O deslocamento na tarde de quarta-feira de 1 milhão de metros cúbicos de rejeitos de minério na Barragem do Fundão, a mesma que se rompeu em 5 de novembro de 2015, causando o maior desastre socioambiental do Brasil, levou o Núcleo de Combate aos Crimes Ambientais do Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) a exigir da Samarco um novo cálculo do fator de segurança do dique Sela da represa de Germano, a maior do complexo da mineradora em Mariana.
O dique da Germano está próximo ao local onde ocorreu o deslocamento de lama da Barragem do Fundão. “Toda precaução é pouca. A Germano tem capacidade três vezes maior que a de Fundão. Caso o dique se rompa, pode ocorrer um desastre tão grave ou maior”, disse o tenente-coronel da Polícia Militar e integrante do núcleo do MPMG, Valmir José Fagundes.
O volume de lama que continua na represa que se rompeu em novembro (20 milhões de metros cúbicos) corresponde a 59% do que vazou (34 milhões de metros cúbicos). Desde o estouro da barragem, a Samarco reforçou os diques de Germano e de Santarém, a terceira represa do complexo. A legislação brasileira exige que o coeficiente de segurança seja de nível 1,5 nas barragens. Em condições adversas, é aceitável 1,3.
Procurada, a Samarco não informou o indicador do dique Sela. Para Fagundes, o coeficiente está abaixo do nível de segurança exigido pelas normas nacionais. Ele e outros integrantes do núcleo do MPMG chegaram ao complexo de minas da Samarco, controlada pela brasileira Vale e a anglo-australiana BHP Billiton, poucas horas depois do deslocamento da lama em Fundão. Sobrevoaram a região e vistoriaram parte do complexo na quarta-feira e ontem.
“A barragem tem um fator de segurança que não é o ideal. Tanto que estão fazendo reforço nela. Depois do novo deslocamento, houve exposição do material do reforço da base do dique Sela. Devido a essa perda, pode ocorrer um comprometimento, uma diminuição do fator de segurança da barragem”, disse. Por outro lado, embora tenha encontrado “exposição do material do reforço na estrutura”, o grupo não avistou nenhuma trinca no local.
Os radares geotécnicos também não detectaram, durante a visita, nada de relevante na estrutura. Ainda assim, a lama que se moveu anteontem acendeu o alerta na região. Durante o deslocamento, por exemplo, 450 trabalhadores da mineradora foram retirados da área de risco. Uma equipe do EM que fazia uma reportagem em Bento Rodrigues, o primeiro povoado destruído pelo desastre em novembro, foi comunicada para se retirar às pressas do lugarejo.
Para o superintendente do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) em Minas Gerais, Marcelo Belisário Campos, os diques são importantes para evitar desastres, mas ele pondera que “não são suficientes para dar conta de 100% dos rejeitos”.
Por sua vez, a mineradora informou que “o volume deslocado permanece entre a barragem de Fundão e Santarém (uma represa de água), dentro de áreas da Samarco. A mineradora informou também que as estruturas das barragens de Germano e Santarém permanecem estáveis, com base no contínuo monitoramento”.
NATUREZA Mas, segundo o superintendente do Ibama, parte do rejeito de minério que continua na represa de Fundão é levado para cursos d’água durante as chuvas. “É uma área totalmente degradada e exposta a intempéries. Como estamos na época de grandes chuvas, o material é conduzido para debaixo das barragens, poluindo as águas”.
Ele continua o desabafo: “A grande massa que se deslocou permaneceu ou dentro ou acima da barragem de Santarém. O que está acontecendo é que as águas da chuva e da drenagem local estão levando de maneira paulatina – não com corrimento dramático – sedimentos para o Rio (Doce)”. O prazo inicial de 10 anos para a recuperação dos danos ambientais, de acordo com Belisário, pode ser estendido.