Onde nos últimos dois anos se via o fundo seco do leito do lago de Vargem das Flores, em Betim, em que o pasto cresceu e barcos encalharam, agora motos aquáticas e lanchas aceleram. Em Serra Azul, na Barragem de Juatuba ,que foi o reservatório da Grande BH mais castigado pela seca, as águas já preenchem vales que funcionários da Copasa achavam só voltar a ser parte da lagoa com mais de dois anos de chuvas fortes. Já em Brumadinho, onde fica Rio Manso, o maior reservatório da região, cinco bombas flutuantes espalhadas pela represa mostram que a companhia de abastecimento se preparava para sugar do chamado volume morto, que é quando o espelho d’água se retrai tanto que foge ao alcance da captação instalada. As chuvas de janeiro – as mais vigorosas em quatro anos – nos três reservatórios que compõem o Sistema Paraopeba e abastecem mais de 30% da Grande BH trouxeram de novo opulência aos lagos exauridos por três anos de estiagem e reforçam a confiança da Copasa em atravessar a seca sem rodízios ou racionamentos. E a ajuda dos céus promete ser grande, já que há meteorologistas confiantes no retorno das longas estações chuvosas.
Só as precipitações deste mês mais que dobraram o volume do Sistema Paraopeba. O somatório dos três reservatórios chegou a apresentar em dezembro 21,3%, o pior nível histórico, mas um mês de chuvas foi suficiente para elevar esse patamar para os 43,1% registrados ontem pela Copasa. De acordo com o Inmet, choveu 370 milímetros entre 1º de janeiro e o último dia 28 na Grande BH. O volume é tão expressivo, que só perdeu para o mesmo período de 2011, que fechou com 375,8 milímetros.
Um incremento que especialistas consideram importante, mas que não permite ainda afirmar com certeza se será capaz de impedir grande abatimento da água reservada.
Antes mesmo de o mês acabar, as chuvas nos sistemas produtores de água já superavam a média histórica de 31 dias de janeiro. Até a sexta-feira, por exemplo, o Rio das Velhas registrava acumulado pluviométrico de 406,9 milímetros, número superior à média histórica do mês, de 302 (-34,7%), e oito vezes maior que os 50,1 milímetros acumulados no mesmo período do ano passado. Mas, para o presidente do Comitê da Sub-bacia Hidrográfica do Rio Paraopeba (CBH-Paraopeba), Denes Lott, as chuvas, por enquanto, serviram apenas para aliviar o papel da captação inaugurada pela Copasa no manancial, em 21 de dezembro, e que tem como função manter o fornecimento de água enquanto os reservatórios se recuperam.
LIMITES No entanto, pelo que o comitê tem avaliado com meteorologistas e especialistas, ainda não é possível determinar se o incremento das chuvas será suficiente para atravessar o período seco. “Não dá ainda para dizer com segurança se o volume que ganharmos com as chuvas vai ser suficiente. Temos tido contato com especialistas que preveem uma seca prolongada novamente, que iria além do normal e, em vez de se encerrar em setembro, se prolongaria até outubro”, disse.
Não são todos os meteorologistas que compactuam com essa ideia. Segundo o professor Ruibran dos Reis, do Climatempo, um bloqueio formado pelas altas temperaturas nas águas do Oceano Atlântico entre o Rio Grande do Sul e a África se foi, propiciando desde dezembro a chegada de massas de ar frio formadoras de chuva. “Teremos chuvas acima da média em fevereiro, a partir de meados do mês, e uma estação seca menor”, prevê.
A Copasa ainda trata com cautela a situação. “A quantidade de água existente nos reservatórios do Sistema Paraopeba ainda não é suficiente para o pleno abastecimento das cidades atendidas por ele”, informa a empresa por meio de nota. “No entanto, o risco de desabastecimento está afastado, pois a Copasa já opera com o bombeamento no Rio Paraopeba”, informou.
Duas faces de um reservatório
O barro trincado que antes era inundado por um lago de 8,9 quilômetros quadrados – três lagoas da Pampulha – chegou a estar tão seco que em certos pontos viram-se com nitidez as margens originais do Ribeirão Serra Azul, barrado em 1983 para formar o reservatório de Serra Azul, segundo maior em abastecimento na Grande BH. Por poucos metros, a água não escapou das aberturas da torre de captação, tornando impossível sugar o líquido sem o auxílio de outros métodos que precisariam beber do chamado volume morto.
Em 7 de janeiro, o EM fotografou a represa, então com um volume equivalente a 7,3% de sua capacidade. Depois das chuvas, já em 27 de janeiro, quando o volume chegou a 20,6% da capacidade, as alterações eram visíveis. Várias pontes rurais que tinham sido inundadas para formar o reservatório e ressurgiram com a seca agora voltam a ser envoltas pelo líquido límpido da represa que tem a melhor qualidade do Sistema Paraopeba. Ilhas e bancos de areia que despontavam de locais de acúmulo de água estão mais uma vez no fundo. O terreno trincado do leito exposto ao sol agora é riscado por rastros largos de enxurradas que aos poucos devolvem o volume perdido ao represamento que vinha até sendo poupado da captação rotineira.
O reservatório de Rio Manso foi o que mais se beneficiou com as chuvas, que injetaram 563,3 milímetros num período em que o normal seria uma média de 288,2 milímetros. Com isso, o maior reservatório do Sistema Paraopeba, em Brumadinho, e que chegou ao volume de 28,7% na seca, em dezembro, subiu para 52,6%, de acordo com o último boletim da Copasa. Para o presidente do Comitê da Sub-bacia Hidrográfica do Rio Paraopeba (CBH-Paraopeba), Denes Lott, os dois reservatórios não se recuperaram apenas esperando as chuvas e com a captação que a Copasa fez no fim do ano passado no Paraopeba. Ele lembra que as outorgas no entorno dos reservatórios chegaram a ser reduzidas depois de o Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam) ter declarado estado de escassez hídrica com restrição de uso das águas.
No Sistema Vargem das Flores, em Betim, de 20,4% em novembro, o represamento já apresenta mais de 48%.