Pela primeira vez em nove anos, Minas Gerais registrou menos de 1 mil mortes nas rodovias federais que cortam o estado. Dados obtidos pelo EM por meio da Lei de Acesso à Informação e fornecidos pela Polícia Rodoviária Federal (PRF) em Brasília mostram que, no ano passado, foram 964 óbitos nas BRs mineiras, patamar nunca alcançado entre 2007 e 2014, na série histórica de dados disponibilizada pela PRF em Minas. A queda ocorre pelo segundo ano consecutivo, tanto em relação aos acidentes quanto aos mortos. Em 2014, 21.664 batidas tiraram a vida de 1.149 pessoas, enquanto os dados mostram 15.546 acidentes, queda de 28%, e 964 mortes, redução de 16%, em 2015. Especialistas acreditam que o fenômeno não é pontual de Minas, mas sim uma situação que se repetiu em todo o país, graças à redução da atividade econômica – e, consequentemente, de tráfego de veículos – verificada no ano passado. Eles alertam, ainda, para o número muito alto em comparação com países desenvolvidos e para a necessidade de tomar medidas para frear a carnificina nas rodovias.
À exceção da BR-356, que passou de uma para duas mortes e cujo trecho fiscalizado pela PRF fica na Zona da Mata, todas as rodovias federais mineiras registraram redução da mortalidade. A campeã de 2015 foi novamente a BR-381, com 225 mortes ante 248 óbitos em 2014 (veja quadro). A BR-040 aparece em segundo lugar, com 179 mortes contra 189 no ano anterior. Apesar de também ter diminuído os óbitos, no ano retrasado, a 040 ocupava a terceira posição, perdendo para a 116, conhecida como Rio/Bahia. Desta vez, a 116 ficou em terceiro, palco de 165 mortes. No ano passado, pela primeira vez, as BRs 040, 050 e 153 estiveram com toda sua extensão em Minas nas mãos da iniciativa privada, enquanto uma parte da 262, que vai de BH até Campo Florido, no Triângulo Mineiro, também passou o primeiro ano sob responsabilidade de uma concessionária.
Nesses casos, costuma ser mais fácil ver algumas medidas que melhoram a circulação e, consequentemente, aumentam a segurança, como serviços de manutenção mais ágeis e a pintura de sinalização, que antes era precária. O serviço mais aguardado, entretanto, que é a duplicação total das rodovias, é prometido para o fim de um contrato de cinco anos. Na BR-040 entre Brasília e Juiz de Fora, foram colocados 20 radares pela concessionária responsável, sendo 10 no Anel Rodoviário, trecho que não entra nas estatísticas da PRF, e 10 na parte da rodovia que está incluída nos dados. Três deles estão na região de Contagem, na Grande BH, onde as batidas são muito comuns. Em abril, os aparelhos vão completar um ano de instalação sem funcionamento, devido à burocracia entre a PRF e a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) para assinatura de um convênio. Mesmo assim, é possível ver muita gente diminuindo só com a colocação da estrutura, sem saber se realmente está fiscalizando.
Para o mestre em sociologia Eduardo Biavati, especialista em educação e segurança no trânsito, o fenômeno observado em Minas ocorreu em outros estados. Ele acredita que a desaceleração econômica teve impacto nas estradas. “Em 2015, tivemos um ano de redução da atividade econômica. Todo período recessivo impacta diretamente a quantidade de viagens. O fluxo menos intenso criou menos oportunidades de acidentes e impactou o resultado observado”, opina o especialista, que destaca especialmente a diminuição do transporte de cargas. “Nós sabemos que os caminhões se envolvem em mais de um terço das mortes”, acrescenta Biavati.
Mesmo com a diminuição, o professor da UFMG Ronaldo Guimarães Gouvêa, especialista em engenharia de transportes, ressalta que o número ainda é muito alto em comparação com outros países. Na engenharia de tráfego, ele explica que existe um índice que leva em conta as mortes para cada grupo de 10 mil veículos. Em países como Japão, Alemanha e EUA, esse índice varia entre dois e cinco óbitos. No Brasil, a variação fica entre 18 e 25, segundo Gouvêa. Ele também acredita que a crise econômica é o principal fator que reduziu as tragédias nas BRs. Porém, para que isso seja considerado tendência, é necessário repetição sistêmica, de pelo menos três anos. “Temos muito o que fazer, principalmente em educação de trânsito, já que o comportamento dos motoristas é um dos principais responsáveis pela carnificina nas estradas”, afirma. A PRF em Minas não se pronunciou sobre os números de 2015.