado foi de quase R$ 1 milhão. Terá menos palcos e as bandas serão mais baratas”, acrescenta o secretário.
Enxugamento
Na licitação aberta pela Prefeitura de Diamantina para escolher uma empresa que ficaria responsável por garantir uma estrutura mais modesta de carnaval, não houve interessados. Restou à administração da cidade reunir parceiros privados, modelo que tinha sido descartado, para manter a festa que é uma das mais famosas de Minas e do Brasil. “Só que, como vai ser bastante reduzido, vamos entrar basicamente com serviços básicos, como limpeza urbana, licenciamento das atividades e banheiros químicos”, afirma o secretário de Cultura de Diamantina, Walter Cardoso França Júnior.
Serão apenas dois pontos oficiais de festa, metade do que ocorreu no ano passado. Além da Praça do Mercado, os foliões também terão estrutura na Rua da Quitanda, o que custar menos de R$ 500 mil à prefeitura. “Há alguns anos, chegamos a gastar mais de R$ 1 milhão em uma festa que recebia 40 mil pessoas por dia. Este ano, a expectativa é que sejam cerca de 10 mil por dia. Estamos enxugando ao máximo”, completa Cardoso.
Três cidades do Campo das Vertentes diminuíram os investimentos. Em Prados, só haverá os blocos carnavalescos e o investimento caiu de R$ 190 mil no ano passado para R$ 50 mil neste ano. “O prefeito decidiu priorizar a saúde e ajudar a Santa Casa”, afirma a secretária de Turismo, Keila Maria Velho. Na vizinha São João del-Rei, o investimento caiu de R$ 1,1 milhão no ano passado para R$ 200 mil neste ano. Não haverá desfiles das escolas de samba e, segundo o secretário de Cultura, Pedro Leão, parte de dinheiro que iria para as agremiações irá para operação tapa-buracos (R$ 200 mil) e outra parte (R$ 150 mil) para compra de medicamentos. Em Tiradentes, também houve redução do investimento, de R$ 250 mil para R$ 200 mil, e o prefeito Ralph Justino teme um excesso de foliões, pois as duas cidades vizinhas terão o carnaval enfraquecido. “Terá blitzes todos os dias nas entradas da cidade. O nosso carnaval tem perfil mais familiar”, avisa.
Contas No ano passado, o prefeito de Formiga, Moacir Ribeiro da Silva (PMDB), cancelou o carnaval por conta da crise de abastecimento de água e devido às dificuldades financeiras que já apertavam as contas públicas. Este ano, o cancelamento está mantido, exclusivamente pela falta de verba. “Não conseguimos nem quitar o 13º de todos os funcionários. Entre saúde e carnaval, vou me preocupar mais com a área da saúde”, justifica.
Já o prefeito de Cláudio, José Rodrigues Barroso de Araújo (PRTB), trocou a festa na data oficial por um pré-carnaval, nos dias 22 e 23 de janeiro, com investimento de no máximo R$ 120 mil, bem abaixo do que ele gastaria se fizesse no período oficial. “O financeiro pesou demais esse ano. Acredito que a questão de carnaval de rua vai ficar restrito às cidades históricas e, mesmo assim, vai ter que passar para a iniciativa privada. Essa é a tendência das administrações. A dificuldade financeira faz com que tenhamos que empregar o recurso em outras frentes”, afirma. Em Lavras, no Sul de Minas, o prefeito Silas Costa Pereira (PMDB) foi mais um a cancelar a festa momesca pela falta de dinheiro. Os desfiles de blocos carnavalescos, de escolas de samba e apresentação de bandas, que tradicionalmente aconteciam em uma praça da cidade, não vão ocorrer em 2016. “Estamos passando por situações difíceis e o cancelamento do carnaval foi inevitável, infelizmente”, lamentou Pereira.
O drama da falta de água foi vencido em Visconde do Rio Branco, na Zona da Mata, com a perfuração de 12 poços artesianos e a construção de mais dois reservatórios, segundo o prefeito Iran Silva Couri (PT). Graças a essas intervenções o carnaval será retomado, só que com R$ 200 mil, 50% a menos do que foi investido em 2014. “Vamos fazer especialmente com bandas mais baratas, porque o carnaval mais forte de nossa região é aqui em Rio Branco. Ubá, que é aqui do lado e tem 110 mil habitantes, não tem festa”, afirma.
Freio na folia
Cidades que já cancelaram o carnaval em 2016
Cláudio
Formiga
Lavras
Cidades que vão diminuir a festa
Abaeté
Arcos
Carmo da Mata
Diamantina
Iguatama
Itambé do Mato Dentro
Mariana
Moema
Ouro Preto
Passa Tempo
Prados
Santo Antônio do Rio Abaixo
São João del-Rei
Tiradentes
Visconde do Rio Branco
Enquanto isso...
...Fim de semana
de ensaios em BH
A folia toma conta de Belo Horizonte, neste fim de semana, com a realização da tradicional Praia da Estação, movimento político e cultural que está na gênese do carnaval de rua da capital e que congrega diversos grupos e foliões. Ao comemorar seis anos, o evento abre a temporada de festas, na praça de mesmo nome, neste sábado. No mesmo dia, entre 10h e 13h, o bloco o Baiana Ozadas realiza ensaio aberto no Largo da Saideira (Avenida Cristiano Machado, 3.450, no Bairro União). No domingo é a vez do bloco Ordináááários ensaiar no mesmo local e horário. A partir de agora os ensaios se intensificam. Para a outra semana, aquecem os tamborins os ritmistas do Mamá na Vaca, Unidos de Samba de Queixinho e Tchanzinho Zona Norte.