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Estado de Minas

Foliões de BH esticam carnaval e a promessa é de novos blocos no fim de semana

Foliões não desistem de aproveitar a festa em BH e fazem da quarta-feira de cinzas um dia a mais de carnaval nas ruas da capital


postado em 11/02/2016 06:00 / atualizado em 11/02/2016 07:59

Manjericão saiu ainda de madrugada e arrastou 2 mil foliões pelas ruas do Santa Tereza(foto: Edésio Ferreira/EM/DA Press)
Manjericão saiu ainda de madrugada e arrastou 2 mil foliões pelas ruas do Santa Tereza (foto: Edésio Ferreira/EM/DA Press)
Enquanto a quarta-feira de cinzas marca no calendário religioso o início da Quaresma e de um tempo de jejum e reflexão espiritual, muita gente ainda se rendeu ontem aos encantos da folia de carnaval. Antes de o sol raiar, os foliões do bloco do Manjericão estavam a postos para iniciar a festa, que terá prorrogação em BH nos próximos dias (veja programação). “Hoje (ontem) está mais para quarta-feira de brasas”, brincou o DJ e militante do movimento negro Du Pente, um dos 2 mil foliões que desfilaram pelas ruas de Santa Tereza, na Região Leste da capital. Por dois carnavais seguidos, o bloco mudou o desfile para outras regiões da cidade, mas, neste ano, retornou ao lar e saíram num horário inusitado: às 4h20. Também na Região Leste, o bloco I Wanna Love You tirou muita gente de casa pra se divertir ao som do reggae, na Praça do Grota, no Bairro Sagrada Família. A festa foi até a noite.


A empolgação, inclusive, foi uma das marcas do carnaval de BH. Muitos dos foliões que participaram do desfile do Manjericão também estiveram em muitos outros cortejos pela capital. E, apesar do horário, compareceram para dar prosseguimento à festa. De madrugada, eles chegaram à Rua Bernardo Monteiro, esquina com a Avenida do Contorno, de onde seguiram para o bairro onde o bloco foi fundado. “Queríamos ver o nascer do sol. Além disso, no trajeto que escolhemos, há muitas casas tombadas e ficamos de frente para a Serra do Curral”, pontuou a idealizadora do bloco, Janaína Macruz.

A bateria começou a tocar depois dos primeiros raios de sol. Ainda com pouca luz do dia, uma moradora da Rua Eurita foi agraciada ao abrir a janela. Um coral de vozes cantou Carinhoso, de Pixinguinha. “Foi o momento mais emocionante. A senhora ficou feliz de ouvir a canção que é da época dela”, afirmou a jornalista Naiara Rodrigues, que é coautora do livro Diário de bloco, que conta a história do renascimento da festa na perspectiva desses grupos. A bateria ainda tocou o hino do Então, Brilha!, que sai no sábado de carnaval na Rua Guaicurus, alegrando os foliões.

Ana Mel, com a filha, Olívia, e as amigas Laura e Isabel desfilaram ontem no I Wanna Love You:
Ana Mel, com a filha, Olívia, e as amigas Laura e Isabel desfilaram ontem no I Wanna Love You: "Queremos curtir todos os momentos", disse Ana (foto: Beto Novaes/EM/DA Press)

Janaína defendeu que o poder público seja menos proibitivo, lembrando a ação que desmobilizou os desfiles do Tchanzinho Zona Norte, quando os foliões chegaram ao metrô e foram impedidos de entrar na estação, e o bloco da Bicicletinha, parado pela polícia ao chegar à Praça Raul Soares. “O poder público tem que entender que a cidade está carnavalizando e ser menos proibitivo”, diz.  A PM informou, por meio de vídeo institucional, que foi chamada por moradores da Savassi e do entorno da Raul Soares para intervir em um movimento no qual ciclistas estavam perturbando o sossego e impedindo que pessoas transitassem. Segundo a corporação, o uso da força foi legítimo e necessário em virtude da reação das pessoas no local.  Por meio de nota, a CBTU esclareceu que integrantes do Bloco Tchanzinho da Zona Norte tentaram forçar a entrada na estação Primeiro de Maio e precisaram ser contidos pela segurança operacional da companhia e pela PM. Segundo o texto, para garantir a segurança, foi necessário realizar o controle de fluxo, mantendo a entrada controlada de pessoas no local.

