Integrantes de cinco blocos de BH falam da diversidade do carnaval; veja a programação

Capital já vive clima de carnaval e milhares de pessoas querem cair na folia antes da abertura oficial. Integrantes de grupos reafirmam aspecto coletivo da festa

Márcia Maria Cruz
Participantes de cinco blocos de BH falam da experiência, desafios e alegrias de se fazer carnaval em BH e da importância de compartilhar espaços públicos - Foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A PRESS


De hoje até a quarta-feira de cinzas, os belo-horizontinos estarão “abandonados entre uma baiana, uma egípcia”, como tão bem descreveu Carlos Drummond de Andrade no poema Um homem e seu carnaval. Esbarrarão com alguém trajando brilho em rosa e amarelo, com azuis e suas penas de pavão, com os bronzeados à la Timbalada ou com as coloridas dançarinas de axé de raiz. Com ao menos 250 blocos desfilando pelas ruas da capital e 1,6 milhão de foliões, BH entra de vez no universo da fantasia. Hoje, a festa será aberta pelo Bloco Chama o Síndico, que arrasta multidão ao som de Tim Maia e Jorge Ben Jor. Fitas, cores e um caldeirão de ritmos musicais são o passaporte para essa dimensão momesca. Será possível ver Homens-Aranha nas padarias, Brancas de Neve pelas praças e Mulheres-Gato espalhadas pelos quatro cantos da cidade. E, mesmo com desafios na infraestrutura, apresentados pelo poder público, os blocos estão prontos para a folia.


"Difícil definir o carnaval (de BH) em uma coisa só", Di Souza, do Então, Brilha! - Foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A PRESS O Estado de Minas conversou com integrantes de cinco blocos que tiram milhares de foliões do chão. Laila Heringer, de 32 anos, do Tchanzinho Zona Norte; Rafael Gonçalves, de 30, do Pena de Pavão de Krishna; Peu Cardoso, de 28, do Baianas Ozadas; Di Souza, do Então, Brilha!; e Marcela Pieri, de 26, do Juventude Bronzeada, permitiram à reportagem acompanhar o ritual de transformação para cair na folia.
O encontro ocorreu na Rua Sapucaí, no Bairro Floresta, na Região Leste de BH. Para os jovens, que são alguns dos idealizadores dos blocos, o ritual de fantasiar-se é um compromisso com a cidade. É saber que muita gente de BH, e de alguns anos para cá do estado também, está de olho nos caminhos que eles apontam. Milhares brincarão o carnaval ao som do timbau, tambores e todos os instrumentos que eles tocam, mas todos fazem questão de reforçar o aspecto coletivo da festa, político e de ocupação do espaço público “Às vezes, as pessoas caem no equívoco de identificar a cara do carnaval como se fosse a aliança de quatro, cinco, 10 blocos. O carnaval é feito por mais de 250 blocos. O Brilha é mais um que está engajado na força do brilho e na missão de levar alegria, subjetividade e positividade para as pessoas. Difícil definir o carnaval em uma coisa só”, ressalta Di Souza.

"Momento diferente, harmônico e mais tranquilo", Rafael Gonçalves, do Pena de Pavão de Krishna - Foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A PressOs cinco dos mais conhecidos blocos de Belo Horizonte criaram liga informal para acompanhar as demandas da explosão do carnaval e superar problemas de infraestrutura comuns a todos. O primeiro ato em comum foi a organização de uma festa para arrecadar fundos. Agora, cotizarão o recurso para pagar o trio elétrico e sistema de sonorização, que serão compartilhados pelo Tchanzinho Zona Norte (sexta-feira), Então, Brilha! (sábado); Pena de Pavão de Krishna (domingo), Baianas Ozadas (segunda-feira), e Juventude Bronzeada (terça-feira). “Faremos uma festa maior. A gente usa o mesmo carro, o mesmo som, mas cada bloco tem sua identidade”, diz Rafael, do Pena de Pavão.

“O carnaval de Belo Horizonte é um momento de encantamento, que é promovido e vivenciado pelas pessoas. Momento de a gente se permitir usar a cidade para o nosso desfrute, para o nosso lazer”, define Laila, do Tchanzinho. Ela adianta que o bloco reafirma a tradição de dar vez à estética Zona Norte.
“Vamos trazer a baixa categoria, baixa gastronomia, tudo da região afastada do eixo Centro-Sul”, afirma. O bloco sai no Jaraguá.

