De shorts, batom laranja, adereço na cabeça e sorriso no rosto, a jovem Maryam Hossini, de 32 anos, fez algo que outras 1,6 milhão de pessoas fizeram neste carnaval: aproveitou o feriado para curtir a folia nas ruas de Belo Horizonte. Desfilou nos blocos Chama o Síndico e Angola Janga e está encantada com a festa que mudou a cara da capital mineira nesta época do ano. A história parece comum, mas está longe de ser mais uma. Este é o primeiro carnaval em que Maryam integra um desfile de bloco de carnaval depois de ter aterrissado em BH. A jovem é iraniana. Nasceu muçulmana e, com o marido Amyr Nasiri, também de 32, se refugiou no Brasil, depois de terem abandonado as regras do islamismo e se convertido ao cristianismo.
Perseguida no país do Oriente Médio, ela sente hoje a liberdade de andar com roupas mais leves e sem o véu na cabeça, obrigatório por lá para cobrir os cabelos em público. Essa fluidez que a vida ganhou no Brasil passou a ter ainda mais sentido para Maryam depois do carnaval e a jovem não tem dúvidas quando fala da folia. “Acho que as pessoas no Irã deveriam ter carnaval.
A história de Maryam e Amir no Brasil teve início há um ano e meio. No Irã, a jovem formada em marketing e o marido, engenheiro elétrico, já haviam perdido emprego por causa da mudança religiosa. Aqui, ele trabalha como chefe de cozinha e ela como cozinheira em restaurantes da Região Centro-Sul da capital. “Mas éramos segregados e mal-vistos pelos muçulmanos. Por isso, nos mudamos de lá.” Em busca de um país para se refugiarem, eles vieram para a Bahia. Moraram oito meses em Arraial D'Ajuda, e decidiram se mudar para BH. Até passou um carnaval em Vitória da Conquista, no Sudoeste do estado vizinho. Mas, mesmo em terras baianas, disse ter sido em BH que ela verdadeiramente curtiu e se encantou com o carnaval. “Para mim, a festa em BH foi melhor que na Bahia.