“É inadmissível afirmar que o ex-presidente da Samarco e os técnicos soubessem do risco iminente do rompimento e tenham ficado indiferentes a essa ameaça. Eles trabalhavam lá, iam à barragem todos os dias e é impensável que colocassem suas vidas em risco e deixassem que uma catástrofe dessa magnitude, com impacto arrasador sobre suas trajetórias profissionais, ocorresse”, afirmou o advogado Paulo Freitas.
Ele disse ainda que em nenhum momento Ricardo Vescovi e os funcionários indiciados pela PF receberam qualquer alerta sobre a ameaça de estouro da barragem, que se rompeu em 5 de novembro. “Não houve isso. Ninguém disse que havia risco de ruptura. Nunca foi feito um aviso específico de risco de rompimento da estrutura”, afirmou Freitas.
Os advogados questionam também o depoimento do consultor Joaquim Pimenta Ávila, contratado pela Samarco para fazer uma análise dos riscos da Barragem do Fundão, e que declarou à PF ter constatado, em setembro de 2014, problemas graves na estrutura do barramento. Maurício Campos disse que Pimenta Ávila não fez qualquer previsão sobre o rompimento total de Fundão.
“Se essa previsão tivesse sido feita, o consultor não teria pedido para levar uma equipe de técnicos de Moçambique para conhecer a mina da Samarco justamente na semana em que se rompeu, 5 de novembro.
LICENCIAMENTO Paulo Freitas e Maurício Campos acrescentaram que questões formais no processo de implantação e operação da barragem estão sendo usadas pela PF como se fossem causas do rompimento, afirmando que “eventuais falhas no licenciamento ou outras desconformidades no processo de implantação e gerenciamento da estrutura se transformaram em causas de algo imprevisível.”
Quanto ao fato de os piezômetros automatizados, equipamentos usados para medir a pressão da Barragem do Fundão, estarem desligados na semana em que ocorreu o rompimento, o que, segundo o inquérito da PF, demonstra que não havia monitoramento da represa de rejeitos, os advogados lembram que os aparelhos estavam passando por manutenção programada.
“Foi uma semana de feriado. Segunda-feira foi dia de finados. E os equipamentos foram desligados para a manutenção. A legislação determina que a leitura seja feita uma vez por mês, e a Samarco fazia muito mais leituras. A situação da represa não se alteraria em menos de um mês”, justificam os defensores.
"Nunca foi feito um aviso específico de risco de rompimento da estrutura" - Paulo Freitas, advogado .