Ritmista por um dia

Repórter do EM relata como é tocar na bateria

Jornalista do EM aceita o desafio de desfilar no coração da bateria de uma escola e conta que, para pegar o ritmo, o jeito foi se virar para dançar e tocar ao mesmo tempo

Carolina Mansur
- Foto: Rodrigo Clemente/EM/D.A Press
Tocar um instrumento no carnaval de BH é uma experiência que indicarei para todos os foliões que conheço e para os que não conheço também. Essa é uma boa oportunidade para fazer novos amigos e aprender um pouco mais sobre coletividade. No desfile, a emoção é o sentimento que merece destaque. O corpo arrepia a todo momento, seja pela batida forte da caixa ou pela alegria de quem nos assiste. Minha estreia foi no Unidos do Samba Queixinho, escola de samba de rua, com sete anos de história, que neste carnaval percorreu um trecho da Avenida Otacílio Negrão de Lima, na Pampulha.

Antes de encarar o desafio, ouvi de alguns amigos que bater uma vareta de cinco pontas em um “pandeirinho” seria tarefa fácil, mas garanto que não é. Tem que ter ritmo. Para não errar, aprendi a marcar a levada da música com os pés. Tive que “me virar” para dançar e tocar ao mesmo tempo.
Acompanhar o diálogo do Gustavo Caetano e do Lauro Júnior, regentes da galera, foi outro desafio. O momento em que cada instrumento começa a tocar é explicado por eles de um jeito bem particular. “Você entra depois do tá-tá-tá-tum.” Com as mãos, eles fazem sinais que, mesmo depois de um mês de ensaios, ainda não entendi. A dica é sempre esperar, identificar a música e entrar tocando depois dos colegas.

Para fazer parte dessa bateria, não é preciso ser um percussionista profissional. Eu, por exemplo, não tenho nenhuma habilidade musical. Basta ter um instrumento, disposição para aprender e acompanhar os ensaios semanais, que começam já um mês depois do carnaval. Meu primeiro contato com o tamborim foi tímido e aconteceu “aos 45 minutos do segundo tempo”, um mês antes da folia. Minha entrada no grupo foi viabilizada pelo incansável Gustavo. Fui recebida pelos veteranos, que me acolheram muito bem e logo me ensinaram alguns truques para lidar com a falta de jeito. No início, não sabia nem segurar o instrumento.

No desfile, a rainha de bateria foi uma atração à parte. Teve até casamento simbólico de um integrante, com direito à Marcha Nupcial em ritmo de samba, claro! Quem abriu alas para o bloco passar foi Esmeralda, a Veraneio vermelha usada pelo Grupo Galpão nas apresentações de rua da peça Romeu e Julieta. E, confesso, ter um dos principais ícones da cultura popular do país entre nós foi um privilégio. Esmeralda, como o próprio Gustavo Caetano, fundador, gestor e produtor do Queixinho, sempre diz, representa a luta da rua, do teatro, a sobrevivência e resistência do setor cultural.
Ator e diretor do Galpão, Chico Pelúcio também fez parte da bateria. Além dele, gente de todas as idades e profissões tornam a bateria plural e bonita.

O repertório tem de tudo. São várias bossas: funk, rock, ijexá e música clássica. Boa parte coreografadas e que dão um brilho especial à bateria. Mais que tocar e dançar para acompanhar a turma, é preciso ter preparo físico. No meu primeiro ensaio, que durou três horas, saí bem cansada. Senti dores nos braços, que não param um minuto, nas costas e nas pernas. Mas a sensação final foi de êxtase total. Aprender a tocar um instrumento é compensador, além de uma boa válvula de escape para as tensões do dia a dia. Muita gente, inclusive, estava ali para isso.

Os bastidores do desfile envolvem a galera da bateria, amigos e a família dos integrantes, que fazem de tudo para empolgar os foliões no dia do desfile.
Tem quem decore o estandarte, distribua as camisas e organize a entrega de água para quem está tocando. No fim, a recompensa é ter uma plateia que faz o corpo vibrar com todos os instrumentos da bateria. Fica a sensação de ter proporcionado algumas horas de alegria para pessoas que eu não conheço e que também não faziam ideia de quem eu era no meio da multidão. Ser parte de uma bateria é, sem nenhuma dúvida, uma declaração de amor à cidade..