Blitzes da Lei Seca caem 70% em Belo Horizonte

Com nova diretriz, número de operações específicas contra o uso de álcool por motoristas despenca em relação a 2014

Guilherme Paranaiba
Campanha perde força na gestão atual, que considera iniciativa 'midiática' e afirma investir em ações gerais - Foto: Marcos Vieira/EM/D.A Press - 24/4/2015
As operações específicas de combate à mistura de bebidas alcoólicas e direção, representada pela campanha “Sou pela vida, dirijo sem bebida”, perderam força em Belo Horizonte. Em janeiro deste ano elas diminuíram 70% em relação ao mesmo mês de 2014, na gestão estadual anterior. Segundo o tenente-coronel Gláucio Porto Alves, novo comandante do Batalhão de Polícia de Trânsito (BPTran), no mês passado houve nove operações exclusivas para verificar o cumprimento da Lei Seca, com 1.147 veículos abordados. Em janeiro de 2014 foram pelo menos 31 operações, com ações em todos os dias, e 5.718 motoristas parados, conforme dados disponíveis no twitter da campanha e confirmados pela gestão da Polícia Militar na época. O atual comando da Secretaria de Estado de Defesa Social (Seds) sustenta que a estratégia mudou, e que vem conseguindo combater a embriaguez ao volante com operações rotineiras da PM, sem priorizar ações específicas da Lei Seca, consideradas “midiáticas” pela pasta. Em ações gerais do BPTran, que também inibem a combinação álcool e direção, a Seds diz que 5.141 veículos foram abordados em janeiro deste ano.

Nas abordagens durante ações gerais da polícia no mês passado, 39 pessoas foram flagradas alcoolizadas, em diferentes teores, e encaminhadas à Polícia Civil. Não há dados para recusas do teste do bafômetro no período. Em relação às 5.718 abordagens específicas da campanha “Sou pela vida” de janeiro de 2014, 91 pessoas foram flagradas alcoolizadas e conduzidas ao delegado de plantão.
Outras 36 foram levadas à delegacia por recusarem o bafômetro.

A Seds sustenta que nos primeiros 11 meses do governo Fernando Pimentel (janeiro a novembro de 2015) houve redução de 35% das mortes no trânsito de Belo Horizonte em comparação com o mesmo período de 2014. Já as batidas com pelo menos uma pessoa em estado grave ou inconsciente caíram 15,2%. “Esses resultados atestam que as ações do Sistema de Defesa Socia na prevenção de acidentes e repressão de ilícitos no trânsito, dos quais a embriaguez ao volante faz parte, estão na direção correta. Uma boa parte desse esforço é realizado pela PM diuturnamente, em abordagens que incluem a verificação da embriaguez ao volante”, afirma a pasta, em nota.

Ainda segundo a Seds, as blitzes integradas específicas para a Lei Seca foram lançadas “há alguns anos, com o intuito, aparentemente, de dar visibilidade midiática para a repressão da embriaguez ao volante”, e o próprio governo anterior abandonou essa estratégia, realizando apenas 17 operações do tipo em todo o último ano de sua gestão (2014). Porém, a informação é rebatida por fontes da PM que comandavam a corporação no governo anterior, embora tenham confirmado redução das operações ainda em 2014, a partir de junho, por decisão do então governador Alberto Pinto Coelho, para fortalecer o policiamento ostensivo em razão da realização da Copa do Mundo. Após o mundial, questões financeiras pesaram na manutenção do esquema integrado que se assemelhava ao modelo aplicado no Rio de Janeiro e considerado o melhor do país.

O tenente-coronel Gláucio Porto Alves, que chefia atualmente o BPTran, diz que as blitzes específicas para flagrarem motoristas alcoolizados também perderam força devido às outras atribuições do batalhão. “Houve uma série de demandas além dessa intervenção que é a Lei Seca. Nós também temos outras operações focadas no combate à criminalidade, nas quais há intervenção de trânsito. Então, de acordo com a necessidade operativa, temos que concentrar nossos esforços em outras intervenções”, afirma o militar. Porém, ele garante que a recomendação do comando atual da PM é no sentido de intensificar o uso do bafômetro nas ruas da cidade, mesmo que essa ação não signifique a volta das operações integradas, atual sinalização da secretaria que abriga as forças de segurança pública do estado. “Nossa ideia é que ela tenha toda a força do seu início. É uma atividade que é muito bem vista pela sociedade e provoca uma segurança objetiva para o cidadão”, diz o militar.

MENOS VISIBILIDADE O mestre em sociologia Eduardo Biavati, especialista em educação e segurança no trânsito, considera que a redução das operações específicas de cumprimento da Lei Seca também foi verificado em outras capitais do país e acaba sendo um reflexo de limitações financeiras, já que essas ações têm um custo alto de pessoal, equipamentos, viaturas, entre outros. Fato que ele lamenta, já que experiências bem sucedidas fora do Brasil normalmente estão amparadas em ostensividade para garantir mudança de comportamento.
“O que importa é a consolidação da percepção de que a operação está em todo lugar. Isso a gente só consegue sendo ostensivo, público, presente e duradouro. Esse é o elemento crucial para a mudança de comportamento. No Rio de Janeiro, por exemplo, há mais de seis anos as operações passaram a ser ostensivas e as pessoas têm a sensação que vão ser pegas se descumprirem a lei”, diz o especialista..