Sem capina e sem retirada do entulho, rua em Betim se transformou em bota-fora. Moradores temem explosão de casos de dengue - Foto: Edesio Ferreira/EM/D.A/PressA ausência do prefeito Carlaile Pedrosa (PSDB) da Prefeitura de Betim, afastado das funções depois de um acidente vascular cerebral (AVC) sofrido no fim do ano passado, e a crise econômica vivida pelo município deixam a cidade abandonada, com problemas sérios na prestação de diversos serviços públicos, de acordo com relatos dos moradores, que reclamam principalmente da coleta de lixo, capina de ruas, atraso no repasse de verbas para a educação, atendimento precário na saúde e descaso com a segurança pública.

Nas ruas, a falta de capina faz com que o mato se espalhe pelas calçadas. A coleta de lixo também tem problemas. Além de o lixo doméstico permanecer na calçada por muitas horas, esperando recolhimento, em alguns pontos da cidade há entulho exposto. Na sexta-feira, por volta as 17h, o lixo ainda não havia sido recolhido no Centro da cidade. Na Rua Barbacena, esquina com Avenida Porto Alegre, no Bairro Niterói, o entulho de um lote invade uma faixa da via, impedindo a passagem de mais de um veículo no trecho. Na Rua São Paulo, no Bairro Jardim Brasília, um lixão a céu aberto incomoda pedestres e motoristas e preocupa por causa da proliferação do Aedes aegypti.

Os reflexos do abandono também são sentidos na educação. O início das aulas na rede municipal, previsto para o dia 25, preocupa. Ao longo do ano passado, segundo o coordenador-geral do Sindicato Único dos Trabalhadores em Educação (Sind-Ute) em Betim, Luiz Fernando de Souza Oliveira, foram registrados atrasos no repasse das verbas para as escolas, dinheiro que custeia a limpeza e a manutenção dos estabelecimentos de ensino. Algumas contas de telefone, água e luz não foram pagas, houve atraso nos aluguéis de alguns centros infantis e fornecedores ficaram sem pagamento”, disse.

Outro problema, segundo ele, é o não cumprimento da Lei 11.738/2008, que diz respeito ao piso salarial dos professores. “O MEC determinou um reajuste de 11,36%, que deveria vir no salário deste mês e não veio”, disse. “Se o servidor não é respeitado, traz problemas na ponta, na prestação do serviço”, reforça Oliveira.

Segundo Amanda Vilela, diretora da Escola Municipal Carmelita Catarina da Mata, no Bairro Casa Amarela, a expectativa era iniciar o ano letivo com alguns problemas resolvidos. Desde o fim do ano passado, ela tenta sem sucesso o conserto do forro de uma das salas que se rompeu quando os alunos assistiam às aulas. “O telhado está visivelmente torto e apareceu um buraco no forro. Ficamos preocupados com a segurança dos alunos, mas, quando ligamos para pedir pequenas obras para a Secretaria de Educação, eles falam que não têm dinheiro”, lembra.

MUTIRÃO DE FUNCIONÁRIOS O repasse da verba para o caixa escolar é outra preocupação. “No ano passado, foram três meses de atraso.” Os R$ 4 mil mensais cobrem de maneira apertada as despesas com material de limpeza, papelaria, máquina de xerox, água, luz e telefone, e novos atrasos comprometeriam as aulas. “Fazemos o que podemos. Para pintar a fachada da escola, tivemos que fazer um mutirão com funcionários”, lembra.

O crescente número de roubos e outros crimes violentos também aparece na lista de reclamações dos moradores de Betim. No ano passado, foram 234 homicídios, segundo informações da 8ª Delegacia Especializada de Homicídios da cidade. Na estatística de roubos consumados, Betim apresentou avanço de 24,32% de janeiro a julho de 2015, frente a igual período de 2014, segundo dados da Secretaria de Estado da Defesa Social (Seds). A vendedora Carla Aparecida Silva foi assaltada à mão armada há 15 dias quando voltava para casa, no Bairro Alto das Flores. “Levaram meu celular que tinha acabado de comprar e os aparelhos de outras oito pessoas que estavam no ônibus.”

O medo também a acompanha no trabalho, uma joalheria que fica no Centro da cidade. “Ficamos o dia todo apreensivas, observando as pessoas que entram na loja.” Tiago Rezende, proprietário de uma loja de calçados femininos no Centro, que fica a um quarteirão da sede da Guarda Municipal, reclama da situação da cidade. “Fomos assaltados algumas vezes nos últimos três anos, investimos R$ 5 mil em segurança e todos os dias ouvimos falar de algum lojista que foi assaltado, além dos pedestres.” O empresário lembra ainda a falta de incentivo para o comércio, como a revitalização do Centro, que serviria como atrativo para o consumidor voltar a frequentar a região. “A sensação é de abandono na segurança, na saúde e na política como um todo”, reforça.

Na Unidade de Atendimento Imediato Sete de Setembro, no Bairro Vila Recreio, os usuários chegam a esperar até seis horas pelo atendimento. A saúde, segundo eles, não vai bem. Os relatos passam pela falta de profissionais, de remédios, insumos, cobertores e até pela necessidade de limpeza das unidades. Na sexta-feira, a espera da diarista Ducilene Rodrigues Maia por atendimento ultrapassou três horas. “Muitos pacientes ficam nos corredores, a UPA está suja e o atendimento não é adequado”, lembra a diarista, que vai além. “Estão fechando as farmácias comunitárias em postos de saúde e na UAI Guanabara, que fica perto da minha casa, não temos mais pediatras”.

A Prefeitura de Betim, por meio do secretário municipal de Finanças, Planejamento e Gestão, Gustavo Palhares, informou que o afastamento do prefeito Carlaile Pedrosa não tem impactos na prestação de serviços básicos à população, já que o prefeito continua trabalhando de casa. A causa dos problemas relatados pelos moradores seria a queda na arrecadação do município. “Apenas em três das principais receitas (ICMS, Fundeb e ISS) foram R$ 120 milhões abaixo da previsão de arrecadação”, disse..