Cinco anos depois de um dos acidentes mais trágicos do Anel Rodoviário de Belo Horizonte, a temida descida do Bairro Betânia, na Região Oeste, voltou a ser palco de um desastre, desta vez com duas pessoas mortas e um cenário que impressionou pela destruição. Um caminhão desgovernado acertou uma van, arrancando a parte de cima do veículo de passageiros antes de bater em outros dois carros. A colisão ocorreu praticamente embaixo de um dos seis radares de toda a descida, mas o aparelho não evitou o pior. Apesar da redução do número de mortos, feridos e das ocorrências na via na comparação entre 2014 e 2015, a requalificação definitiva, com obras de modernização que podem garantir a segurança necessária à circulação nos 26,5 quilômetros de extensão da rodovia, segue se arrastando. Em 2007, o governo federal anunciou a intenção de liberar recursos para a obra, mas a última previsão informa que, quase 10 anos depois, em agosto deste ano, um projeto pronto para alavancar a tão esperada licitação de reforma será apresentado.
A batida de ontem ocorreu por volta das 7h. O motorista do caminhão Manoel Elson Santana, de 32 anos, bateu em uma van e em outros dois carros no km 23, altura do Bairro Betânia. Os dois ocupantes da van, Alexssandro Evangelista Pinto, de 39, e Fabiano Melo da Luz, de 28, ficaram presos às ferragens e morreram no local. “O motorista (do caminhão) diz que perdeu o freio, desviou de vários veículos e foi a carroceria que bateu na van”, explica o sargento Ederson Macedo, da Polícia Militar Rodoviária (PMRv). Ele seguia com uma carga de cal de Ouro Preto para São Paulo. Era a primeira vez que passava pelo Anel Rodoviário. Maonel foi levado para a Delegacia Especializada em Acidentes de Veículos (Deav), onde foi ouvido e liberado. Hoje, ele volta a prestar depoimento. O condutor passou por exame de bafômetro e não foi constatado consumo de bebida alcoólica.
De acordo com a PMRv, em 2015, 25 pessoas morreram em acidentes no Anel Rodoviário, sendo uma delas na descida do Betânia, oito vidas a menos do que as 33 mortes de 2014. As batidas caíram de 2.553 para 1.646, queda de 35% nas colisões. Mesmo assim, o professor Guilherme Leiva, coordenador do curso de engenharia de transportes do Cefet/MG, acredita que uma reforma estrutural na rodovia pode ajudar a reduzir esses números. “O principal problema do Anel é a mistura do tráfego rodoviário com o urbano. O projeto precisa entender essas diferenças”, afirma.
O tenente-coronel Ledwan Cotta, comandante do Batalhão de Polícia Militar Rodoviária (BPMRv), admite que as condições do Anel Rodoviário, especialmente na descida do Betânia, favorecem as batidas violentas. “Há uma necessidade de intervenção de engenharia urgente”, diz.
OBRAS Nas gestões públicas do estado e da União entre 2010 e 2014, o debate em torno da obra do Anel ganhou força. O Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) chegou a um entendimento com o Departamento de Estradas de Rodagem de Minas Gerais (DER/MG) de que o estado tocaria o processo de projetos e obras com recursos da União. O estado desenvolveu um projeto para três trechos considerados prioridade, que não incluíam a descida do Betânia. A Secretaria de Estado de Transportes e Obras Públicas (Setop) chegou a afirmar que se tocasse a obra na modalidade de licitação pretendida pelo Dnit, o Regime Diferenciado de Contratação Integrada (RDCI), poderia incorrer em improbidade administrativa, o que esfriou os trabalhos. O Dnit, então, levou a reforma para Brasília.
