O sol nem havia terminado de raiar por trás da Serra do Curral quando os primeiros foliões começaram a ocupar, de turbantes rosas e rostos azuis, a pequena Praça Arlinda Bonsucesso, no limite entre Belo Horizonte e Sabará. Bocejos, olhos inchados, alongamentos contorcendo o pescoço e todas as artimanhas eram válidas para preparar corpo e espírito para um dos blocos mais aguardados do carnaval de Belo Horizonte: o Pena de Pavão de Krishna, que a cada ano muda de endereço, deixando foliões afoitos e curiosos até poucas horas antes da festa, que abre o domingo de carnaval na capital.
O esforço para acordar com o canto do galo – o meu despertador, por exemplo, não tocava tão cedo desde os tempos de ensino médio – vale o esforço. O Pena é um dos poucos blocos em que a preparação é tão ou mais importante que o desenrolar da folia. É nas duas horas que antecedem o famoso “oooooummm” da largada que o espírito de comunidade e união dá sentido à festa.
Logo no início, uma toalha foi estendida na grama no centro da praça. Bananas, melancias, mamão, castanhas, bolo integral, biscoito, sanduíches veganos, sucos de caixinha, nozes e alu patra (um bolinho de batata, açafrão e gengibre) eram dispostos e ofertados à medida que os foliões traziam, atendendo ao pedido dos organizadores.
O cuidado com a comida é um dos pilares do Hare Krishna, movimento vanguardista na discussão do vegetarianismo – o que não é, certamente, exceção durante a folia. Para os seguidores da doutrina, todo alimento deve ser ofertado a Krishna. Os permitidos são leite, frutas, legumes e grãos. Ao longo da festa, isopores de sanduíches naturais disputavam espaço com os ambulantes tradicionais. O Buda Burguer – “de grão-de-bico, tomate e alface”, explicou a vendedora –, e o Roots Native eram os mais disputados.
O banquete alimentava o corpo, enquanto um mantra cíclico – entoado por um grupo de hare krishnas, munidos de baixo acústico, harmônio, mridangan (instrumento de batuque) e manjira (uma espécie de minichimbais) – servia de combustível para a alma. Passava das 10h quando a Oração de São Francisco, precedida por um momento de inspiração e expiração, marcava o início do cortejo do bloco. Depois do silêncio, um violino tocou as primeiras notas da música-tema do bloco.
A cada ano, o Pena de Pavão de Krishna se consolida como o mais original, ecumênico e espiritual bloco do carnaval de BH – uma espécie de comunhão do sagrado e do profano essencial para encarar com mais leveza os 365 dias que antecedem o próximo desfile.
SOBE
Limpeza urbana
Quem passou pelas avenidas Brasil e Afonso Pena na noite de sábado pensou que seria impossível vê-las limpas antes da quarta-feira de Cinzas. Garrafas de água, cerveja, panfletos, confete e purpurina cobriam as vias. Na manhã de ontem, graças ao trabalho de garis durante a madrugada, as avenidas já estavam em perfeito estado. Uma sugestão para os próximos carnavais seria o uso de caçambas e latas de lixo maiores, já que as habituais não deram conta nem do início da festa.
DESCE
Vandalismo na madrugada
Não bastasse a falta de cuidado com a cidade por parte do público, ao deixar um rastro de lixo para trás, cenas de vandalismos também mancharam a festa. Na Avenida dos Andradas, vários banheiros químicos, que seriam utilizados pelo Alcova Libertina, foram revirados ao longo da madrugada e precisaram ser trocados às pressas.
O esforço para acordar com o canto do galo – o meu despertador, por exemplo, não tocava tão cedo desde os tempos de ensino médio – vale o esforço. O Pena é um dos poucos blocos em que a preparação é tão ou mais importante que o desenrolar da folia. É nas duas horas que antecedem o famoso “oooooummm” da largada que o espírito de comunidade e união dá sentido à festa.
Logo no início, uma toalha foi estendida na grama no centro da praça. Bananas, melancias, mamão, castanhas, bolo integral, biscoito, sanduíches veganos, sucos de caixinha, nozes e alu patra (um bolinho de batata, açafrão e gengibre) eram dispostos e ofertados à medida que os foliões traziam, atendendo ao pedido dos organizadores.
O cuidado com a comida é um dos pilares do Hare Krishna, movimento vanguardista na discussão do vegetarianismo – o que não é, certamente, exceção durante a folia. Para os seguidores da doutrina, todo alimento deve ser ofertado a Krishna. Os permitidos são leite, frutas, legumes e grãos. Ao longo da festa, isopores de sanduíches naturais disputavam espaço com os ambulantes tradicionais. O Buda Burguer – “de grão-de-bico, tomate e alface”, explicou a vendedora –, e o Roots Native eram os mais disputados.
O banquete alimentava o corpo, enquanto um mantra cíclico – entoado por um grupo de hare krishnas, munidos de baixo acústico, harmônio, mridangan (instrumento de batuque) e manjira (uma espécie de minichimbais) – servia de combustível para a alma. Passava das 10h quando a Oração de São Francisco, precedida por um momento de inspiração e expiração, marcava o início do cortejo do bloco. Depois do silêncio, um violino tocou as primeiras notas da música-tema do bloco.
A cada ano, o Pena de Pavão de Krishna se consolida como o mais original, ecumênico e espiritual bloco do carnaval de BH – uma espécie de comunhão do sagrado e do profano essencial para encarar com mais leveza os 365 dias que antecedem o próximo desfile.
SOBE
Limpeza urbana
Quem passou pelas avenidas Brasil e Afonso Pena na noite de sábado pensou que seria impossível vê-las limpas antes da quarta-feira de Cinzas. Garrafas de água, cerveja, panfletos, confete e purpurina cobriam as vias. Na manhã de ontem, graças ao trabalho de garis durante a madrugada, as avenidas já estavam em perfeito estado. Uma sugestão para os próximos carnavais seria o uso de caçambas e latas de lixo maiores, já que as habituais não deram conta nem do início da festa.
DESCE
Vandalismo na madrugada
Não bastasse a falta de cuidado com a cidade por parte do público, ao deixar um rastro de lixo para trás, cenas de vandalismos também mancharam a festa. Na Avenida dos Andradas, vários banheiros químicos, que seriam utilizados pelo Alcova Libertina, foram revirados ao longo da madrugada e precisaram ser trocados às pressas.