Era por uma escadinha de pedra, entre flores do cerrado, que Juscelino Kubitschek (1902-1976) subia em direção à piscina. Ali, nas folgas, o então prefeito de Belo Horizonte (de 1940 a 1945) descansava das atribuições do cargo, embora muitas vezes despachasse, e contemplava a Lagoa da Pampulha. Passados mais de 70 anos, os degraus estão no mesmo lugar – e muito bem cuidados –, o jardim de canga de minério enche os olhos pela harmonia e a piscina aguarda o fim das chuvas para virar espelho d’água. Todos esses elementos, e tantos outros, compõem a Casa Kubitschek e emolduram o anexo agora construído no fundo da residência de fim de semana de JK. O local será inaugurado depois do carnaval e já atrai os olhares dos turistas, embora ainda fechado para visitação.
Projetado em 1943 pelo arquiteto Oscar Niemeyer (1907-2012) e com jardins do paisagista Burle Marx (1909-1994), o imóvel foi desapropriado pela Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) há 11 anos, restaurado e reaberto em 2013 como espaço expositor sobre o modo de morar nas décadas de 1940 a 1960. “Terminamos a obra um mês antes do previsto, pois esse é um dos compromissos com a Unesco na campanha de candidatura da Pampulha a patrimônio cultural da humanidade”, afirmou o presidente da Fundação Municipal de Cultura (FMC), Leônidas Oliveira, ao conferir o resultado final do anexo. O espaço de 400 metros quadrados abrigará reserva técnica e terá salas multiuso e para a diretoria do conjunto moderno da Pampulha. Em junho, a Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (Unesco) vai divulgar o resultado em Istambul, na Turquia.
“Estamos mais do que confiantes na conquista do título”, assegura Leônidas.
COBOGÓ Janaína disse ainda que a piscina, futuro jardim aquático, teve o fundo elevado um pouco, embora a situação seja reversível, pois o imóvel e o terreno de 3 mil metros quadrados são tombados pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha) e pelo Conselho Deliberativo Municipal do Patrimônio Cultural. Quem sobe a escada por onde JK, saindo do seu quarto, seguia em direção à piscina avista a parede de cobogós amarelos, cerâmica vitrificada que dá mais vida ao ambiente e ilumina a paisagem. “São os originais e acompanham o tom dos azulejos da cozinha da casa. O banco do jardim também é da época e vai ser recoberto de pastilhas.”
Para concretizar projeto, Niemeyer se inspirou nas edificações coloniais de Diamantina, no Vale do Jequitinhonha, onde nasceu JK. Janaína cita as treliças reproduzidas no anexo e pintadas de azul, as paredes brancas, o pátio interno das casas dos séculos 18 e 19, e a canga do minério no piso da escada e cercando as plantas. Goiabeiras carregadas de frutos, quaresmeiras em flor, a sombra de uma paineira e as jabuticabeiras têm o poder mágico de transportar o visitante para outros tempos. Viagem de calma, cultura e sossego. Para evitar a proliferação do onipresente mosquitinho da dengue, a piscina receberá peixes ornamentais – e alguns já estão lá.
VISITANTES “Trata-se de um equipamento público recente e, mesmo com as chuvas, temos muitos visitantes neste mês de férias. Depois de retirados os tapumes, que ficaram dois anos, os turistas pedem para ir até o anexo, por isso pusemos uma faixa de segurança”, mostra a gestora. A Casa JK, acrescenta, conta a história da Pampulha velha, povoada de sítios e fazendas, e da modernista saída da prancheta de Niemeyer. As obras especificamente do anexo custaram R$ 1,3 milhão e foram executadas dentro do programa Adote um bem cultural, da PBH, ficando o projeto a cargo da Diretoria de Patrimônio da FMC.
MEMÓRIA
Modernismo preservado
Residência particular de JK, a Casa Kubitschek, na Pampulha, foi construída quando o filho ilustre de Diamantina era prefeito de Belo Horizonte.
Saídas para o iate
O presidente da Fundação Municipal de Cultura, Leônidas Oliveira, informa que estão adiantadas as negociações com o Iate Tênis Clube para demolição de um anexo da década de 1970, que descaracteriza o projeto original do arquiteto Oscar Niemeyer. “Estamos em busca de alternativas e a diretoria do clube está muito receptiva, mostrando-se favorável à futura intervenção e cronograma de requalificação do prédio, inaugurado em 1943”, afirmou. Leônidas está tranquilo quanto à situação e lembrou que a direção do clube, ano passado, firmou termo com a prefeitura, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e o Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha).