Aproveitar a festa durante o dia, acordar cedo para curtir os blocos da manhã, lembrar de intercalar garrafas de água entre os goles de cerveja, catuaba ou catuçaí – “a bebida do amor” –, seguir próximo da bateria para sentir o batuque pulsando e ter a programação na palma da mão (ou no celular) para mudar de bloco assim que a multidão incomodar ou a festa esfriar. Os foliões que acumulam experiência recente do renovado carnaval de Belo Horizonte dão dicas espertas para aproveitar os mais de 250 blocos, neste que promete ser o maior carnaval da história da capital mineira, com expectativa de 1,6 milhão de pessoas.
“Carnaval é uma coisa muito séria”, resume Bárbara Palhares, de 31 anos. Tão séria que Bárbara vai deixar seu food truck estacionado durante os dias da festa de Momo e se jogar na folia dos bloquinhos da capital. Ela investe em fantasias e compra novas todo ano, por isso, tem em casa um baú repleto de adereços. “No dia, abro, olho e escolho uma combinação”, explica.
Moradora do Bairro Itapoã, na Região da Pampulha, a festa dela começa amanhã, quando sai no Tchanzinho Zona Norte. “Vou vestida de Mulher Maravilha”, antecipa. A dica da foliã é ter bom senso e não queimar largada. “Tem que ir para casa para sobreviver no dia seguinte”, orienta Bárbara, que não recomenda virar a madrugada na rua. Ela toca caixa no Tchanzinho, que sai no início da noite e depois precisa chegar às 6h30 de sábado para tocar novamente no Então, Brilha!, que se concentra na Rua Guaicurus.
No sábado, ela planeja também ir ao Bloco Aki Cê Dança. No domingo, aos Unidos do Samba Queixinho e Alcova Libertina. Na segunda-feira, às Baianas Ozadas e Unidos do Barro Preto e, por fim, Juventude Bronzeada na terça-feira. “Para aguentar não pode esquecer de comer e beber muita água”, complementa a foliã.
“Posso beber a vontade, desde que esteja bem alimentada e tome muito água paralelamente”, explica a biomédica Bella Neves Almeida Clarck, de 30. Nascida em Sabará, na Grande BH, ela vive o carnaval intensamente desde criança, quando aprendeu a torcer e desfilar na Rancho das Flores. “Lá, o carnaval sempre foi uma coisa muito forte na família. A disputa nas escolas é tipo Cruzeiro e Atlético”, destaca. Porém, as raízes não foram tão fortes a ponto de fazer Bella abrir mão da folia na capital.
A biomédica toca xequerê em vários blocos. Começou ontem no Chama o Síndico e, hoje, vai ao estreante Roda de Timbau. “Na sexta-feira, descanso para acordar bem cedo e ir ao Então, Brilha.! Levanto às 5h para começar a maquiagem e a preparação”, detalha. Depois do Brilha, Bella planeja seguir para o Bloco da Praia da Estação.
Aliás, o Praia está na gênese do renascimento do carnaval da cidade. O movimento surgido há seis anos com a proposta de ocupar as ruas da cidade contribuiu para que os grupos pioneiros fossem às ruas. Entre esses blocos de raiz, estão os Filhos do Tcha-Tcha, na segunda-feira, e o Tico-Tico Serra Copo, no domingo, ambos na programação de Bella.
CONVOCAÇÃO NAS REDES A professora universitária Sílvia Michelle criou com amigos grupos em redes sociais para discutirem as estratégias, fantasias e o roteiro ideal. Um amigo chamou outro e a turma já tem mais de 200 pessoas. Porém, experiente na folia, Sílvia tem uma dica importante: “Se você está em grupo, não pare a cada passo falando pra esperar o resto dos amigos. Tem que seguir no ritmo do bloco. No fim, magicamente, vocês se reencontram”, ensina a professora.
Outras dicas de Sílvia são semelhantes à dos outros foliões. “O carnaval é uma cesta diurna e ficar entrando pela madrugada bebendo é coisa de amador”, recomenda. Ela destaca que o ideal é sempre tomar água entre as latas de cerveja. “Uma garrafa a cada três é uma boa média”, afirma. Caso isso não ocorra, o carnaval pode acabar antes das 14h. Outro conselho fundamental é garantir um café da manhã caprichado, ou “dos campeões”, nas palavras de Sílvia. “De resto, esteja disposto a ir aos bloquinhos novos e a se deslocar de um para outro rapidamente”, finaliza.