A Grande BH esteve prestes a entrar em rodízio de fornecimento de água em outubro do ano passado e isso só não ocorreu devido às garantias que a Copasa teve de que a captação de 5 mil metros cúbicos, inaugurada em 21 de dezembro, no Rio Paraopeba, em Brumadinho, ficaria pronta até dezembro. A informação é da diretora-presidente da Copasa, Sinara Meireles, em entrevista concedida ontem ao Estado de Minas, um ano depois de a empresa ter declarado que a situação dos reservatórios era crítica e que profundas medidas de economia e combate ao desperdício precisariam ser tomadas para que um racionamento não ocorresse.
“Se não fosse essa obra, já estaríamos num rodízio, uma vez que o Sistema Paraopeba hoje está mais baixo do que quando anunciamos que a situação de abastecimento era crítica. Além de Belo Horizonte, outros 28 municípios da Grande BH poderiam ter de enfrentar essas medidas”, afirma Sinara. Outras duas medidas necessárias para evitar o cenário de crise não foram atingidas nestes primeiros 12 meses. A economia de água pelos consumidores da Copasa não atingiu os 30% necessários – meta estipulada pela companhia –, chegando a 16% em março. A empresa também não conseguiu impedir que 40% da água produzida fosse perdida para vazamentos e ligações clandestinas, o que deverá ser atacado neste ano.
Atualmente, os três reservatórios que compõem o Sistema Paraopeba (Rio Manso, Serra Azul e Vargem das Flores) atuam extremamente abatidos, com apenas 23,2% de seu volume útil, uma quantidade 23,4% inferior ao que apresentavam em 21 de janeiro, quando as três represas juntas somavam 30,25% do volume captável (veja quadro). O que se encontra em estado mais crítico é o Sistema Serra Azul, com 7,3%, no limiar do seu volume morto que é a porção que não é captada pelas estruturas instaladas. Foi justamente a situação de penúria do Serra Azul que fez a Copasa admitir, em 22 de janeiro de 2015, que a Grande BH estava em estado crítico, depois de o EM mostrar um dia antes que o segundo maior reservatório do Sistema Paraopeba operava com 5,73% de sua capacidade.
Neste ano, a reportagem retornou ao ponto em que tinha flagrado o nível baixo do Serra Azul e se deparou com uma situação bastante semelhante à que desencadeou o decreto de crise e a formação de uma força-tarefa estadual para buscar soluções de abastecimento. O reservatório se tornou um vale de terra trincada, pedras estorricadas pelo sol escaldante e raízes mortas destocadas. No fundo, entre empoçamentos e fios de água que atravessam o cenário agreste, peixes saltam e agitam as águas como se estivessem procurando espaço para nadar. Segundo os seguranças do reservatório, pescadores que tentavam invadir clandestinamente o manancial para pescar se enganaram em pensar que isso facilitaria a captura de peixes, porque a travessia do terreno ressecado não tem cobertura e os faz alvos facilmente identificáveis para a vigilância.
Pontes que estavam no fundo do lago, pertencentes a antigas estradas rurais alagadas para constituir o reservatório, na década de 1980, ressurgiram como marcos da seca. Ilhas de bancos de areia e terra salpicaram o espelho d’água clara e rasa que antes dominava o vale como um lago extenso de 8,9 quilômetros quadrados. Duas das três comportas da torre de captação estão muito acima do nível do reservatório, sendo que a terceira e última está prestes a ficar totalmente exposta e sem condições de fornecer mais água. A barragem que fica no município de Juatuba está com quase toda a sua estrutura de 48 metros de altura exposta acima da linha da água e o vertedouro está completamente seco e com mato crescendo entre o concreto.
De acordo com a diretora-presidente da Copasa, a entrada em funcionamento da captação do Rio Paraopeba fez com que a Grande BH superasse a crise hídrica e, como os reservatórios são interligados, permitirá poupar os represamentos do sistema de mesmo nome para que possam se recuperar em até três anos. Serra Azul, por exemplo, contribuía com 2,7 metros cúbicos de água por segundo e agora só fornece 0,2. “Quando um reservatório estiver em situação ruim, teremos flexibilidade para buscar nos outros e na captação do Rio Paraopeba uma flexibilidade que o sistema anterior não permitia e fazia com que só dependêssemos das chuvas”, disse Sinara. Levantamento da empresa mostra que as chuvas na área dos reservatórios alcançaram 1.221 milímetros, superior ao ano de 2014 (944mm), mas ainda 21,4% abaixo da média histórica, de 1.553 milímetros.
vazamentos e ‘gatos’ Segundo a diretora-presidente da Copasa, o plano de rodízio já estava pronto para ser executado caso as obras do Rio Paraopeba não terminassem a tempo. “Já tínhamos quais regiões poderiam ficar sem fornecimento por um ou dois dias, todo esse sistema estava preparado. Seria muito custoso, não apenas por sermos uma empresa de fornecimento de água, mas também porque a baixa de pressão no sistema poderia trazer vazamentos e defeitos que ampliariam o tempo sem água em caso de necessidade de reparos”, disse.
Uma das metas anunciadas quando a Copasa admitiu a crise hídrica foi atacar o desperdício, que chegava a 40% da água produzida. A diretora-presidente da companhia admite que o resultado disso foi irrisório, mas afirma ser esse um dos objetivos deste ano.
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