Ano passado, o Dnit retornou com os trabalhos para BH e prometeu para novembro de 2015 a conclusão dos estudos que permitiriam pensar nas obras. Agora, Dnit e Setop afirmam que o projeto funcional está pronto, etapa que propôs ajustes, traçados e alternativas de intervenções para melhorar a segurança e fluidez do tráfego. Falta ainda o anteprojeto de engenharia, passo que descreve os parâmetros técnicos e financeiros para escolher as melhores propostas. Só depois da entrega desse documento, previsto para 31 de agosto, é que será possível lançar a licitação de obras.
Entrevista - 'Se pegasse em mim, já era'
O motorista da picape Fiat Strada Augusto Ferreira trafegava pelo Anel Rodoviário no momento do acidente. Ele conta ao EM como foi a tragédia.
O senhor viu o caminhão batendo na van?
Não vi muita coisa. Só ouvi o estrondo, um barulho muito alto, e depois o caminhão passou por mim e bateu.
O senhor tem o costume de passar pelo Anel Rodoviário?
Sempre passo, mas é a primeira vez que envolvo em acidente. Ando devagar e não passo dos 60 quilômetros. Aqui é perigoso.
O que diz depois de sair ileso do desastre?
Você ver um caminhão daquele passar por você e bater na mureta como ele bateu... Se pegasse em mim, já era. Nasci outra vez.
Como ficou?
Condutor de carreta vai a júri popular
O motorista Leonardo Faria Hilário (foto), que em 28 de janeiro de 2011 causou um acidente com cinco mortos na descida do Betânia, será levado a júri popular em 23 de junho deste ano. Há exatos cinco anos, ele conduzia uma carreta carregada com 37 toneladas de trigo pelo Km 21 do Anel Rodoviário, provocando um dos mais graves acidentes já ocorridos no trecho.
A perícia da Polícia Civil apontou que ele estava a 115km/h, em um perímetro que hoje é regulamentado para 60km/h. A velocidade foi suficiente para arrastar 14 veículos antes de atingir um caminhão-baú. Entre os mortos, estava a pequena Ana Flávia Gibosky, de 2 anos. Doze pessoas ficaram feridas.
A prima de Ana, Laura Gibosky, à época com 4 anos, ficou 159 dias internada antes de receber alta e hoje vive com sequelas. “Uma certeza que a gente tem é que mais pessoas vão morrer ali. Não sabemos quem vai ser e nem quando. Pode ser, mais uma vez, alguém da minha família ou você. É uma negligência muito grande com a vida das pessoas saber que aquele lugar é um ponto crítico recorrente e não fazer nada. Por que a vida vale tão pouco para o estado?”, questiona Poliana Gibosky, tia de Laura e Ana Flávia.
A batida de ontem ocorreu por volta das 7h. O motorista do caminhão Manoel Elson Santana, de 32 anos, bateu em uma van e em outros dois carros no km 23, altura do Bairro Betânia. Os dois ocupantes da van, Alexssandro Evangelista Pinto, de 39, e Fabiano Melo da Luz, de 28, ficaram presos às ferragens e morreram no local. “O motorista (do caminhão) diz que perdeu o freio, desviou de vários veículos e foi a carroceria que bateu na van”, explica o sargento Ederson Macedo, da Polícia Militar Rodoviária (PMRv). Ele seguia com uma carga de cal de Ouro Preto para São Paulo. Era a primeira vez que passava pelo Anel Rodoviário. Maonel foi levado para a Delegacia Especializada em Acidentes de Veículos (Deav), onde foi ouvido e liberado. Hoje, ele volta a prestar depoimento. O condutor passou por exame de bafômetro e não foi constatado consumo de bebida alcoólica.
De acordo com a PMRv, em 2015, 25 pessoas morreram em acidentes no Anel Rodoviário, sendo uma delas na descida do Betânia, oito vidas a menos do que as 33 mortes de 2014. As batidas caíram de 2.553 para 1.646, queda de 35% nas colisões. Mesmo assim, o professor Guilherme Leiva, coordenador do curso de engenharia de transportes do Cefet/MG, acredita que uma reforma estrutural na rodovia pode ajudar a reduzir esses números. “O principal problema do Anel é a mistura do tráfego rodoviário com o urbano. O projeto precisa entender essas diferenças”, afirma.
