Erosão durante chuva liga sinal de alerta na mineração

Dois meses e meio depois da tragédia de Mariana, deslizamento de terra em encosta de empresa da RMBH expõe riscos elevados pelas chuvas e mobiliza autoridades ambientais

Guilherme Paranaiba Gustavo Werneck
Um deslizamento de terra na área da mineradora Minérios Itaúna (Minerita) em Mateus Leme, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, chamou a atenção para o aumento do risco de acidentes relacionados às atividades minerárias em Minas Gerais em função das chuvas.
Segundo a Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad), uma encosta natural de um terreno de propriedade da empresa cedeu e houve um pequeno deslizamento de terra. A Polícia Militar do Meio Ambiente afirma que a encosta atingida fazia parte de uma cava de mineração, que está ativa. Ninguém ficou ferido e até ontem nenhum dano ambiental havia sido contabilizado. A Semad disse, por meio de sua assessoria de imprensa, que hoje de manhã será enviada uma equipe do Núcleo de Emergência Ambiental até o local para ter certeza da situação e verificar se há algum impacto. A Copasa afirmou que não houve nenhum problema com o reservatório Serra Azul, uma das três represas do Sistema Paraopeba, e também com o Ribeirão Serra Azul, de onde chega a água que é represada para abastecer parte da Grande BH.

Segundo o proprietário da Minerita, Dilson Fonseca da Silva, a empresa possui 1.380 hectares de terra na região de Mateus Leme e Itatiaiuçu, ambas na Grande BH, sendo cerca de 350 hectares de jazidas de minério de ferro, foco principal da companhia, que também usa parte do rejeito para fabricação de pisos e blocos na construção civil. Nos últimos quatro dias foram mais de 400 milímetros de chuva na região, sendo 105 somente na noite de segunda-feira para terça-feira, de acordo com os funcionários. “O que houve foi uma erosão natural do terreno por conta da chuva.
As barragens ficam na área que pertence ao município de Itatiaiuçu, enquanto o deslizamento ocorreu em Mateus Leme”, afirma Silva. São três barragens, de acordo com o dono da mineradora, que fica no km 523 da BR-381, em Itatiaiuçu, sendo duas em funcionamento e uma ainda sem funcionar, que não registraram nenhum problema. A Semad informou que há uma licença vigente de operação, que já foi revalidada até 27 de fevereiro de 2018. Também há um processo de licença prévia referente à mesma empresa, que aguarda informações complementares para que seja colocado em pauta para votação do Conselho Regional de Política Ambiental (Copam). A Semad não informou o motivo da licença prévia.

O capitão Sérgio Rodrigues Dias, subcomandante da Companhia de Polícia Militar do Meio Ambiente de Belo Horizonte, esteve no local e visitou também uma casa a cerca de três quilômetros do local do deslizamento, onde havia lama no muro, no quintal e na piscina. O dono do imóvel, o aposentado Rogério Souza Magalhães, de 61 anos, se assustou com a lama (veja texto nesta página), mas ainda não foi confirmado se ela é proveniente do terreno da mineradora. “Ainda não dá para saber se há relação entre os dois eventos. Vamos fazer uma visitação completa amanhã (hoje) com sobrevoo se as condições climáticas favorecerem.

Em outra propriedade, acima dessa casa, encontrei uma concentração maior de pequenos galhos, perto da porteira de outro imóvel”, afirma o policial. Morador dessa propriedade, o floricultor Aparício Casemiro Silva, de 50 anos, diz que uma avalanche de lama “inundou tudo”, logo depois de ter ouvido um estrondo na direção da mineradora. O capitão lembra que o aumento súbito de algum córrego que passa na região também pode ter causado os problemas e indicou que a presença de um dique de segurança no local onde houve o deslizamento poderia ter evitado o escorregamento. A empresa diz que pretende recompor a encosta e evitar que mais material desça, mas precisa aguardar um período de estiagem para viabilizar o plano. À noite, o prefeito da cidade, Marlon Guimarães, confirmou as informações dadas pelo capitão.

A época de chuva é a mais perigosa para as áreas de mineração, especialmente para as barragens de contenção de rejeitos. Segundo o professor do Departamento de Engenharia de Minas da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop) e doutor em gerenciamento ambiental, Hernani Mota de Lima, o volume de água pode causar uma desestabilização nas estruturas de concreto.
Por isso mesmo, orienta, drenos e vertedouros dos empreendimentos devem estar funcionando perfeitamente “e a todo o vapor”. Na tarde de ontem, ao saber, pelo Estado de Minas, a respeito do ocorrido na mineradora Minerita, dois meses e meio depois da tragédia da Samarco em Mariana, o professor se assustou e, de imediato, perguntou se havia vítimas.

Para enfrentar o período chuvoso, explica Hernani, as mineradoras precisam de um monitoramento constante. “Nesse tempo, é comum haver rupturas localizadas, devido ao volume de água de chuva. Mas, antes de tudo, é necessário um plano de ação para evitar problemas graves, como um rompimento da barragem de rejeitos”, diz o especialista. Já o engenheiro de minas e metalurgia e consultor José Mendo Mizael de Souza cita Leonardo da Vinci (1452-1519) para explicar esse período: “Se tens que lidar com água, consulta primeiro a experiência, depois a razão”. Com larga experiência no setor em Minas, ele diz que o fundamental para evitar qualquer tipo de problema é fazer um bom planejamento e acompanhamento permanente. E conclui: a produção mineral a céu aberto se torna mais fácil do que sob chuva. (Colaborou Landercy Hemerson).