Barra Longa ainda luta contra o barro e moradores tentam recomeçar a vida

Com lama e rejeitos depositados em área próxima, população alerta que chuvas podem levar sujeira de volta ao leito do Rio Doce

Carolina Mansur
Maria do Rosário conseguiu reabrir o bar da família: "Estamos retomando a vida, mas ainda tem muito o que ser feito na cidade" - Foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press
Em Barra Longa, uma das cidades afetadas pelo rompimento da Barragem do Fundão, muita lama continua sendo retirada das ruas. Antônio Luiz Gonçalves, um dos líderes da Comissão de Atingidos de Barra Longa, faz um alerta para a área do parque de exposições, usada inicialmente para o depósito da lama retirada da cidade. No local, que fica ao lado do rio, é possível ver uma grande quantidade de lama depositada pelas máquinas. “Se continuar chovendo assim, a chuva pode ir levando a lama aos poucos para o rio”, garante.

Barra Longa, segundo o motorista José Geraldo Ferreira, tem a história marcada por enchentes históricas como as de 1979, 1997 e 2008, todas provocadas pela chuva. Mas é o medo de uma nova enchente de lama que preocupa os moradores. “Ficamos sempre de olho no rio, observando a água, que agora está mais barrenta. Ficamos preocupados porque a lama continua perto do rio, mas, ao mesmo tempo, queremos que a chuva limpe tudo”, conta.

O Grupo Independente para Análise do Impacto Ambiental (GIAIA) – Samarco/Rio Doce, em sua página no Facebook, também denuncia a situação do Rio Gualaxo, em Paracatu de Baixo. “Houve muito avanço da erosão (…) uma verdadeira sopa de rejeitos erodia os barrancos do rio, que estavam desabando na água, alterando a largura do leito do rio e acrescentando ainda mais sedimento à água.
Se as chuvas continuarem, a quantidade de rejeito transportado pelo rio vai aumentar muito nos próximos dias”, dizia o relato.

Lucinha Teixeira, presidente da Câmara Técnica de Gestão de Eventos Críticos, do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Doce (CBH-Doce), afirma que as chuvas fortes elevam a turbidez ao longo do Rio Doce até a foz. “Em caso de chuva na região em que há concentração desse rejeito, a tendência é de que esse material escoe pelo curso do rio interferindo na qualidade da água”, pondera.

Além do aumento da turbidez, áreas às margens do rio, que até o momento não tiveram contato com a lama, principalmente no médio e baixo Doce, poderão ser afetadas, segundo a especialista. “A cheia tende a espalhar o rejeito e possíveis prejuízos na agricultura e agropecuária devem ser avaliados”, diz. Segundo a Companhia de Pesquisa de Recursos Mineiras (CPRM), as cidades de Ferros e Santo Antônio do Rio Abaixo, situadas na Bacia Hidrográfica do Rio Santo Antônio (afluente do Rio Doce) foram as localidades mais prejudicadas com a chuva.

RECOMEÇO Quem mora em Barra Longa não tem previsão de quando a vida voltará ao normal. As ruas, agora com menos lama, ainda estão sujas e muitas casas seguem em obra. Caminhões que fazem o transporte da lama também circulam pela cidade durante todo o dia, mudando a rotina do município. Funcionários da mineradora e de construtoras contratadas para reformar as casas atingidas estão espalhados por toda a cidade, mas, com a temporada de chuva, o trabalho desacelerou e muitos caminhões passam o dia estacionados na praça central.

Alguns comerciantes já reabriram seus negócios. Maria Rosário Carneiro, que trabalha com o irmão no Bar do Lau, comemora a reabertura do estabelecimento. “Reabrimos dia 13. “Um mês depois da tragédia, reabriram o armazém na casa dele e depois em uma loja provisória montada ao lado da atingida pela lama. Improvisamos com móveis da família”, lembra. Agora, os irmãos receberam da mineradora dois balcões refrigerados e um freezer, além da reforma da loja. “Estamos retomando a vida, mas ainda tem muito o que ser feito na cidade.
Queremos o que era antes”, afirma. (CM).