A Defesa Civil de Belo Horizonte vai buscar apoio do Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) para combater focos do mosquito Aedes aegypti em imóveis abandonados e lotes vagos da capital. Está marcada para a próxima semana reunião entre o órgão municipal e a Promotoria de Urbanismo e Meio Ambiente para definição de estratégias que garantam legalidade às entradas forçadas em prédios com construção paralisadas ou casas fechadas. Por falta de limpeza, há o acúmulo de lixo nesses locais, o que facilita a proliferação do inseto. “Não estamos conseguindo uma resposta efetiva nesses imóveis abandonados. Por meio de uma ação civil pública, vamos acionar as massas falidas ou proprietários”, afirmou o coordenador da Defesa Civil, coronel Alexandre Lucas, que também está à frente do grupo executivo. Segundo ele, um levantamento está sendo feito, por meio das regionais, para identificação dos imóveis abandonados.
“Assim que estiver pronto, esse material será encaminhado ao MP para que o poder público tenha conhecimento do problema. Queremos chamar os donos desses imóveis à responsabilidade, e, para isso, precisamos de suporte legal”, informou a Defesa Civil por meio de sua assessoria de imprensa. O MP não se pronunciou sobre o assunto.
Em BH, os mais de 750 mil domicílios no município deverão ser vistoriados nos próximos dias.
Depois de a Prefeitura de Belo Horizonte decretar situação de emergência, no fim de dezembro, 6 mil servidores passaram a ter a missão de debelar a infestação do mosquito na capital. Para ir a campo, o grupo segue mapeamento de risco que aponta os locais críticos nas nove regionais. Em Belo Horizonte, 15.934 casos de dengue foram confirmados em 2015 e há 13 casos de microcefalia em investigação, por suspeita de associação ao zika vírus.
A Secretaria Municipal de Saúde ainda não divulgou as notificações de dengue de 2016. O próximo balanço deve ser divulgado amanhã. Mas, com base nas estatísticas do ano passado, um dado chama atenção, quando observada a quantidade de mutirões de limpeza realizados no mesmo período. Mesmo tendo registrado, em 2015, número cinco vezes maior de confirmações em relação a 2014, o total de mutirões para limpeza da cidade foi 37% menor (175) que o do ano anterior. Segundo a gerente de Vigilância em Saúde, Maria Tereza Oliveira, não houve demanda maior por mutirões por parte das regionais, responsáveis por requisitar as ações. Ainda segundo ela, a elevação no número de limpezas de 2014 é reflexo do alto número de casos confirmados em 2013, quando foram 96.121 confirmações. Segundo a secretaria, três mutirões foram realizados até o dia 12, e, nessas ações, foram vistoriados 12 mil imóveis e recolhidas cerca de 6 toneladas de inservíveis.
O contingente que sai às ruas para o combate é composto por agentes de saúde, de endemia, servidores da Defesa Civil, da Companhia Urbanizadora de Belo Horizonte (Urbel) e até guardas municipais. As igrejas foram convocadas também para ajudar no mutirão. “Fizemos forte apelo aos líderes religiosos para que cobrem ação efetiva dos fiéis. O problema da dengue é que todo mundo sabe o que fazer, mas muitas vezes não faz. As pessoas têm que olhar tudo, todas as calhas e locais onde o mosquito possa procriar. Isso deve ser feito toda semana”, ressalta. De maneira auxiliar, a prefeitura também procura alertar sobre os cuidados por meio materiais informativos afixados nos coletivos, centros de saúde e metrôs. “Vamos colocar uma mensagem no telefone 156”, informou o coronel. O número é o canal telefônico aberto pela prefeitura para solicitação de diversos serviços.
ESTRATÉGIA O pesquisador da Fiocruz Luciano Moreira lembra que, em 1958, o Brasil ficou livre do mosquito Aedes aegypti, mas, no final da década de 1960, o inseto voltou a circular no país.
Enquanto isso...
Ministro “torce” por contágio
O ministro da Saúde, Marcelo Castro, cometeu mais uma gafe ontem, ao afirmar, em tom de brincadeira, que torceria para que mulheres se contaminem pelo zika antes da idade fértil. O comentário foi feito quando Castro falava sobre os projetos de desenvolvimento de vacina contra o vírus, que chegou ao Brasil no ano passado, já circula em 20 estados e está relacionado ao surto de nascimento de bebês com microcefalia. O ministro disse que o imunizante, uma vez desenvolvido, seria fornecido para parte da população considerada mais suscetível. “Não vamos dar vacina para 200 milhões de brasileiros. Mas para pessoas em período fértil. E vamos torcer para que mulheres antes de entrar no período fértil peguem a zika, para elas ficarem imunizadas pelo próprio mosquito. Aí não precisa da vacina”, disse. Três laboratórios públicos se preparam para iniciar projetos para desenvolvimento de vacinas que protejam contra o zika. Castro afirmou que Evandro Chagas, Biomanguinhos e Instituto Butantã já começam a se articular para, em colaboração com outros centros de pesquisa internacionais, iniciar as pesquisas.
.