Uma campanha institucional da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), que questiona a quantidade de professores negros no ensino superior, ganhou adesão nas redes sociais em todo o Brasil. Idealizados pelo Departamento de Ações Afirmativas, banners com a pergunta “quantos professores negros você tem?” e a hashtag #nãoécoincidência, foram colocados em todos o câmpus da cidade na Zona da Mata. Na internet, muitos usuários responderam a pergunta, apresentando o retrospecto da vida escolar.
A campanha foi criada em novembro passado, mês da consciência negra. Os professores negros da instituição, com as respectivas informações do departamento em que atuam, foram fotografados para os cartazes. Algumas das peças publicitárias viralizaram depois que reproduzidas nas redes sociais. Um dos postes foi feito pelo estudante da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Max Ziller, que visitou o câmpus em Juiz de Fora. A foto foi postada na segunda feira e até ontem havia recebido 10.500 pessoas e foi compartilhada 930 vezes. “A campanha mostra que, apesar da Lei das Cotas, a universidade ainda tem muito o que caminhar. Nas cinco maiores universidade públicas do Brasil, o número de professores negros é pouco expressivo. Embora a maioria da população brasileira seja preta e parda, a universidade ainda é muito branca”, diz.
Um levantamento feito pelo Departamento de Ações Afirmativas da UFJF identificou que dos cerca de 1 mil professores na instituição apenas 20 são negros. Para realizar o mapeamento, foi pedido em cada departamento a identificação dos professores que se reconheciam como negro ou que eram reconhecidos como tal. Essa é a segunda campanha que problematiza a questão racial no universo acadêmica. Na primeira, os alunos tiraram fotos com frases com questões relacionados ao preconceito.
Um desses cartazes apresentado pela então estudante de comunicação Paula Duarte, de 25 anos, trazia a frase “quantos professores negros você teve?” Esse repertório de ação foi proposto por estudantes da Universidade de Havard, nos Estados Unidos, e no Brasil encampada pelos estudantes da UFJF e da Universidade de Brasília (UNB). Para ela, a universidade ter abraçado a campanha é um passo importante, mas a caminhada para se combater o racismo institucionalizado é longo. “O ingresso do negro na universidade pública ainda é muito recente. Campanhas como essas são importantes para desmitificar a ideia de democracia racial”, afirmou Paula.
O cartaz da campanha feito pelos estudantes foi retomado pela UFJF durante novembro, o mês de consciência negra. “A UFJF é a única universidade pública que reconhece que existe racismo no ambiente acadêmico”, pontua a diretora do Departamento de Ações Afirmativas, Carolina Bezerra. Para ela, a campanha evidencia o racismo estrutural da sociedade brasileira. “A campanha é importante para evidenciar que, no Brasil, vivemos relações baseadas no mito da democracia racial. Serve para desvelar o racismo institucionalizado.”