Lagoinha, bairro histórico da boemia de Belo Horizonte. E na sexta-feira de carnaval, o bloco Cintura Fina saiu, pela primeira vez, nas ruas onde o samba e a malandragem fizeram história na capital. Era pouca gente, uns 80 animados foliões se aglomeraram na Praça do Peixe, mas a banda era fina. Batuque em cima e sopros bem arranjados desfizeram a ideia de improvisação de um bloco estreante.
A agremiação existiu entre 1947 e 1975, quando uma dissidência se voltou para ajudar a fundar a Banda Mole. “Estamos resgatando o carnaval aqui”, diz, feliz com a presença de forasteiros no bairro. “O Cintura Fina é um casamento que deu certo. Teve pouco tempo, mas tem a participação da comunidade”, comemora o veterano, que promete desfilar com 150 instrumentistas no ano que vem.
A bailarina e atriz transexual Cristal Lopes, defende a confraternização e a diversidade. “O Cintura Fina é para afirmar que cada um tem um gênero e que deve ser respeitado. Temos que lidar com a sexualidade e a diversidade numa boa, sem a ideia de pecado e a Lagoinha é um ótimo lugar para isso”, argumenta.
A banda era de um ecletismo absurdo. Tocava de Balão Mágico a Billy Jean, do Michael Jackson. Mas, estacionados em frente a uma padaria-lanchonete, a turba seguia partituras musicais estritamente. Encostado no portão, Afonso da Cruz, autônomo e morador do bairro, assistia da porta de casa o bloco passar com o filho. Disse que se lembra dos tios saírem vestidos de mulher no Leões da Lagoinha, descendo a Rua Itapecerica. E comemora o retorno do samba ao bairro. “É bom ver as pessoas juntas, é uma coisa que une a comunidade”, diz.
Rosângela dos Reis, moradora do complexo histórico há 48 anos e uma das idealizadoras do bloco ressalta a importância de chamar a atenção para o bairro, tão esquecido, mas tão essencial para a história da cidade. “É muito bom que as ruas sejam ocupadas aqui”, argumenta.
Tiago Macedo, idealizador do Cintura Fina, explica que o nome presta homenagem a um personagem do bairro. O Cintura era um malandro, como Tomba-Homem e da linhagem do carioca Madame Satã, velha guarda da cafetinagem e outras milongas mais. “Os moradores abraçaram a ideia do bloco, a associação do bairro e os Leões também”, fala, feliz, compartilhando com o repórter uma cerveja nos copos lagoinha. “A Lagoinha esteve no centro da vida da cidade e ficou marginalizada, ofuscada”, contextualiza. Ele diz que este primeiro desfile foi importante e que, no ano que vem, vai ser brilhar mais.