No sábado é dia de acordar cedo, às 7h, para a concentração do Então, Brilha! na Rua Guaicurus. O bloco promete novidades. A bateria de 400 ritmistas contará com os reforços de naipe de vozes e de sopros. “Quem quiser pode cantar no Então, Brilha! Teremos vários microfones.Somos um bloco de axé music, mas nunca nos limitamos. Teremos música de desenho animado, trilha de filme, como Pulp Fiction, e Daniela Mercury. Quem quiser pode levar o trombone de metal, de plástico ou de vento, tanto faz”, sugere Di Souza.

TRANSCENDETAL Para quem vem na maratona do axé, o domingo será o momento para uma experiência transcendental. “É um momento bem distinto.Começa com um piquenique. Em três anos, fomos agraciados com os hare khrisnas.
Momento diferente. Tem um zelo, momento de respiro, harmônico e mais tranquilo”, antecipa Rafael. Para ele, o carnaval belo-horizontino se consolida como uma festa de encontros. “O carnaval é um encontro de muitas pessoas a fim de fazer as coisas acontecerem na cidade. Moro em Raposos, mas estou sempre presente”, completa.

"Podem esperar muita gente de turbante, saia e blusas brancas", Peu Cardoso, do Baianas Ozadas - Foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A PRESS Na segunda-feira, é dia de uma onda branca tomar a cidade. O Baianas Ozadas vem com suas saias, turbantes e colares. Este ano em homenagem aos Doces Bárbaros – Caetano Veloso, Gilberto Gil, Maria Bethânia e Gal Costa. A expectativa é que a bateria venha com pelo menos 500 ritmistas. “Podem esperar muita gente de turbante, saia e blusas brancas”, diz o músico Peu Cardoso. O bloco, que surgiu como uma ala em 2012, se tornou independente no ano seguinte e, de lá pra cá, ano a ano quebra o recorde de público.

No terceiro ano de folia, o Juventude Bronzeada homenageará a cantora Daniela Mercury. “No nosso carnaval, vamos propor questões que são caras de maneira lúdica, com muita cor, com muito axé”, disse Marcela Pieri. No primeiro ano, os jovens que pintam os corpos de branco com símbolos da Timbalada atraíram 500 foliões. No ano seguinte passou para 7 mil e, para este ano, esperam 15 mil adoradores do axé, que abusarão do suingue pelas ruas do Floresta na terça-feira de carnaval.

Polêmica na escolha dos jurados

A escolha dos jurados para o desfile das escolas de samba e blocos caricatos em Belo Horizonte gerou polêmica. Todos os jurados vêm do Rio de Janeiro. Os desfiles serão realizados na Avenida Afonso Pena, no Centro, nos dias 8 e 9. Na segunda, 10 blocos caricatos se apresentam e, na terça, será a vez de seis escolas de samba. “Vamos fazer um teste. Nos anos anteriores, eram jurados da cidade”, lembrou o presidente do bloco Estivadores do Havaí, Juolison Mangabeiras. Ele acredita que a experiência dos jurados poderá contribuir para melhor avaliação dos quesitos.

"Vamos propor questões que são caras de maneira lúdica", Marcela Pieri, do Juventude Bronzeada - Foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A PRESS Depois de um longo período sendo realizado na Via 240, o desfile das escolas de samba voltou ao Centro em 2014. “Depois que voltou à Avenida Afonso Pena, o carnaval está crescendo. Esperamos que haja um público ainda maior este ano”, diz Mangabeiras. O carnavalesco ressalta que as escolas e blocos caricatos, a cada ano, investem mais na qualidade dos adereços, alegorias e figurinos. A assessoria de imprensa da Belotur informou que a escolha dos jurados atendeu à reivindicação das escolas e blocos caricatos. (MMC)

AGENDA
Hoje
Chama o síndico

18h - Um poderoso trio-elétrico enriquecido com naipe de metais e bateria fazem o som de primeira do bloco que toca músicas do Tim Maia e Jorge Ben Jor. O bloco é um dos principais do carnaval da capital e está na vanguarda da festa.

Amanhã
RODA DE TIMBAU

17h - Formado por um coletivo de estudos de ritmistas participantes dos blocos do carnaval de rua de Belo Horizonte, interessados em aprofundar e difundir o conhecimento sobre o universo da música afro-baiana a partir do timbau. O bloco desponta como grande destaque da quinta-feira de pré-carnaval e é uma certeza de música criativa.

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