A idealizadora lembrou também o cortejo do bloco Tico-Tico, que desfilou no Ribeiro de Abreu. “É sensacional que o carnaval explore a cidade. Chegamos até a uma praia do Córrego do Onça. Deu muita vontade de nadar, mas não tinha como, porque o rio está poluído”, lamentou. No cortejo do Manjericão, os foliões se refrescaram com a ajuda dos moradores que faziam chuveirões com mangueiras.

O engenheiro Alôncio Pietrolonga, de 30 anos, mora no Rio de Janeiro, mas preferiu curtir o carnaval de rua em BH. No dia anterior, foi ao bloco Pisa na Fulô e emendou com a folia no Manjericão, sem nenhuma parada para descanso. “O carnaval cresceu bastante aqui. Os blocos que a gente consegue aproveitar mais são os menores, mas, ainda assim, o carnaval continua muito bom. Com certeza, voltarei noutros anos.”

Muita gente se divertiu e trabalhou. Foi o caso da estudante de cinema Pabline Santana, de 23. Ontem, a jovem acordou cedo para vender bebidas no Manjericão e comemorou o resultado. “Estamos trabalhando desde sexta-feira. A gente trabalha, mas curte também.”

BOB MARLEY Mas, mesmo com o retorno ao trabalho, a partir do meio-dia de ontem, sendo obrigatório em muitos estabelecimentos, houve quem estendeu o feriado prolongado para curtir ao som do reggae do I Wanna Love You, que mescla o ritmo jamaicano com canções brasileiras e batidas de samba e afoxé.

A concentração do bloco começou por volta das 12h na praça ao lado da Rua Cabrobró. O grupo, que homenageia o ritmo das canções de Bob Marley, reuniu centenas de foliões no Bairro Sagrada Família. Por volta das 15h, eram aproximadamente 500 e a promessa era de estender a festa até a noite, quando eram esperadas 1,2 mil pessoas.

O grupo já se apresenta em BH há cinco anos. “É um bloco que sempre dialogou com o Manjericão, que sempre termina no I Wanna Love You”, explica o produtor cultural Gabriel Assad, de 31, um dos organizadores do segundo grupo. “O bloco nasceu junto com o novo conceito de carnaval de BH. Queremos levar uma mensagem de amor, de paz e também uma referência da música do Bob Marley”, disse Assad.

A pequena Olívia era pura alegria no colo da mãe, Ana Mel. Ao lado das amigas Laura Damasceno e Isabel Diniz, elas se divertiram na quarta-feira de cinzas. “Aproveitamos todos os dias e queremos curtir todos os momentos”, disse Ana.

Fôlego de folião!

Programação de blocos em BH nos próximos dias


» Sábado

Quem É Essa Aí, Papai?
Horário: 13h
Local: Praça da Liberdade, Funcionários

Bloco Aloprado
Horário: 14h
Local: a definir

Macacos Me Mordam
Horário: 14h
Local: Praça Paulo Siguad, Nova Suíça

» Domingo

Bloco da Capoeira
Horário: 9h30
Local: Praça Sete, Centro

Encontro dos Blocos Amigos
Horário: 12h
Local: a definir

Bloquim Dubem
Horário: 12h
Local: Rua Deputado Bernardino De Sena Figueiredo, 1.022 (Parque Marcos Mazzoni), Cidade Nova

Bloco Percussão Brasil
Horário: 13h
Local: Rua Aarão Reis, em frente à Serraria Souza Pinto, Centro

