Confirmação de dois casos de zika acende alerta em Minas Gerais

Vírus transmitido pelo Aedes aegypt foi contraído por gestante em Ubá e por recém-nascido em Curvelo

Sandra Kiefer Alessandra Alves
"Não temos outra fonte de atuação que não seja o combate ao vetor (mosquito)" Rodrigo Said, superintendente estadual de Vigilância Epidemiológica, Ambiental e de Saúde do Trabalhador - Foto: Rodrigo Clemente/EM/D.A Press

A caçada ao mosquito Aedes aegypti em Minas Gerais passa a se dar não mais em função da dengue, mas também por causa da transmissão do zika vírus, que provoca febre baixa, manchas vermelhas no corpo e conjuntivite nos olhos. Dois casos foram confirmados ontem pela Secretaria de Estado da Saúde, sendo uma gestante no município em Ubá, que já havia decretado estado de emergência com mais de 200 casos de dengue na Zona da Mata, e o de um recém-nascido de Curvelo, na Região Central de Minas.


Além de apresentar os sintomas da zika, o bebê, nascido em dezembro, também foi enquadrado no protocolo de microcefalia do Ministério da Saúde por apresentar crânio com 32 centímetros de perímetro. O superintendente de Vigilância Epidemiológica da SES, Rodrigo Said, que esteve reunido ontem com representantes da prefeitura de Curvelo, ressalvou que, embora esteja confirmada no protocolo de microcefalia, tal condição pode não se confirmar no futuro, já que o bebê nasceu prematuro, com 2.900 gramas e 46 centímetros. Caso a criança venha a ter desenvolvimento normal, a microcefalia em função do crânio pequeno poderá ser descartada, como já ocorreu em Minas no final do ano passado, com um bebê nascido no Hospital Sofia Feldman.

Outro indicativo de que o bebê de Curvelo ainda tem chances de não ter microcefalia é que a mãe dele afirma não ter tido sintomas da doença. Neste caso, como o recém-nascido apresenta os sinais de contaminação pelo vírus, a mãe poderia ser assintomática, ou seja, incluída no grupo do 80% de pessoas que contraem a doença, mas nunca apresentam os sintomas. Informações preliminares indicam que a mulher não tem histórico de deslocamentos recentes para fora de Curvelo.

Autoridades ainda investigam se há relação de 17 casos de microcefalia com o zika vírus em 12 municípios mineiros. Segundo o superintendente de Vigilância Sanitária, Belo Horizonte está na lista das cidades com suspeita da presença do novo tipo de vírus, mas os nomes de outros municípios não serão divulgados para evitar pânico. Não há indicação de medidas mais drásticas a tomar como o isolamento dos doentes, segundo Rodrigo Said.

“Não temos outra fonte de atuação que não seja o combate ao mosquito, com o trabalho agentes públicos de casa em casa”, disse. “Mas a missão não pode ser unilateral, temos de contar com a participação efetiva da população. Nosso inimigo em comum continua sendo o Aedes aegypti”, completou.

Gestação Em relação à grávida de Ubá, que chegou a ter zika durante a gestação, ainda não está confirmado se o feto terá microcefalia. “Ainda estamos aguardando o resultado da tomografia que será enviado pelo município”, afirmou o superintendente. Said disse que as grávidas devem redobrar os cuidados. “A gestante deve se munir do máximo de proteção, como repelentes e telas anti-mosquito”.

Segundo a SES, qualquer gestante que apresente manchas vermelhas no corpo (eczemas), olhos vermelhos, febre baixa, ou ainda qualquer situação de abortos espontâneos ou de fetos natimortos, todas as situações deverão ser comunicadas às autoridades para investigação de suspeita de zika vírus.

Entenda a doença e o vírus


» É uma doença viral autolimitada, de evolução benigna, caracterizada pelo quadro clínico de febre, hiperemia conjuntival (olhos vermelhos), dores nas articulações e erupção cutânea com pontos brancos ou vermelhos.

» Esse vírus foi isolado pela primeira vez em 1947, a partir de amostras de macaco Rhesus na floresta Zika, em Uganda, na África.

» Nas Américas, o zika vírus foi identificado na Ilha de Páscoa, território do Chile no Oceano Pacífico, 3.500 quilômetros distante do continente, no início de 2014.

» Em maio deste ano, o Ministério da Saúde brasileiro, por nota oficial, confirmou a infecção por zika vírus em 16 pessoas na Região Nordeste.

TRANSMISSÃO

» A principal via de transmissão é vetorial, por meio da picada de mosquitos Aedes aegypti. O período de incubação (entre a picada do mosquito e o início de sintomas) é de cerca de quatro dias.

SINTOMAS

» Febre baixa, olhos vermelhos, sem secreção e sem coceira, artralgia (dores na articulação) e exantema maculo-papular (erupção cutânea com pontos brancos ou vermelhos), dores musculares, dor de cabeça e dor nas costas. Os sinais e sintomas podem durar até sete dias.

TRATAMENTO

» O tratamento é sintomático e baseado no uso de acetaminofeno para febre e dor, conforme orientação médica. Não está indicado o uso de ácido acetilsalicílico e drogas anti-inflamatórias devido ao risco aumentado de complicações hemorrágicas, como ocorre com a dengue. Orienta-se procurar o serviço de saúde para orientação adequada. Não há vacina contra o zika vírus.

PREVENÇÃO

» O controle está centrado na redução da densidade vetorial, como por exemplo, mantendo o domicílio sempre limpo, eliminando os possíveis criadouros do Aedes: vasilhames com água, pneus velhos.

MICROCEFALIA

» Condição neurológica rara, caracterizada pela malformação do crânio do feto, que se desenvolve menos que o normal. Em média, a circunferência do crânio de um recém-nascido é de cerca de 33cm. Nos casos de microcefalia, essa medida é sempre menor que os 33cm.

EUA estudam emitir alerta

Autoridades norte-americanas de saúde estão discutindo se emitem um alerta para que grávidas dos Estados Unidos evitem viajar para o Brasil e outros países onde há surto do zika vírus.
A informação foi publicada ontem pelo New York Times. Segundo o jornal, caso a medida venha a ser tomada, será a primeira vez que o Centro de Controle de Doenças e Prevenção disparará um alerta para que grávidas evitem uma região durante um surto. A principal preocupação dos médicos é a relação do zika vírus com casos de microcefalia.

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