Sobrevoo não detecta lama em Abrolhos, mas turismo sente efeitos

De acordo com representantes de prefeituras da região, já houve cancelamento de reservas em pousadas por causa do risco de que a mancha de turbidez avance

Valquiria Lopes
Equipe do governo baiano sobrevoou ontem o Parque Nacional de Abrolhos e não localizou mancha - Foto: Divulgação/Prefeitura Municipal de Caravelas

Destino turístico de milhares de viajantes todos os anos, o balneário de Abrolhos, no Sul da Bahia, já começou a sentir os efeitos negativos no setor diante da possibilidade da chegada da lama que vazou da Barragem do Fundão, em Mariana, na Região Central de Minas, e seguiu em direção ao litoral brasileiro. De acordo com representantes de prefeituras da região, já houve cancelamento de reservas em pousadas por causa do risco de que a mancha de turbidez avance para Abrolhos. Na quinta-feira, o Ibama detectou em sobrevoo uma mancha seguindo em direção paralela à costa. “Temos quase certeza de que essa lama vem da barragem”,  disse a presidente do Instituto, Marilene Ramos, na quinta-feira. Ontem, a constatação foi rebatida em segunda vistoria aérea. Equipe formada por representantes do governo baiano, entre eles o secretário de Estado de Meio Ambiente, Eugênio Spengler, e de prefeituras do Extremo Sul do estado, não detectou nenhum tipo de sedimento visível que se assemelhe à lama que vazou da barragem da Samarco e chegou litoral capixaba, vinda pelo Rio Doce.

Apesar disso, os órgãos ambientais envolvidos no monitoramento da lama vão analisar amostras de água coletadas na região do Parque Nacional de Abrolhos para confirmar ou não a presença dos rejeitos de minério no mar naquela localidade. “Existe uma preocupação da Câmara de Turismo da Costa das Baleias (que representa o setor no Sul da Bahia) sobre a repercussão negativa da chegada da lama, caso ela ocorra. Mas queremos rebater isso, porque o litoral está com água limpa e ótima cor”, afirmou o secretário de Meio Ambiente de Caravelas, Fábio Negrão.
Coordenador da Câmara, o turismólogo e empresário Wander Noronha confirma o receio. “O setor vive uma apreensão sobre o que vai acontecer, porque o acidente teve uma magnitude muito grande e há uma preocupação sobre o efeito negativo desse vazamento”, afirma. Ele adianta, no entanto, que a distância da foz do Rio Doce até Abrolhos é muito grande e o material deve se dissolver sem atingir o balneário.

As amostras de água foram recolhidas ontem por técnicos do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), ligado ao Ministério do Meio Ambiente, e o resultado das análises deve ficar pronto em até 10 dias. “Somente após as análises poderemos comprovar se a lama da barragem avançou para Abrolhos. Mas há indícios de que isso possa ter ocorrido”, disse Fábio Negrão. O secretário afirmou, no entanto, que o aspecto visual da água em Abrolhos é bom e que não há motivos para suspender a visitação ao balneário e nem às prais do Sul do estado.

O sobrevoo de ontem foi feito entre o município de Mucuri e o distrito de Trancoso, pertencente a Porto Seguro. De acordo com o secretário de Meio Ambiente de Caravelas, Fábio Negrão, que esteve presente nas duas ocasiões, a mancha identificada na quinta-feira não tinha características de maré ou de dragagem, que podem ser resultado de movimentações na costa. “A mancha não ia na direção da praia. Estava correndo paralelamente ao continente”, disse.

Ontem, a Samarco divulgou nova nota em que afirma ser “muito baixa” a probabilidade de a mancha de rejeitos de minério da Barragem do Fundão ter atingido o arquipélago de Abrolhos. Depois de distribuir texto pela manhã em que admitia acreditar que a mancha detectada pelo Ibama era originária da mistura de lama e rejeitos liberada com o rompimento da barragem em Mariana, a mineradora sustentou, mais tarde, que novos dados indicavam o contrário. “A empresa também mobilizou equipes para a coleta de amostras que serão avaliadas em laboratório”, diz trecho da nota.

A mineradora informou ainda que não existe vazamento na barragem de Fundão e Santarém, mas que, em função das chuvas neste período, ocorre movimentação de rejeitos sólidos. A empresa está executando obras para reforço das estruturas remanescentes bem como construção dos diques de contenção de rejeitos.

INVESTIGAÇÃO Já está nas mãos da Justiça em Mariana o pedido da Polícia Civil de dilação do prazo da investigação da tragédia com a barragem de Fundão, da empresa Samarco – controlada pela Vale e a BHP Billinton. O rompimento da mina deixou 17 pessoas mortas, duas desaparecidas e é considerada a maior tragédia ambiental do Brasil.
Essa é a segunda vez que a corporação pede mais tempo para apurar as causas e responsabilidades do evento. “A apuração depende de laudos complexos que levam tempo para serem concluídos”, justificou o delegado Rodrigo Bustamante, responsável pelo caso..