‘Nem tudo foram flores e brilho’


Laila Heringer
Tchanzinho da Zona Norte


“Foi lindo experimentar as ruas de Belô cheias, radiantes e fantasiadas. Tive a sensação de que os que ficaram, e os que vieram para curtir o nosso carnaval, se encantaram com a construção colaborativa e participativa desta manifestação cultural. Mas nem tudo foram flores e brilho. Diferentemente dos anos anteriores, observei mulheres sendo assediadas, beijos forçados, desrespeito com o pessoal da periferia e brigas. Espero que a turma entenda que essa onda é baixo-astral, não só no carnaval, mas no ano inteiro. E o poder público deixou a desejar mais uma vez. Faltaram ações efetivas da BHTrans com relação aos desvios de trânsito e alteração de itinerários de ônibus, sobraram ações desproporcionais e covardes da polícia com os foliões/moradores de rua e, infelizmente, a CBTU não se preparou como a cidade merecia para receber os foliões e os não foliões do Tchanzinho Zona Norte, na sexta-feira, véspera de carnaval. As lixeiras e os banheiros químicos ainda não foram suficientes! E questiono se já não passou da hora de a cidade investir em banheiros públicos gratuitos e lixeiras de dimensões decentes para nos atender o ano inteiro, em todas as regiões da cidade. O poder público tem um ano (!) para se preparar melhor para o carnaval de 2017 e evitar potencializar os erros que vem repetindo nos últimos anos”
(foto: Túlio Santos/EM/DA Press)
(foto: Túlio Santos/EM/DA Press)

 

‘Explosão de energia’

Pedro Campolina
Coco da Gente


“Ainda não consegui assimilar a explosão de energia que aconteceu ontem (terça-feira) de manhã no Bairro Santa Tereza! Foi muito gratificante ver que as cinco semanas de preparação e aprendizado valeram a pena. O bloco surgiu da vontade de incluir o coco no carnaval de Belô, por se tratar de uma manifestação cultural de resistência, originada do negro e do índio no Nordeste do país. Como nosso carnaval também é de resistência e ocupação das vias públicas, achamos que tem tudo a ver. Batizamos o bloco com o mesmo nome de nossa banda, Coco da Gente, pois seria impossível separar uma coisa da outra. Na primeira semana de janeiro, fizemos o primeiro ensaio do bloco sem saber o que nos esperaria, mas logo de cara já vimos que ia dar rock, ou melhor, coco. Daí em diante contamos com a entrega dos integrantes, cada um ajudando como pôde para fazer a coisa acontecer! E aconteceu, lindamente! Colorimos as ruas do Santa Tereza com a cultura nordestina ao som do coco pernambucano, alagoano, ciranda e folguedo de roda, contando com a presença de várias famílias, o que nos alegrou ainda mais. Agora seguiremos firmes com os ensaios e oficinas para que o bloco possa continuar se desenvolvendo. Interessados, juntem-se a nós, pois nosso coco é de todos, é da gente!”

 

‘Público mais diversificado’

Bruno Perdigão 
Filhos de Olorum


“Esse foi o segundo ano de desfile do bloco Filhos de Olorum, e o número de foliões cresceu significativamente. De positivo, vimos que nosso público está mais diversificado e muito participativo. Os foliões festejaram sem brigas e com uma energia inesgotável. De negativo, somente o fim! Nosso bloco é oriundo de um terreiro de umbanda situado no Bairro Santa Tereza. O bloco surgiu com intuito de divulgar a cultura afro-brasileira, por meio do axé advindo dos pontos cantados, dos atabaques, surdos e até de um instrumento inusitado que é a enxada. Cantamos muitos pontos com grande energia objetivando homenagear nossos orixás e guias espirituais, fortalecendo nossa ancestralidade e passando aos foliões muita alegria”.

(foto: Juarez Rodrigues/EM/DA Press)
(foto: Juarez Rodrigues/EM/DA Press)


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