Barra Longa, segundo o motorista José Geraldo Ferreira, tem a história marcada por enchentes históricas como as de 1979, 1997 e 2008, todas provocadas pela chuva. Mas é o medo de uma nova enchente de lama que preocupa os moradores. “Ficamos sempre de olho no rio, observando a água, que agora está mais barrenta. Ficamos preocupados porque a lama continua perto do rio, mas, ao mesmo tempo, queremos que a chuva limpe tudo”, conta.
O Grupo Independente para Análise do Impacto Ambiental (GIAIA) – Samarco/Rio Doce, em sua página no Facebook, também denuncia a situação do Rio Gualaxo, em Paracatu de Baixo. “Houve muito avanço da erosão (…) uma verdadeira sopa de rejeitos erodia os barrancos do rio, que estavam desabando na água, alterando a largura do leito do rio e acrescentando ainda mais sedimento à água.
Lucinha Teixeira, presidente da Câmara Técnica de Gestão de Eventos Críticos, do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Doce (CBH-Doce), afirma que as chuvas fortes elevam a turbidez ao longo do Rio Doce até a foz. “Em caso de chuva na região em que há concentração desse rejeito, a tendência é de que esse material escoe pelo curso do rio interferindo na qualidade da água”, pondera.
Além do aumento da turbidez, áreas às margens do rio, que até o momento não tiveram contato com a lama, principalmente no médio e baixo Doce, poderão ser afetadas, segundo a especialista. “A cheia tende a espalhar o rejeito e possíveis prejuízos na agricultura e agropecuária devem ser avaliados”, diz. Segundo a Companhia de Pesquisa de Recursos Mineiras (CPRM), as cidades de Ferros e Santo Antônio do Rio Abaixo, situadas na Bacia Hidrográfica do Rio Santo Antônio (afluente do Rio Doce) foram as localidades mais prejudicadas com a chuva.
RECOMEÇO Quem mora em Barra Longa não tem previsão de quando a vida voltará ao normal. As ruas, agora com menos lama, ainda estão sujas e muitas casas seguem em obra. Caminhões que fazem o transporte da lama também circulam pela cidade durante todo o dia, mudando a rotina do município. Funcionários da mineradora e de construtoras contratadas para reformar as casas atingidas estão espalhados por toda a cidade, mas, com a temporada de chuva, o trabalho desacelerou e muitos caminhões passam o dia estacionados na praça central.
Alguns comerciantes já reabriram seus negócios. Maria Rosário Carneiro, que trabalha com o irmão no Bar do Lau, comemora a reabertura do estabelecimento. “Reabrimos dia 13. “Um mês depois da tragédia, reabriram o armazém na casa dele e depois em uma loja provisória montada ao lado da atingida pela lama. Improvisamos com móveis da família”, lembra. Agora, os irmãos receberam da mineradora dois balcões refrigerados e um freezer, além da reforma da loja. “Estamos retomando a vida, mas ainda tem muito o que ser feito na cidade.