Além da doação de mais de R$ 1 milhão em dinheiro, feita em depósitos médios de R$ 50 e R$ 100, os brasileiros enviaram 180 toneladas (t) de alimentos, 300 mil litros de água, centenas de calçados e 200t de roupas de homens, mulheres e crianças. De acordo com informações da prefeitura local, as roupas ocuparam três espaços, estando agora o último pela metade. No total, as doações ficaram em quatro galpões – três para armazenagem dos donativos e um para distribuição no Centro de Convenções. No auge da crise provocada pela descarga de lama da barragem no Rio Doce, galões de água recebidos em Mariana ajudaram a socorrer moradores de Resplendor, Governador Valadares, Aimorés e Belo Oriente, na Região Leste do estado.
Passados mais de dois meses da maior tragédia socioambiental do Brasil, quem chega ao Centro de Convenções, na Avenida Getúlio Vargas, fica impressionado com a organização: vestidos, calças compridas, camisas e outras vestimentas penduradas em cabides; e sapatos, sandálias, tênis e chinelos separados por sexo e tamanho. Antes de ser penduradas e ficar à disposição dos ex-moradores das comunidades destruídas, as peças passaram por uma triagem, de forma a eliminar o que não estava bom. Em apoio, muitas igrejas levaram peças para que pudessem ser lavadas e costuradas, retornando ao estoque de doação.
GRATIDÃO No dia a dia, o movimento é constante no Centro de Convenções, havendo muitos sapatos nas chamadas big bags (sacolas grandes), com capacidade para armazenar uma tonelada.
Com os olhos ainda machucados pela tragédia e o sentimento de que a vida precisa seguir, em especial pela família numerosa, Gracíola contou que sua casa ficava numa parte mais alta de Bento Rodrigues, mas, devido à terra arrasada na qual o subdistrito se tornou, foi obrigada a deixar o lugarejo para sempre. Na memória, está a lembrança da netinha Emanuelly Fernandes, de 5 anos, chamada carinhosamente de Manu. A menina, filha de Pâmela, grávida de seis meses, foi encontrada morta nas margens de um rio em Ponte de Gama, a 100 quilômetros de Bento Rodrigues, cinco dias depois da catástrofe.
Já Terezinha Maria dos Santos, de 62, mãe de quatro filhos e com dois netos, não foi tão feliz na busca. “Para mim é mais difícil, pois calço 40”, afirmou Terezinha, lembrando ser raro esse tamanho de pé feminino. Ao avistar um tamanco, comentou que tal calçado provoca dor nas pernas e um chinelo branco tinha aspecto muito masculino. “Não tem jeito de encontrar um par...”, afirmou..