Chovia muito e faltavam menos de 10 metros para Maria Ester Ribeiro, de 59 anos, chegar a um Instituto de Pesquisa onde tinha entrevista de emprego marcada para as 17h de ontem. Tudo indica, segundo o Corpo de Bombeiros, que ao atravessar a Rua Diorita, no Bairro Prado, Região Oeste de Belo Horizonte, ela tenha sido derrubada pela força da enxurrada e jogada debaixo de um carro estacionado. Maria Ester foi descoberta minutos depois. O Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) foi chamado, mas constatou que ela já estava sem vida, possivelmente vítima de afogamento. O funcionário da empresa para onde Maria Ester estava indo registrou, da varanda da casa, um vídeo do alagamento em que aparece o Mitsubishi Outlander sob o qual a vítima ficou presa, mas não sabe se naquele momento ela já estava debaixo do veículo.
Um dos sócios do Instituto de Pesquisa, o jornalista Maurício Lara, lamentou a morte de Maria Ester, com quem havia feito contato apenas por telefone e marcou a entrevista para as 17h de ontem. “Ela chegava para uma perspectiva de trabalho como pesquisadora. Lamentavelmente, não chegou a atravessar a rua”, disse o jornalista. Segundo Lara, toda vez que chove, a enxurrada cobre os passeios. “A força da água derruba motos estacionadas e elas batem nos carros”, disse.
O ourives Ricardo Dumont Braga, de 57, mora quase em frente ao local do acidente. “Foi um momento de muita tensão. As pessoas ficaram desesperadas, tentando salvar a mulher. A água sempre cobre a calçada, derruba motos, mas tragédia mesmo, essa foi a primeira. E olha que já tivemos volumes de água maiores. Eu estava em cima do passeio, andando com segurança, e não vi a mulher. Quando eu a percebi, ela já estava debaixo carro, quietinha, possivelmente já morta”, relatou o ourives.
O homem que filmou o Outlander conta que somente depois que a chuva parou um pouco é que ele escutou as pessoas gritando na rua que havia alguém debaixo do carro. “As pessoas estavam desesperadas, tentando levantar o carro. Pegaram um macaco de outro carro e tentavam suspender o veículo onde ela estava. A Polícia Militar apareceu rapidinho e isolou a área. A chuva já tinha passado e os PMs decidiram esperar o resgate para retirar a mulher”, conta a testemunha, que pediu para não ser identificada. Os bombeiros chegaram logo depois, segundo ele.
O capitão José Vital Duarte, do 1º Batalhão de Bombeiros Militares, conta que estava com sua equipe na Avenida Francisco Sá, no mesmo bairro, onde também havia inundação e a água entrava nas lojas. “Fomos informados pelo Centro de Operações dos Bombeiros que havia uma vítima debaixo de um veículo na Rua Diorita, supostamente afogada. Pedimos apoio do Samu e a equipe médica constatou o óbito no local”, relata o capitão. “A informação é de que ela foi derrubada pela força da água e jogada debaixo do carro ao tentar atravessar a rua. Mas, é uma suposição, pois ninguém presenciou o momento”, disse o capitão. A orientação dele é que em situações como essa a pessoa não atravesse a rua e aguarde a chuva passar em um local mais alto. Um genro de Maria Ester esteve no local do acidente. “Tinha apenas 20 minutos que ela havia conversado com minha esposa por telefone. Não consigo acreditar”, disse o genro aos policiais. O homem, que ficou sabendo da morte da sogra pelo noticiário de rádio e foi para o local, não quis falar com a imprensa.
SUSTO A Avenida Francisco Sá, também no Prado, se transformou em um verdadeiro rio e assustou comerciantes que convivem com o problema toda vez que chove muito forte. Na Rua Joaquim Murtinho, no Bairro Cidade Jardim, Região Centro-Sul, a água atingiu 1 metro de altura no muro das casas.