Morte de casal em Araxá intriga família e polícia

Parentes da estudante brutalmente assassinada com o marido buscam explicações para o crime. Pela crueldade, polícia não descarta que casal tenha sido morto por vingança

Guilherme Paranaiba - Enviado especial Carolina Mansur

Casa das vítimas já havia sido alvo de arrombamento e obra para colocar cerca na residência no Bairro Veredas do Belvedere estava sendo executada - Foto: Euler Junior/EM/D.A Press

Araxá – “Ela tinha uma postura de carinho e amor incrível. Era extremamente carismática. Está muito difícil para nós nesse momento”, desabafa João D’Eluz, de 63 anos, avô de Rafaela D’Eluz Giordani, de 21, brutalmente assassinada em Araxá, no Alto Paranaíba. O sentimento de tristeza sem fim é compartilhado por toda família D’Eluz, tradicional na cidade, e que foi devastada por um crime ainda sem explicações, que intriga a Polícia Civil da cidade. Parentes da estudante – que seguiria os passos da mãe e do avô como advogada – não conseguem compreender qual foi a motivação de bandidos que mataram ela e o marido, o empresário Higor Humberto Fonseca de Sousa, de 26, na tarde do último sábado. A perícia constatou mais de 100 facadas em Higor e 12 no pescoço da jovem. Ambos foram encontrados em casa amarrados e ninguém foi preso até o momento.

Nascida em Araxá, Rafaela tinha dois pais, como o avô gosta de ressaltar. O biológico, Alex Giordani, que é empresário, e o padrasto, Paulo Henrique Cruvinel, servidor do Judiciário.
A mãe, Daniela D’Eluz, de 38, advogada formada na primeira turma de direito de Araxá, fazia de tudo pela alegria e sucesso da filha. O carinho de três famílias foi crucial para a formação do caráter da jovem, segundo os parentes, que tinha cinco meses de casada com Higor, dono de uma loja de radiadores e natural de Patos de Minas, também no Alto Paranaíba. Ela já havia feito estágio no Ministério Público e atualmente trabalhava com o pai biológico, que é dono de uma loja de autopeças. Antes de se casar, em setembro de 2015, namorou cerca de dois anos.

“O casamento foi uma festa linda, a mãe dela fez de tudo para o momento ser mágico, único na história da filha. Ela tinha uma vida inteira pela frente, com um incrível potencial”, acrescenta o avô João D’Eluz, que é advogado, assim como a filha. Ele lembra um momento em que as três gerações da família estiveram em um Tribunal do Júri. “Foi em novembro. Eu e minha filha atuando, e a Rafaela nos auxiliando. O juiz e o promotor destacaram o fato. De tão empolgada e atuante, ela chegou a ser chamada de doutora”, ressalta o avô. O padrasto, que é pai da irmã mais nova de Rafaela, lembra quais as características que vão ficar na memória da família. “O que fica é a criança muito alegre e divertida e a dor de perder um ente tão querido. Estamos agora aguardando o trabalho da Polícia Civil”, afirma Paulo Cruvinel.

INVESTIGAÇÃO O delegado responsável pelo caso, Sandro Negrão, ainda não descarta nenhuma das duas principais hipóteses para a morte do casal.
Latrocínio, que é o roubo seguido de morte, por causa da caminhonete e das duas televisões que foram levadas da residência, e vingança, já que a crueldade com os dois foi muito grande.

O delegado responsável pelo caso, Sandro Negrão, acredita que mais de duas pessoas participaram do crime, devido ao físico de Higor - Foto: Euler Junior/EM/D.A Press“Acredito que eram mais de duas pessoas na cena do crime, até porque o Higor é alto e forte. Temos informações de alguma desavença dele, mas nada que garanta com certeza uma possibilidade de vingança”, diz o policial. Além de açúcar e fubá, que foram encontrados nos corpos de Rafaela e Higor, respectivamente, havia bastante pó de café em cômodos diferentes, onde não estavam os corpos. “Os bandidos fizeram uma mistura de água e café e espalharam em alguns pontos. A única coisa que já vimos sobre o uso de café é para tirar cheiro de drogas”, diz o coordenador do Instituo Médico Legal de Araxá, Hudson Fiuza Lemos.

A reportagem do EM conversou com uma vizinha do casal que ouviu alguns gritos na casa por volta de 13h. “Isso foi pouco antes de eu sair de casa. Quando eu saí, a caminhonete S-10 que foi roubada estava em casa. Quando voltei, por volta de 16h, já não estava mais”, afirma ela, que pediu para não ser identificada. A vizinha lembra ainda que viu duas motos suspeitas na rua de Higor e Rafaela na última quinta-feira, um dia depois de uma tentativa de arrombamento da casa dos dois. Inclusive, metade da cerca de concertina que Higor comprou depois da tentativa de furto já tinha sido colocada em cima do muro da casa no Bairro Veredas do Belvedere.

Raquel levou 12 facadas e Higor, mais de 100: crime chocou Araxá - Foto: Álbum de família

Entrevista

João D’Eluz, de 63 anos, advogado, avô da Rafaela.
'Eles tinham um mundo pela frente'

Mesmo consternado com a morte da neta, João D’Eluz deu entrevista ao EM e não esconde a tristeza pelo futuro interrompido do casal

O senhor chegou a entrar no local do crime?

Sim, fui lá e vi tudo revirado. Nunca aconteceu, na história de Araxá, um crime com essa atrocidade. É duro demais, você nem imagina o que estamos passando neste momento.

Como era a vida de recém-casada da Rafaela?

Ela estava praticamente vivendo no mundo das maravilhas. No fim de ano, reunimos a família na casa dela e comemoramos as festas. Estava começando uma vida promissora. Os dois tinham uma visão extremamente empreendedora e ela ainda estudava para ser uma advogada. Eles tinham o mundo pela frente.

Qual lembrança da sua neta vai ficar na memória?

Ela tinha um costume de chegar perto de mim e bagunçar o meu cabelo todo para me amolar, brincar comigo. Depois, ela virava e falava: ‘Bença, vô!’. Ela tinha um sorriso lindo, parecia uma boneca de tão bonita.

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