As sentenças, que diferem conforme a atuação de cada um na quadrilha, são por corrupção, lavagem de dinheiro e contrabando. As penas também variam, com máxima de 12 anos e dois meses para os líderes e mínima de prestação de serviços à comunidade e pagamento de multa.
Safári - A atuação dos criminosos foi desbaratada pela Operação Safári, realizada em três etapas (Safári I, II e III) ao longo de 2009, quando foram executados mandados de busca e apreensão em diversas lojas e escritórios, com a prisão preventiva dos principais integrantes da quadrilha.
A organização contava com 116 lojas em Belo Horizonte, na Região Central e na Pampulha, e em Contagem, no Bairro Cidade Industrial, que eram divididas (25% para cada um) entre seus quatro líderes: Sebastião Lourenço, Juvenilton Máximo da Fonseca, Edson Cardoso da Costa e Carlos Eduardo Cadogan. Os quatro foram condenados por contrabando, lavagem de dinheiro e corrupção ativa e receberam, cada um, pena de 12 anos e 2 meses de prisão. Eles também perderam os bens acumulados em decorrência dos crimes.
Sebastião Lourenço, conhecido como Dom Lázaro, Tião ou simplesmente Dom, era, na época da investigação, o principal líder da organização criminosa, atuando em todas as vertentes. Juvenilton Máximo, conhecido por Nilton ou Ferrara, era o outro chefe da quadrilha, próximo de Sebastião, e estava mais vinculado ao controle financeiro do grupo, embora também acompanhasse a vertente operacional e a exploração das máquinas programáveis.
Logo abaixo dos líderes/proprietários, vinham os gerentes-gerais, pessoas de extrema confiança dos chefes, responsáveis pela operacionalidade diárias das lojas de jogos, que eram Thales Forest Zeferino e Leonardo Carmona, condenados por contrabando e corrupção ativa, com pena de 4 anos e 7 meses de prisão.
Em seguida, vinham os subgerentes, responsáveis por lojas específicas e pelo pagamento de vantagens aos policiais encarregadas da repressão nas áreas onde suas lojas estavam instaladas. Os subgerentes da organização eram Roberto dos Santos Damasceno e Gleidson Farias, também condenados por contrabando e corrupção ativa, com pena idêntica.
Além desses, a contadora Rosângela Sanguinete, que colaborou com as investigações, foi condenada por lavagem de dinheiro. Sua pena, de 3 anos e 6 meses, foi substituída por duas restritivas de direitos.
Corrupção - Segundo o MPF, a sentença registra que a "corrupção de policiais foi essencial no desenvolvimento das atividades da organização criminosa , especialmente para assegurar o exercício da atividade de exploração dos caça-níqueis ou jogo do bicho, ostensivamente, à luz do dia, em bares e estabelecimentos correlatos, em diversos pontos de Belo Horizonte e Região Metropolitana, sem repressão por parte das autoridades para tanto competentes".
Ainda de acordo com o MPF, os policiais exerciam duas funções principais: prestação de serviços de segurança para as lojas do grupo, protegendo-as inclusive da investida de outros policiais ou protegendo individualmente os membros da organização, e prestação de informações acerca das operações policiais a serem realizadas, em decorrência das quais as lojas fechavam as portas, suspendendo momentânea e providencialmente as atividades e impedindo a apreensão das máquinas eletrônicas programáveis.
As investigações apontaram a participação no esquema criminoso de 11 policiais, sendo nove civis e dois militares, com destaque para o inspetor de Polícia Civil Cláudio Luiz Antunes de Siqueira, atualmente aposentado. Ele era responsável por manter o elo entre os policiais cooptados e membros da quadrilha responsáveis pelo pagamento das respectivas vantagens indevidas. Na época dos fatos, estava lotado no grupo especial Puma e paralelamente era funcionário da empresa Embraforte, na qualidade de chefe de segurança.
Outros dois policiais então lotados no grupo Puma, Marcelo Hess e Marco Aurélio Silva, também foram condenados, além de Luciano Trajano dos Santos, Gutemberg da Cunha Ferraz, Waltercide Luiz de Oliveira, André Luiz Olegário, Leonardo Rodrigo da Silva e Aziz Salim Salomão Júnior.
Os dois policiais militares denunciados, Alexandre Sarruf e Elias Luiz dos Santos, serão julgados pelo Tribunal de Justiça Militar.
A sentença relata que, em determinados casos, os pagamentos chegaram a ser "feitos a uma delegacia, a batalhão ou coletividade de policiais e faziam parte das atribuições diárias dos gerentes dos estabelecimentos de jogos de azar".
Os policiais civis, no entanto, foram os que receberam menor pena: Cláudio Luiz Siqueira, André Luiz Olegário, Marcelo Hess, Gutemberg Ferraz, Marco Aurélio da Silva, Waltercide Oliveira, Leonardo Rodrigo da Silva, Aziz Salim Salomão Júnior e Luciano Trajano Campos foram condenados por corrupção passiva, recebendo pena, cada um, de 3 anos e 4 meses de reclusão, que foi substituída por prestação de serviços à comunidade e pagamento de prestação pecuniária. Eles também perderam o cargo público.
Contrabando - Todas as máquinas apreendidas pela Operação Safári eram do tipo caça-níqueis, com peças e acessórios de origem estrangeira, sem qualquer comprovação de entrada regular no país.
Para o juízo federal, os réus não só tinham pleno conhecimento acerca da procedência estrangeira das peças que usavam em suas máquinas, explorando-as comercialmente, como também "eram responsáveis pela montagem, programação e distribuição do referido maquinário. São inesgotáveis as ligações nas quais negociam peças, como noteiros, placas e outros elementos irregularmente importados; bem como orientam a produção e relocação das máquinas produzidas".
Foram encontrados diversos endereços que apresentavam características de oficinas de montagem e manutenção das máquinas caça-níqueis, com grande quantidade de peças avulsas, como placas de circuito integrado, monitores de vídeo, fontes de energia, noteiros e ferramentas.
Lavagem de dinheiro - Além da distribuição das lojas e das inúmeras movimentações financeiras realizadas entre eles, o vínculo entre as lideranças também ficou evidenciado pela constituição, em conjunto, de inúmeras empresas, em diversas áreas de atuação, desde o comércio de alimentos, roupas, remédios e veículos (Galiléia Distribuidora e Atacado de Produtos Alimentícios; Mil Distribuidora de Alimentos; Bar e Restaurante Niltidu; Hifi Comércio de Roupas; Drogaria Central; Máximo e Lourenço Comércio de Veículos); serviços de informática (GEMC Net Informática; Luar Games e Componentes Eletrônicos); transportes (Sturt Mylli Transportes e Translados); construção civil (SAT Construtora; JF Incorporações); publicidade (Barbosa e Lima Publicidade); eventos (Jefe Produtora de Eventos; Edson Cardoso Promoções e Eventos), até serviços de contabilidade (Multiação Cobrança Fomento Mercantil; Criar Soluções Cobranças; Prever e Proceder Serviços e Cobrança e Guardião Cobrança)..