Mariana – A primeira catedral de Minas e do interior do Brasil vai ser finalmente restaurada e, para marcar o início das obras, haverá missa solene no domingo, às 19h, celebrada pelo arcebispo dom Geraldo Lyrio Rocha, e concerto no órgão musical Arp Schnitger, doado à matriz no século 18 pelo rei de Portugal dom João V (1689-1750). Com mais de 300 anos de história, a Sé de Mariana, na Região Central, será o segundo monumento a receber recursos, no município, do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) das Cidades Históricas – o primeiro, com projeto em andamento, é a Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos (1752).
A partir de segunda-feira, a Sé ou Catedral Basílica de Nossa Senhora da Assunção ficará fechada para as celebrações e visitação pública e a expectativa é de que os serviços durem um ano, com reabertura em 14 de fevereiro de 2017, de acordo com informações do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Para deslanchar o projeto, o governo federal, via Ministério da Cultura, destinou mais de R$ 2 milhões, devendo as obras contemplar alvenaria, pisos, forros, telhado, estrutura, instalações hidrossanitárias e de drenagem, além de outras intervenções de conservação preventiva.
“Estamos muito felizes, pois a restauração é esperada há anos. A Sé de Mariana é 'a mãe de todas as catedrais mineiras', pois foi pioneira, diz o pároco da catedral basílica, padre Nédson Pereira de Assis. Tombada pelo Iphan desde 1939, a Sé é a igreja onde ocorrem todas as celebrações oficiais da Arquidiocese de Mariana, os tradicionais concertos de órgão nas sextas-feiras e domingos, batizados, missa semanais e, durante a semana, casamentos. Na cerimônia de abertura dos trabalhos, no domingo, aberto ao público, o concerto ficará a cargo da organista Elisa Freixo.
VOLUME Quem passa em frente à catedral pode ver tapumes instalados desde o mês passado para a execução das obras de restauração arquitetônica. De acordo com técnicos do Iphan, a obra consiste na segunda ação, dentre as 15 previstas, para Mariana com recursos do PAC das Cidades Históricas. Das oito cidades mineiras inscritas no programa do governo federal, Mariana, primeira vila, cidade e diocese de Minas, é a que garantiu o maior volume de recursos – total de R$ 67 milhões, com 15 ações aprovadas. A primeira começou ema 3 de janeiro deste ano, com início da restauração da igreja do Rosário dos Pretos e a implantação do Museu Vieira Servas.
Criado para desenvolver e proteger o patrimônio, o PAC das Cidades Históricas destina recursos à recuperação e revitalização das cidades, à restauração de monumentos e ao desenvolvimento econômico e social, bem como ao suporte às cadeias produtivas locais. Segundo o governo federal, ao todo, serão investidos cerca de R$ 1,6 bilhão em 44 cidades brasileiras, destinados a 425 obras de restauração.
HISTÓRIA A história da catedral começa em 1704, quando bispo do Rio de Janeiro, dom Frei Francisco de São Gerônimo, com jurisdição sobre Minas, cria a paróquia – nessa época, havia no arraial apenas as capelas de Nossa Senhora do Carmo e Nossa Senhora da Conceição. Três anos depois, ocorreu a instalação da matriz, transferida da Igreja do Rosário Velho (atual Capela de Santo Antônio) para a Capela de Nossa Senhora da Conceição, por oferecer mais espaço e estar no centro urbano que não parava de crescer.
Após a criação da Vila do Ribeirão do Carmo (nome primitivo de Mariana), em 8 de abril de 1711, a coroa portuguesa determinou que a câmara se empenhasse na construção da matriz. Em 14 de maio de 1714, os “notáveis” da Vila do Carmo se reuniram para garantir os recursos. A obra é confiada ao mestre Jacinto Barbosa Lopes, então vereador da câmara. Padre Nedson conta que, em arquivo do Legislativo, está um documento datado de 1716, convidando o mestre “a vir concluir as obras da matriz” comandadas pela Irmandade do Santíssimo Sacramento.
Entre 1716 e 1718, foram concluídas as obras da matriz, n o sistema construtivo de madeira e taipa. Em 1734, a igreja foi alvo de uma intervenção radical: a reedificação arrematada pelo pedreiro Antônio Coelho da Fonseca, sendo, nesse período, incluída no projeto a divisão em três naves e concluídas a fachada e as torres. Doze anos depois (1745) o rei de Portugal, dom João V elevou a vila do Ribeirão do Carmo à categoria de cidade, dando-lhe o nome de Mariana. Em 6 de dezembro daquele ano, pela bula Candor Lucis Aeternae (Resplendor da luz eterna) do papa Bento XIV, é criada a diocese de Mariana, a primeira do interior do país e primaz de Minas. Os retratos antigos ajudam a contar a história, com o registro, do início do século passado, quando ainda havia a Capela do Senhor dos Passos.
CRONOLOGIA
Primeira catedral de Minas
1704 – Criação da paróquia por dom Frei Francisco de São Gerônimo, bispo do Rio de Janeiro com jurisdição sobre Minas. Na época, havia as capelas de Nossa Senhora do Carmo e da Conceição
1707 – Instalação da matriz, transferida da Igreja do Rosário Velho (hoje Capela de Santo Antônio) para a Capela de Nossa Senhora da Conceição, que era mais ampla e no meio urbano
1711 –Criação da Vila do Carmo e determinação, pela coroa portuguesa, que a câmara se empenhe para a construção da nova matriz
1713 – Início da construção da matriz, hoje Catedral Basílica de Nossa Senhora da Assunção, mais conhecida como Catedral da Sé de Mariana
1745 – Em 6 de dezembro, pela bula Candor Lucis Aeternae, do papa Bento XIV, é criada a diocese de Mariana, a primeira do interior do país e primaz de Minas]
1753 – Chega a Mariana o órgão Arp Schnitger, presente da coroa portuguesa ao primeiro bispo de Mariana, dom Frei Manoel da Cruz
1906 – Em 1º de maio, a diocese é elevada à categoria de Arquidiocese e Sé metropolitana, pelo papa São Pio X, por meio da bula Sempiternam Humani Generis
1961 – Elevação da Catedral de Nossa Senhora da Assunção, pelo Vaticano, à categoria de Basílica Menor