Na análise sobre a movimentação de lama e rejeitos que passou pela Barragem do Fundão e chegou à de Santarém, o deputado e presidente da comissão Agostinho Patrus Filho (PV), alertou para o risco de novos deslocamentos de rejeitos das barragens. "Outros milhões de metros cúbicos ainda estão depositados lá, também sob o risco iminente de um rompimento. Esse risco aumenta cada vez mais com o volume das chuvas, que tem sido muito expressivo nas últimas semanas" disse o parlamentar.
Ainda segundo o deputado, cerca de 24 milhões de metros cúbicos de lama ainda podem escorrer da Barragem de Fundão, o que pode ocasionar mais danos às outras duas estruturas, de Santarém e Germano. Questionado se o restante de lama pode escorrer, Patrus Filho confirmou que o risco é real mas que, pelo risco de chegar perto do local, "isso tudo é uma variável que a empresa não consegue vislumbrar", comentou. No dia 5 de novembro, com o rompimento da Barragem do Fundão, cerca de 34 milhões de metros cúbicos devastaram os locais por onde passaram, causando o maior desastre ambiental do país.
Em nota, a Samarco afirmou que as estruturas das barragens de Germano e Santarém permanecem estáveis e que são monitoradas 24 horas por dia, sete dias por semana. Conforme o texto, a movimentação de quarta-feira foi causada por causa das chuvas na região e que as defesas civis de Mariana e Barra Longa foram imediatamente informadas. Na contramão do discurso da mineradora, controlada pela Vale e BHP Billiton, o deputado classificou o momento como grave e disse que a Samarco passa por dificuldades agravadas com as chuvas e o terreno com erosão.
"Parte da lama que correu era também utilizada para sustentação do dique de Sela, que agora está descoberto, íngreme, sem nenhuma lama no seu pé", afirmou Patrus Filho. O parlamentar disse também que a situação gera mudanças no prognóstico de recuperação do dique e também no aumento de risco do seu rompimento. "Nós já conversamos com eles e pedimos percentuais de segurança de cada dique, para termos segurança do não colapso das estruturas existentes, pois essa sim podem causar um imenso dano caso se rompam", completou.
Para o relator da comissão, deputado Rogério Correia (PT), o deslocamento ocorrido na quarta-feira pode ter afetado a estrutura dos diques de Sela e Tulipa, pertencentes à Barragem do Fundão, e que seguram os rejeitos na Barragem de Germano, que é duas vezes maior que a do Fundão. Na avaliação do parlamentar, é possível que o índice de estabilidade de Germano tenha sido afetado, uma vez que o deslocamento aconteceu próximo aos diques. Na segunda-feira, a comissão estará em Bento Rodrigues para ouvir as populações atingidas e verificar os diques que estão sendo feitos abaixo da Barragem de Santarém, para contenção da lama.
Movimentações já eram esperadas
Em resposta, a Samarco informou que "as movimentações, como a que ocorreu na quarta-feira, já eram esperadas devido ao volume de massa remanescente na barragem de Fundão e a quantidade de chuva registrada neste período, muito superior à média histórica. Como referência, de outubro até o momento, já foram registrados 1228 mm de chuva na região; 647 mm em janeiro e, nas 24 horas anteriores ao ocorrido, 65mm."
A mineiradora informou ainda que construção dos diques de contenção de sedimentos abaixo da barragem de Santarém, iniciadas logo após o acidente, já contemplava este tipo de ocorrência. "Movimentações de lama como a ocorrida na quarta-feira não impactam a barragem principal de Germano, cuja estrutura está estável. Já em relação a Santarém, desde o acidente com a barragem de Fundão essa estrutura tem recebido obras de reforço e sua situação é de estabilidade", afirma.