Bloco do eu sozinho - Amor que não cabe na caixinha de isopor

Foi com a revogação do Decreto 16.203 - que proibia, entre outras coisas, caixas de isopor em lugares públicos - que os foliões obtiveram sua primeira vitória, depois de uma ampla repercussão via redes sociais

Renan Damasceno
- Foto: Renan Damasceno/EM/D.A Press
Não tivesse o carnaval de Belo Horizonte ressurgido às custas de jovens preocupados com a democratização da festa e ocupação dos espaços públicos, estaríamos hoje nos preparando para nos espremer em cercadinhos, bebendo cerveja de uma mesma marca, todos vestidos em abadás com mais patrocinadores que time da Série D do Brasileiro. Foi batendo o pé, enquanto apuravam os tamborins, que muitos blocos se engajaram nos últimos meses para o principal desafio do Carnaval’2016 na capital mineira: manter a identidade, mesmo com o tamanho multiplicado.

Se tivéssemos que eleger uma data parar marcar o pontapé inicial da folia seria 19 de janeiro. Embora os ensaios, muito antes, já reunissem a cada concentração mais pessoas que jogo de Atlético e Cruzeiro no Mineiro, foi com a revogação do Decreto 16.203 – que proibia, entre outras coisas, caixas de isopor em lugares públicos – que os foliões obtiveram sua primeira vitória, depois de uma ampla repercussão via redes sociais. A prefeitura alegou que o objetivo não era atingir os hábitos de carnaval e, sim, nos arredores de estádio. Nas entrelinhas, ficou claro, em alto e bom som, que o grito dos blocos ajudou a demover o poder público da ideia.

Liberdade e carnaval são indissociáveis. Nas palavras do historiador Marcos Maia, em excelente artigo no Pensar de ontem (“Labirinto de memórias e esquecimentos”), “a busca desse espírito de liberdade é o que garante a revitalização dos carnavais e, hoje, quem cumpre esse papel é a maioria dos blocos de rua do recente carnaval belo-horizontino e de outras cidades”, afirma o autor, que intercede pela “continuidade de um carnaval que valorize a democratização da cidade e a gratuidade da festa, desafie e aja contra regras burocráticas”. No ponto!

Que o caráter libertário da festa continue nos permitindo homenagear Tim Maia e Jorge Ben Jor, misturar hare krishna com batuque do afoxé, axé old school e rock’n roll, jazz e samba. Que gastemos nosso tempo em marchinhas ácidas e irreverentes, em vez de músicas chicletes onomatopéicas.
Para quem há uma década mal sabia se alfaia era instrumento e se abe e gonguê era para ver ou para comer, os belo-horizontinos já provaram que entendem do riscado. Agora, é manter o compasso.

Sobe - Nos trilhos da Zona Norte

Na sexta-feira de Carnaval, destaque para o Tchanzinho Zona Norte, que tomou as ruas do Dona Clara, com repertório bem escolhido da música baiana dos anos 1990. A festa tomou conta das ruas e da linha de metrô, ocupada desde a Estação Central

Desce - Derrapada na raul soares

O confronto entre PM e integrantes do próprio Tchanzinho, ontem, no Bairro Primeiro de Maio, e do Bloco da Bicicletinha, na quinta-feira à noite, na Praça Sete, foi o ponto fora da curva desde a retomada do carnaval na capital. Que a partir de hoje a festa de Momo traga leveza aos foliões e aos cerca de 6,5 mil policiais escalados para trabalhar nos dias de folia. .