O tenente-coronel Ledwan Cotta, comandante do Batalhão de Polícia Militar Rodoviária (BPMRv), admite que as condições do Anel Rodoviário, especialmente na descida do Betânia, favorecem as batidas violentas. “Há uma necessidade de intervenção de engenharia urgente”, diz.
OBRAS Nas gestões públicas do estado e da União entre 2010 e 2014, o debate em torno da obra do Anel ganhou força. O Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) chegou a um entendimento com o Departamento de Estradas de Rodagem de Minas Gerais (DER/MG) de que o estado tocaria o processo de projetos e obras com recursos da União. O estado desenvolveu um projeto para três trechos considerados prioridade, que não incluíam a descida do Betânia. A Secretaria de Estado de Transportes e Obras Públicas (Setop) chegou a afirmar que se tocasse a obra na modalidade de licitação pretendida pelo Dnit, o Regime Diferenciado de Contratação Integrada (RDCI), poderia incorrer em improbidade administrativa, o que esfriou os trabalhos. O Dnit, então, levou a reforma para Brasília.
Ano passado, o Dnit retornou com os trabalhos para BH e prometeu para novembro de 2015 a conclusão dos estudos que permitiriam pensar nas obras. Agora, Dnit e Setop afirmam que o projeto funcional está pronto, etapa que propôs ajustes, traçados e alternativas de intervenções para melhorar a segurança e fluidez do tráfego. Falta ainda o anteprojeto de engenharia, passo que descreve os parâmetros técnicos e financeiros para escolher as melhores propostas. Só depois da entrega desse documento, previsto para 31 de agosto, é que será possível lançar a licitação de obras.
Entrevista - 'Se pegasse em mim, já era'
O motorista da picape Fiat Strada Augusto Ferreira trafegava pelo Anel Rodoviário no momento do acidente. Ele conta ao EM como foi a tragédia.
O senhor viu o caminhão batendo na van?
Não vi muita coisa. Só ouvi o estrondo, um barulho muito alto, e depois o caminhão passou por mim e bateu.
O senhor tem o costume de passar pelo Anel Rodoviário?
Sempre passo, mas é a primeira vez que envolvo em acidente. Ando devagar e não passo dos 60 quilômetros. Aqui é perigoso.
O que diz depois de sair ileso do desastre?
Você ver um caminhão daquele passar por você e bater na mureta como ele bateu... Se pegasse em mim, já era. Nasci outra vez.
Como ficou?
Condutor de carreta vai a júri popular
O motorista Leonardo Faria Hilário (foto), que em 28 de janeiro de 2011 causou um acidente com cinco mortos na descida do Betânia, será levado a júri popular em 23 de junho deste ano. Há exatos cinco anos, ele conduzia uma carreta carregada com 37 toneladas de trigo pelo Km 21 do Anel Rodoviário, provocando um dos mais graves acidentes já ocorridos no trecho.
A perícia da Polícia Civil apontou que ele estava a 115km/h, em um perímetro que hoje é regulamentado para 60km/h. A velocidade foi suficiente para arrastar 14 veículos antes de atingir um caminhão-baú. Entre os mortos, estava a pequena Ana Flávia Gibosky, de 2 anos. Doze pessoas ficaram feridas.
A prima de Ana, Laura Gibosky, à época com 4 anos, ficou 159 dias internada antes de receber alta e hoje vive com sequelas. “Uma certeza que a gente tem é que mais pessoas vão morrer ali. Não sabemos quem vai ser e nem quando. Pode ser, mais uma vez, alguém da minha família ou você. É uma negligência muito grande com a vida das pessoas saber que aquele lugar é um ponto crítico recorrente e não fazer nada. Por que a vida vale tão pouco para o estado?”, questiona Poliana Gibosky, tia de Laura e Ana Flávia.